Epílogo

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A primeira coisa que fez foi abrir a boca e soltar o grito mais temível que pode.

Os cabelos castanhos estavam grudados em seu corpo molhado de suor, as roupas também estavam ensopadas. Estava ofegante e dolorida, mas nunca esteve tão agradecida pela dor.

— Pensei que você nunca ia acordar, sua louca! — Manuela exibiu um sorriso choroso quando a encarou.

— O que aconteceu?

— O que aconteceu? O que aconteceu?! Eu é que pergunto o que diabos aconteceu! Quando iniciou o feitiço você estava toda "poder da trevas, me faça bela" e, de repente, caiu no chão e começou a se contorcer e espumar como se estivesse endemoniada. Te juro, eu quase saí correndo pra chamar um exorcista! — enquanto ouvia o lamento da colega, Ágata tentou limpar a baba que ainda restava em seu rosto. — Vem cá, você é você mesma ou estou diante da encarnação do Belzebu?

— Sou eu, muito cansada e dolorida, mas eu... — suspirou pesadamente ao responder. — Sabe, vamos embora daqui, acho que não vale a pena morrer por um feitiço de beleza...

— Bem, eu apoio totalmente a decisão, mas o que vamos fazer com essas raspas fedidas de cascos do bode?

Apesar de exausta, Ágata não pode deixar de rir.

— Deixe as raspas fedidas aqui e vamos logo, odeio lugares cheios de gente morta.

Manuela fechou o livro de feitiços e colocou na bolsa, junto com o athame e demais ingredientes. Achou estranha a afirmação da amiga sobre gente morta, mas não disse nada, pois era bem verdade que ainda estava com medo.

Elas saíram do cemitério sem cerimônias e andaram com tranquilidade pelo caminho que as levaria à casa de Ágata, um pouco longe dali.

De repente, Ágata parou de andar, estava boquiaberta encarando uma moça que andava do outro lado da rua. Uma jovem alta e voluptuosa, exibindo uma juba negra de cabelos maravilhosos e seus olhos cor de mel, com um sorriso maravilhoso. A imagem da jovem pareceu tremer e Manuela pensou em quão cansada estava.

— Aquela mulher!

— O que tem ela?

— É Lilith, a mulher da lápide que você me arranjou.

— Não, Ágata, isso é impossível, aquela lá tá morta — a incredulidade de Manuela irritou a bruxa. — Vem cá, você tá bem mesmo?

— É ela! — Ágata insistiu. — Ela é o espírito de uma meio-demônio com poderes telecinéticos que absorve energia das pessoas e de coisas ruins que acontecem ao redor.

— Ágata, você tá louca?

— Não. Eu sei. Eu vi.

Manuela suspirou e cobriu o rosto com as mãos, depois exibiu sua melhor cara de incrédula irônica e disse com uma vozinha ridícula:

— Garota?

— Que foi?

— Você ainda pergunta que foi? Primeiro você me arrasta até o cemitério para fazer um feitiço de beleza. Depois desmaia no meio da urucubaca toda e baba igual um cachorro louco. E enfim, como se já não bastasse, começa a ver pessoas mortas caminhando pelas ruas. Ai, Ágata. Você é muito sem noção mesmo.

Fim.

A Noite do Arrepio (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora