SEIS

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Três dias se passaram. Eu estava desacordada, e quando abri os olhos eu estava em um hospital. A luz florescente estava fazendo meus olhos arderem. Tinha alguém sentado à poltrona, bem perto de minha cama. Tentei me esforçar para ver quem era, era Justin.
JUSTIN É UM IDIOTA.
Ele não sabe que pode ser pego aqui? O que iria falar aos meus pais? Que era um amigo? Um amigo do bairro cinco?
Mas, mesmo assim, eu me sentia feliz pelo jeito que ele arriscou tudo para vir até aqui me ver.

Eu sentia um gosto de sangue na boca, fui até o banheiro e me olhei no espelho. Eu tinha vários cortes em minha face. Não eram graves, mas eu tinha. Eu estava com uma roupa de paciente super fina, que me deixava aberta ao frio. Nem sequer me deram um casaco. Eu volto para minha cama, não há nada que eu possa fazer, de qualquer jeito, sem ser esperar Justin acordar.

Eu adormeci por mais algum tempo.

Quando acordei, Justin tinha os olhos fixados em mim.

— Ora, ora! Olá! A bela adormecida acordou.
— Esse é o jeito de cumprimentar sua amiga que estava em coma há...— Me dirijo à ele mais como uma pergunta.
— Três dias. Você está aqui há três dias. — Ele me responde, sério.
— Nossa! Para mim, só se passaram três minutos. Como você achou esse hospital? Onde estamos mesmo?
Faço muitas perguntas de uma vez só, mas espero que ele as responda.
— Spen, a questão não é essa agora. Você me deixou preocupado, você disse que iria se comportar e não iria fazer nada naquele jantar, e, de repente, escuto seus pais chegando em casa e subo ao porão para me esconder. Mas, ouvi eles brigando. Algo sobre você ter caído de um penhasco...
— Se eu tivesse caído de um penhasco, sequer eu estaria aqui. Eu caí de algo parecido com uma sacada, varanda, algo assim. — interrompo ele.
— Mesma coisa. Enfim, eu fugi. Sai pela janela, e vim até aqui te ver.
— Mas e meus pais? — Pergunto à ele.
— Relaxa. Eu entro pela janela, e só quando vejo que não tem médicos ou os seus pais aqui.
— Mas você dormiu!
— E você estava dormindo também. Sei que o médico passa de 5 em 5 horas para ver como você está. — Ele me explica.
— Quanto tempo ainda temos?
— Alguns minutos. Mas, ainda vai ouvir o que eu tenho a dizer. Você disse que ia se comportar, e aparece em um hospital, entende o conceito de se comportar, não entende?
— Aquela vaca me provocou. Eu não ia deixá-la me tratar do jeito que quisesse, e ela ainda falou do Elio...— Me interrompo.
— Que Ellio...? Quem é Ellio?
— Elliot. Ele se chama Elliot. E não vamos perder tempo com ele, é outro babaca, igual Alyssa.
— Me fale. Me fale, que não vai fazer essa guerra outra vez. Gerou até polícia. Me fala Spencer... — E ele me pede.
— Vou tentar, prometo. Por você. — Eu digo, com os olhos marejados.

Ele se deita junto à mim, na cama de hospital. QUE GAROTO! Até em um hospital ele veio me ver. Só pelo simples fato de se preocupar comigo. Ele é um ótimo amigo. As vezes me pergunto se ele já teve um relacionamento, mas isso não importa. Ele é meu amigo.
Ficamos alguns minutos deitados juntos, ele com a cabeça deitada em mim. Seus cabelos ruivos esfregados em meu rosto, até que ele interrompe.

— Spencer. — Ele me chama.
— Eu? — Respondo
— Tenho que te dizer uma coisa. Nosso tempo está acabando, então eu preciso dizer rápido.
— Então, fale Justin, está esperando o que?
— Não me chamo Justin.

Eu engoli em seco. O que ele disse?

— Como?
— Meu nome verdadeiro é Will. William Newt. Eu menti para você quando nos conhecemos. Para eu tentar parecer com uma pessoa do bairro um. E não tive coragem de te dizer a verdade depois. Pensei que, se você soubesse, que meu nome não é Justin, não iria querer mais falar comigo.

Eu começo a rir. Rir alto. Eu começo a ter uma crise enorme de risos.

