Capítulo 1

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6h30 e o despertador toca, Mariana adia por mais 10 minutos. A chuva a bater na janela não a deixa decidir se se levanta ou se permanece. 
Os 10 minutos se passaram.

-Mas vais demorar muito tempo a desligar isso!? - diz uma voz rouca ao lado dela. Era o seu marido Joseph, casados há cerca de 20 anos. Porque é que uma jovem de 20 anos se aceitou casar tão cedo? A vida apenas lhe trouxe estabilidade, mas nada de felicidade.

Mariana encontrava-se no auge da idade, prestes a fazer 40 anos, apenas com uma filha do seu lado, pois Joseph detestava crianças, e Lucy já foi um caso à parte. Não houve aborto porque a gravidez já foi descoberta muito tempo depois.

Mariana levantou-se. Foi até à casa-de-banho onde lavou a cara e olhou para o espelho, algumas rugas de expressão, mas os seus tratamentos sempre foram bem sucedidos e ninguém lhe dava a idade que tinha. 

-E daqui a 3 dias, os tão temidos 40... - pensou.

Enquanto estava na casa-de-banho a fazer os seus cuidados, do lado de fora ouvia-se uma discussão entre Lucy e Joseph, algo que já era habitual. 

Pelo que era percetível, Lucy queria ir a uma festa no final da semana, dia de aniversário da mãe, Joseph não autorizava.

O tom de voz aumentava ainda mais.

-Podes ir Lucy, quero-te em casa antes das 2h. - disse Mariana, saindo da casa-de-banho enquanto secava o cabelo.

-Mas tu estás doida? - gritou Joseph - É o dia do teu aniversário!

-Mas desde quando é que tu te importas? No ano passado não foste tu que faltaste?

Joseph ficou sem palavras, olhou para Mariana e virou costas.

-Obrigada mãe! - exclamou Lucy.

-Não tens de me agradecer, tens de me prometer juízo, cumprir o horário e não discutir desta forma com o teu pai.

Lucy apenas revirou os olhos.

-Prepara-te para te deixar no colégio! - Gritou Mariana.

Lucy estava num colégio particular, o melhor do país, era popular, mas não dava a mínima para ninguém, era nariz empinado e tinha as suas opiniões formadas. 

Mariana desceu para a cozinha, onde encontrou Joseph à espera que umas torradas se fizessem enquanto lia o jornal. 

O silêncio reinou naquela cozinha.

-Tens a mania de deixar a inútil da tua filha fazer o que ela quer! - Retorquiu Joseph.

-Inútil? Estás a dizer que a NOSSA filha é inútil?

-Ela nunca será ninguém na vida se continuar com estas saídas e a chegar bêbada a casa todos os dias!

Mariana não se aguentou, Joseph era dono de uma empresa de publicidade, que começou muito cedo a trabalhar, e achava que essa era a forma de conseguir sucesso. Uma mente antiquada num século tão modificado.

-NOSSA filha, lá por tu não quereres ter filhos não significa que a Luciana não seja tua, porque eu não a fiz sozinha! Ela tem é de se divertir! A juventude é assim mesmo! Se não concordas com isso, o problema está em ti e em mais ninguém, agora que eu não te ouça a dizer que a miúda é inútil, porque o único reles e estúpido que eu estou a ver és tu!

Joseph levantou aquele nariz gordo, franziu as sobrancelhas gordas e fez um olhar de morte para Mariana, olhar esse que já estava habituada. Levantou-se pegou nas torradas e saiu, sem dizer um simples "até logo".

Mariana olhou para a porta e viu Lucy, com os olhos cheios de lágrimas sentada nas escadas, com as mãos na cabeça... Ouviu tudo, tudo o que ninguém desejaria ouvir de um pai.

Dupla Identidade | Cassi LeiteOnde histórias criam vida. Descubra agora