𝟎𝟑𝟏;

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50 anos depois...

- Não. – Diana disse, enfim levantando seus olhos do livro e cravando-os em mim. – Não, não, não! Como assim ela volta pra Alemanha, vó? Como assim?

Por pior que possa parecer, seu olhar de desespero me causava algum divertimento. A verdade era que eu estivera esperando essa reação desde que a entregara meu pequeno livro.

- Mas vó, me diz, ela volta pra Inglaterra, não é?

Caminhei devagar, percebendo que minha saia preta estava mais justa do que eu pretendia. Sentei-me ao lado dela, na cama de solteiro do quarto de hóspedes, e acariciei seu rosto fino.

- Se ela não voltasse, você não estaria aqui.

Os olhos de Diana se arregalaram, e então, num átimo, ela se sentou na cama.

- Não brinca! – ela falou boquiaberta.

Sorri para ela, que continuava extremamente delicada em suas vestes pretas, e neguei com a cabeça. Eu não estava brincando.

- Essa é a história de como eu conheci e me apaixonei pelo seu avô. – falei. – Essa é a história sobre a qual jornalistas e fãs especulam tanto, a história que eles nunca conseguiram desvendar.

Diana ficou um tempo me encarando com a expressão ininteligível, com seus grandes olhos castanhos piscando mais depressa do que anteriormente. Eu segurei sua pequena mão, mas depois fui obrigada a virar meu rosto para o lado para dar uma tosse seca.

- Vovó... – ela piscou, batendo sua cortina de cílios umas nas outras. – Eu não imaginava.

- Ninguém imaginava.

Antes que ela pudesse começar a esboçar a fala que estava preparando, ouvimos batidas leves na porta do aposento. Viramos nosso tronco para olhar – minha neta, claro, com mais facilidade que eu – e nos deparamos com Harry, neto de Lamar.

Ele vestia sua blusa verde musgo, estampada com o nome de sua banda favorita. Seus jeans largos e desajeito me lembravam exatamente de como Lamar era quando tinha essa idade. Dezesseis anos.

- Ah. – ele disse, arregalando seus olhos ao me ver. – Bom dia, senhora Urrea.

- Bom dia, querido. – respondi.
Vi os olhos de Harry se desviarem para Diana, que tinha se sentado no colchão assim que percebera a presença do rapaz. Minha neta tentou esconder de mim suas bochechas rosadas, mas era inútil. No ramo do amor eu já tinha bastante experiência.

- Hm...Diana, eu vim te chamar pra dar uma volta no jardim. – então ele voltou a olhar pra mim. – Mas é claro que, se a senhora vir problema, eu não faço questão de atrapalhá-la...

- De forma alguma.

Diana me agradeceu, despedindo-se de mim com um carinhoso beijo na bochecha e correndo até o namorado.

Namorado.

Quem poderia imaginar que um dia minha neta namoraria o neto do meu molengo.

Levantei-me da cama andando vagarosamente até a janela do quarto, que tinha uma vista direta para o portão da casa. Por trás das grades, eu podia observar uma multidão de pessoas e repórteres. Respirei fundo, mudando o foco de meu pensamento.

Era incrível como as coisas tinham mudado. Era incrível que, tudo o que eu conhecia quando era jovem, tivesse se alterado tanto. Eu não poderia dizer que foi em pouco tempo. Cinquenta anos não era pouco tempo. Mas de qualquer forma, era como se tudo tivesse acontecido rápido demais. Era como se alguém tivesse corrido minha vida inteira diante dos meus olhos e eu não pudesse fazer nada para interferir.

ᴏ́ᴘᴇʀᴀ |•ɴᴏᴀʀᴛ ᴀᴅᴀᴘᴛᴀᴛɪᴏɴOnde histórias criam vida. Descubra agora