— Merda Jus... Que merda, Will! O que te faz pensar, que eu ligo para o seu nome? Se você se chama Justin, Will, ou até Steve, eu iria ser sua amiga. — Estou gritando.
— Spencer, fale mais baixo. — Ele me pede, em silêncio.
— Não! — Aponto o dedo para ele. — Não me diga o tom que eu devo falar.
— Porque você está assim? É só um nome.
— Eu estou assim por você não ter confiado em mim, a ponto de dizer o seu verdadeiro nome! Enquanto eu confiava em você, confiei tudo em você. Minha vida, tudo! Você é meu melhor amigo. Ao que parece não sou a sua, certo? Já que nos conhecemos à menos de um mês. — Estou chorando, não acredito que ele não confiou em mim.
— Não, não diga isso, não é verdade. É só um nome, Spencer. Todo o resto que eu te disse é verdade. — Ele fala, ainda em silêncio.
— Mas você não me contou seu nome por medo de eu te entregar! Por isso não me disse seu verdadeiro nome, assim, se por algum acaso eu te entregasse, você iria fugir. E não se preocuparia com um nome falso.
— Não, não é isso! E você sabe que não é, porque eu te contei tudo sobre mim, meu irmão, minha família, até disse onde eu morava. Eu só não queria que você pensasse que sou um mentiroso. E você se acostumou com o nome "Justin". Então eu não tinha coragem de te dizer que eu estava mentindo!
— Então, porque você está me dizendo agora? — Questiono.

Ele fica em silêncio, por algum instante.
Vinte segundos.

— Eu tinha que contar, uma hora. E além disso... — Ele fala e eu interrompo.
— Ah! Mas é claro! Sempre tem um "mais". O que eu estava esperando?
— Deixe eu dizer. Não posso mais morar com você, sabe disso. Não é?

Eu paro.
Estou parada.
Paro tudo.
Encaro ele.
Estou séria.
E então, falo:

— Como é? Vai morar aonde?
— Eu não sei. Mas, você sabe que cincos não podem morar em bairros dois. E dois, não podem abrigá-los. Então, eu colocaria você e sua família em risco. Eu percebi isso, quando a polícia foi até sua casa. Para falar aos seus pais que você estava internada neste hospital. Eu estava em seu quarto e escutei eles subindo, sua mãe, foi pegar algumas roupas suas, inclusive estão na gaveta ao seu lado. O policial à acompanhou ao quarto, e deu uma olhada por lá. Não sei o que ele procurava, mas, certamente, não estava debaixo de cama. Porque eu me escondi lá, e ele não me viu. Mas, me dei conta, que se algum dia, algum vizinho seu me visse, alguma visita... ou seus pais, eu poderia te prejudicar, ou a sua família. Então, preciso ir embora. Não sei aonde vou, mas não quero te causar problemas.

Eu estou chorando. Só chorando, não estou fazendo em mais nada. Estou com a voz embargada, falo:

— Will, vamos dar um jeito. Por favor, vamos explicar para minha família. E, os vizinhos não vão saber que você mora em nossa casa. Não vá, por favor, Will. — Eu peço a ele chorando. — Não saia por aí, sem algum lugar para morar. Ainda nesse frio, iria dormir onde? Na rua?
— Vou dar um jeito. — Ele me responde.
— Não! Eu vou.
— Me desculpe, Spencer. Mas, essa decisão já está tomada.
— O que está fazendo?

Ele se dirige até o botão de emergência na minha cama, e aperta, em seguida, vira para mim e me fala:

— Adeus, Spencer.

Eu estou chorando, mas grito:

— WILL, NÃO! POR FAVOR, NÃO VAI.

Ele não me escuta. Pula a janela enquanto grito o nome dele e peço para ele não ir. Ele já nem conseguia me escutar mais. E eu, nem podia vê-lo.

Um minuto depois, meu quarto estava cheio de médicos. Viram que eu acordei, em seguida, mandaram avisar meus pais. E eu, continuei chorando por Will, que desaparecera. E agora, eu não sabia onde ele estava. Ele poderia estar em qualquer lugar, por aí, nas ruas do bairro cinco. Nesse frio, passando frio.

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⏰ Última atualização: Nov 12, 2020 ⏰

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