Capítulo I

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Kuro, esse era o nome do felino que invadiu meu quarto há algumas semanas. E durante essas semanas eu percebi comportamentos totalmente estranho que um gato normal provavelmente não faria. Além de seus comportamentos estranhos ele sumia, por um logo período de tempo, até mesmo um dia inteiro e depois voltava para meus braços. Eu o alimentava e dava muito carinho, gostava muito de ter Kuro por perto e ficava triste quando ele partia, queria saber o que tanto ele fazia quando estava longe de mim.

Já era segunda e eu tinha que me aprontar para ir à escola. Acordei bem cedo, o que não era de costume meu, para me arrumar. Hoje não era um dia qualquer, ia ter intervalo cultural de halloween e era meu aniversário também. Olhei para criado mudo ao lado de minha cama e me deparei com uma caixinha preta delicada, envolvida com um laço vermelho e antes que eu a pegasse, escutei o barulho do chuveiro da minha suíte, ligado.

Olhei para a janela e vi que ela estava aberta, então silenciosamente peguei uma barra de fazer flexões que meu pai havia deixado em meu quarto para colocar no portal da porta para mim depois, segui em direção ao banheiro e abri a porta. Tinha um garoto pelado no meu banheiro.

— Que porra está acontecendo aqui? — Continuei a segurar a barra com força, ele se virou para mim espantado. — Quem é você?

— Se acalma por favor. — Disse ele se aproximando a mim.

Eu dei um passo para atrás e escorreguei caindo agarrando no braço do intruso e o derrubando junto a mim e a barra que eu segurava com a outra mão. Em menos de segundos ele estava em cima de mim, nu, e em menos de segundos eu consegui observar o quão lindo aquele garoto era, com seus olhos cinzas que nem o do meu gato, seus traços eram tão perfeitos. Ele me encarava do mesmo jeito que o Kuro, tão profundo que parecia que já tínhamos nos conhecido a algum tempo.

— Sai de cima de mim, por favor. — Falei calma gemendo de dor. — Acho que quebrei meu braço no vazo.

— Ai meu Deus — Ele rapidamente se levantou e vestiu uma toalha, a minha toalha, e desligou o chuveiro também. — Deixe-me ver isso.

— Se você se aproximar mais eu grito. — Ameacei-o, tentando me levantar com uma dor tremenda no braço.

— Seu braço está torto, garota. Deixa eu pelo menos te ajudar a se levantar direito. — Ele se aproximou e segurou no meu direito a qual não havia nenhum ferimento aparente, e me ajudou me levantar daquele chão escorregadio que estava meu banheiro, e então me guiou até minha cama.

— Quem é você? — Perguntei novamente, calma, mesmo com um intruso em meu quarto. Acho que esse era meu estado de adrenalina, ao invés de ficar histérica, melancólica ou eufórica, eu estava calma.

— Bem, talvez eu tenha exagerado com o braço torto né, mas ele está bem inchado e roxo. Deve ter tido uma luxação. — Disse ele ignorando totalmente minha pergunta e pegando com muita delicadeza o meu braço, analisando cada detalhe dele.

— Você ainda não me disse quem é você. — Já comecei a me alterar novamente. Ele olhou para mim e deu uma risada abafada desviando o olhar.

— Kuro.

— Kuro?

— Sim, você me deu esse nome, não se lembra?

Eu virei o rosto para o outro lado pensativa hesitando olha-lo, quando decidi falar algo, ele havia desaparecido. A toalha que ele usava estava jogada no chão em minha frente, e meu gato estava entrando pela janela.

— Filha, aconteceu alguma coisa? Escutei um barulho estranho vindo daí. — Gritou minha mãe do andar de baixo.

— Não foi na de mais mãe. — Gritei de volta.

Estava tão confusa com o que tinha acabado de acontecer que decidi ignorar a situação. Talvez tivesse sido tudo fruto da minha imaginação. Me apressei a me arrumar o mais rápido possível, tomando o maior cuidado preciso para meu braço não doesse muito na hora de eu trocar de roupa. Eu iria vestida de Wandinha da família Addams, meus cabelos logos e minha pele clara permitia perfeitamente a liberação desse cosplay em mim. Após alguns minutos me arrumando, resolvi descer, mas antes peguei a caixinha preta do meu criado mudo e coloquei-a dentro de minha mochila para abrir depois.

— O que tinha sido aquele barulho? Estava falando com alguém? — Perguntou minha irmã, saindo de seu quarto ao mesmo tempo que eu, para irmos juntas a escola.

— A não foi nada, eu apenas... cai da cama.

— Idiota. — Ela riu debochando da minha cara. — Alias... — Ela me abraçou firme. — Feliz aniversário.

— Ai meu Deus, o que foi isso. — Ela se afastou e apontou para meu braço.

— Eu te disse, cai da cama, não foi nada. — Disse escondendo meu braço de sua visão. — Aquele intruso estava certo, era apenas uma luxação. — Pensei, conseguindo morrer o braço mesmo sentindo bastante dor.

Desci então com minha irmã para ir à escola. Apesar de não termos a mesma idade, estávamos na mesma turma, não pelo fato de Maya, minha irmã, ter reprovado, e sim por ela fazer aniversário depois de 30 de junho. O segundo ano não era um ano nada fácil e estávamos na reta final. Eu sempre fui, mas inteligente que Maya, mas em compensação eu não sou nada extrovertida em comparação a ela.

— Olha para vocês duas... duas gatinhas lindas — Minha mãe se aproximou a mim e me desejou feliz aniversário, me abraçando fortemente.

— Já está bom mãe, está me sufocando. — Brinquei com uma voz de sufocada.

Ao chegarmos na escola, Maya entrou na sala, e todos que se encontrava ali mirou seus olhares a ela, e dizendo o quanto ela estava bonita. Ela realmente era bonita, eu me orgulhava tanto dela. Sentei nas ultimas cadeiras onde gosto de ficar, isolada de muita gente. Como disse antes, eu não sou nada extrovertida, muito menos sociável. Mas possuía duas melhores amigas que estudava na mesma sala que eu, ambas faltaram aula hoje.

— Todos sentados — A professora havia entrado na sala e esperou todos ficarem em silencio e sentados. Era aula de matemática, eu odiava matemática. — Temos um aluno novo hoje. — Escutei vários cochichos ecoarem pela sala.

— Pode entrar. — Disse ela olhando para a porta.

Quando eu vi o aluno novo entrar fiquei em choque, não sabia como reagir aquilo, mas fiquei calma como sempre. Um leve flashback passou por minha cabeça sobre o que acontecera mais sedo e em segundo reconheci aquele rosto cheio de perfeições dos olhos cinzas. 

Meu gatinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora