UM

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  Bom, certamente, se está aqui ainda, é porque deve me conhecer. Ou não. Caso não conheça, vou lhe contar do começo. Já aviso, você poderá passar sérios ataques de raiva comigo, por que não sou fácil de lidar.

Nasci em 19 de junho de 2014. Meu nome é Spencer. Quando tudo isso começou eu tinha por volta de 5 ou 6 anos, não me lembro de muita coisa.
Só me lembro de uma coisa bem nítida, e você deve estar se perguntando. "Porque a família dessa garota, tem nomes tão exóticos?". E eu posso lhe responder, meus pais vieram de alguma parte da América do Norte, preferem dar nomes americanos aos filhos. Eu posso ter crescido no Brasil, mas que me contaram...eu nasci no Texas? É, no Texas. Se não me engano. Meus pais não gostavam do jeito que o governo estava tomando seu rumo, e trouxemos nossa grandma, desculpe, vovó, para morar conosco.

Á esta altura já devem conhecer a minha família, e tudo sobre mim. Então, vamos logo parar de enrolação e começar essa merda.

No dia 16 de maio de 2032... SIM! um mês antes de eu completar dezoito anos. Eu entrei cuidadosamente em um estabelecimento. Como quem não quisesse nada, porém, eu morria de medo de sair de casa. Estava apavorada. Eu quase não saía,  contudo, neste dia, só havia eu que poderia ir até lá. Minha irmã Jade, haveria de ficar em casa cuidando de nosso irmão mais novo. Então lá fui eu.

Naquela manhã gelada, aquele frio... que enrubescia minhas bochechas. As folhas das árvores voando. Eu morava no Rio Grande do Sul, não era de se esperar outra coisa. Apavorada e sem saber o que fazer. (já com máscara). Entrei ao estabelecimento que havia uma placa em cima escrita em um letreiro grande e prata: SUPER MERCADO BELA-VISTA. Sinceramente,esses nomes...
Continuando, adentrei o lugar, e despejei álcool em gel às palmas de minhas mãos. Segui até o setor 7. CARNES DE TODOS OS TIPOS. Peço ao educado senhor que me atende:

— O senhor, por gentileza, poderia me dar vinte e cinco reais de carne de frango? — Perguntei ao belo homem de sorriso amarelo.
— Claro, senhorita. — Espero por um minuto até que ele me estende a mão com um pacote. — Aqui está! Tenha um bom dia!
— Obrigada! Ao senhor também!

(Será que era apenas isso de que eu precisava? Esqueci de fazer uma lista! Ando com uma diária todo dia por aí, para lá e para cá com ela. Como fui esquecer dela agora? EM UM MOMENTO TÃO IMPORTANTE?). É a segunda ou terceira vez no ano que saio de casa. De repete, estou andando de volta pelos corredores até o caixa. Homem alto, moreno, cerca de 35 anos. Nada simpático, não tanto quanto ao outro homem que me atendeu a pouco. Entrego a ele o pacote com o frango dentro e ele diz o já previsto:

— 25,50 senhorita.
— Deixe-me pegar aqui.

Não estou encontrando essa bosta em lugar algum. Será que eu deixei o dinheiro cair no caminho? Não havia sido eu, havia sido o destino.

— Aqui está!— entrego a ele sorridente.
— Faltam cinquenta centavos, senhorita.
— Não teria como eu ficar te devendo essa? É sério, eu não trouxe mais nada e meus irmãos estão me esper...— Antes de eu terminar, ele me interrompera.
— Aqui só aceitamos 8 ou 80 senhorita. — Ele diz com rispidez.

Estou prestes a falar umas boas para ele, quando, ele surge.
Um garoto, totalmente inesperado.
Ruivo, olhos cor de mel, faixa etária de 17 anos, com sardas e é apaixonante.

Ele se dirige ao caixa e diz:

— O dela é por minha conta, senhor. Já que faz tanta questão de cobrar cinquenta míseros centavos fique com o troco. — O cara-sem-nome joga uma nota de 50 reais ao caixa e se dirige para fora do "supermercado bela-vista".
Eu o acompanho e digo:

— Quanta coragem! Eu digo, para fazer isso. — Estou enrubescida, nunca vi um menino assim antes.
— Alguém tinha que falar né... já que não tomou a iniciativa. E aliás, eu nunca mais volto ali. — Ele diz estendendo a mão. — Prazer, Justin.
— Ora, se não volta mais ali talvez não seja tão corajoso assim, não é Justin? — caçoo dele. — Mas obrigada, mesmo. Por me defender, e por pagar por mim. Estou ocupada, tenho que olhar os meus irmãos, meus pais levaram vovó ao dentista... sabe como é, deve ter irmãos mais novos.
— Sim. Tenho James, de 11 anos. Ele fala demais, você deveria ver. Mas, tenho que ir andando. Foi um prazer...senhorita? — Ele me pergunta, enquanto eu esqueço meu nome. HAHA, MEU PRÓPRIO NOME. MEU PRÓPRIO NOME.

NÃO PODE SER. NÃO PODE SER. Não pode ser o que estou pensando. Demoro uns 5 segundos (que para mim pareceram anos) até dizer calmamente:

— Spencer. Cooper. — Estou sem fôlego. Espero que ele não pergunte mais nada.

— Bem, te vejo por aí. Senhorita Cooper. — Ele se despede com um sorriso completamente fofo.

Um sorriso fofo. Fofo. Fofo. Fofo. Fofo. Fofo. Um sorriso.
Enfim, é só um sorriso. Nada demais.
Me dirijo até em casa, guardo as compras. E cansada como estou. Cansada, muito cansada. Deito em minha cama e caio no sono de imediato.

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