Capítulo 21

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Minhas costas doem. Mudo de posição sentindo a coberta de lã se agarrar ao meu corpo. 

O cheiro forte de madeira úmida me atinge. Posso ouvir o material rangendo sobre mim.

Me sento, a escuridão não permite que eu veja com clareza, mas o local é tão familiar que, imediatamente, sei onde estou. 

A casa da árvore se estende, gradativamente, ao meu redor. 

Respiro fundo. Não lembro como cheguei aqui, não lembro nem de ter saído de casa, para ser bem sincera. 

O frio castiga minha pele encoberta. 

Não teria vindo até aqui, não vestida assim, não com tudo que está acontecendo.

É um sonho, certo? Como um refugio, é onde me sinto em casa. 

Está tudo bem...

Repito em sussurros, forçando-me a acreditar mesmo na sentença. 

Levanto e puxo o cobertor comigo. O coloco sobre os ombros sentido a camada protetora aliviar o frio denso.

Ok, quanto mais rápido eu sair daqui, mais rápido eu acordo. 

Desço a escada rente ao tronco da árvore. Os  degraus são pequenos borrões de madeira mais escura. Foco em prestar atenção em cada um deles, não quero cair.

O silêncio da floresta é ensurdecedor. A escuridão me absorve, tornando-me parte dela. 

Sinto-me insignificante perto das árvores ameaçadoramente altas.

Respiro fundo sentindo o medo percorrer cada parte de mim. Onde eu estava com a cabeça quando resolvi vir até aqui?

Olho para os lado, forçando meu cérebro a lembrar a direção de casa. Mas nada vem a minha mente, não com esse breu.

As folhas úmidas agarram-se aos meus pés descalços. Correr não é uma opção, não sem conseguir ao menos ver o que está diante de mim.

Não consigo controlar minha respiração. O frio sobe por meus tornozelos, é congelante. Meu corpo treme, em uma tentativa falha, de me aquecer.

Vou ter uma hipotermia desse jeito.

- Amy - um grito me assusta. 

Céus não... 

Reconheço essa voz. 

- Amy, cadê você? - posso sentir meus olhos marejados. 

Não sinto mais nada além de desespero. Eu sei que estou sonhando e sei o que vai acontecer.

- Aqui  - falo entre soluços. Não consigo controlar as lágrimas.

Já sei o que irá acontecer. Já sei o que esperar. 

Repito para mim, sentindo a dor crescer em meu peito.

-  Por que está chorando? - meus joelhos falham quando sua imagem toma forma em minha frente.

- Por favor... Você não...- posso sentir a dor do luto se instalar na boca do meu estômago.  

- Eu não o que garota? - sua voz é mais gentil que nunca - Ei, calma... 

Fecho os olhos e passo as mãos no rosto, as lágrimas estão se congelando em minha pele.

Meus joelhos ardem com o impacto sobre as folhas úmidas. Minha cabeça doí, sinto tudo girar ao meu redor.

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