QUATRO

15 5 0
                                    

O sol estava se pondo, de repente já era noite. Justin e eu estávamos deitados em minha (nossa) cama, conversando. Estávamos deitados ao pé da cama. Nossos pés estavam nas paredes. Estava friozinho, um frio bom.
A luz do luar adentrava as persianas de meu quarto. Enquanto eu e Justin papeávamos sobre qualquer coisa. Eu o conhecia há 9 dias e ele já morava em minha casa. Era como ter um melhor amigo, de certa forma. Já tive um na infância. Meu vizinho Elliot, mas não acabou bem.

Justin tem uma vibe meio bad-boy. Mas é só a vibe mesmo. Eu sou bem mais durona que ele. Deve ser por eu ser mulher. As mulheres dominam! Inclusive esses dias, apareceu uma barata voadora em meu banheiro. Quase Justin foi descoberto por seus gritos, enquanto eu a matava com uma simples pancada com meus sapatos. Eu sempre deixo minha porta trancada, agora que Justin está aqui.

Não pense outra coisa. Ele é apenas meu amigo, quero ajudá-lo, deixo a porta trancada para ninguém ver que ele mora aqui agora, e isso é meio difícil. Mas quando se trata de nossos amigos, tentamos ajudá-los ao máximo.

Desço as escadas, até a cozinha. Mamãe me chamou para jantar. Eu sempre acabo de jantar mais cedo e dou um jeito de levar um pouco de comida a Justin. Ele está aqui há uns quatro dias e está sendo fácil.

Chego na cozinha, o aroma de carne... com molho italiano... meu prato favorito. Minha mãe quase não o faz. É bem complexo de preparar. É um jantar bem chique e caro. Temos dinheiro para comprar, mas mamãe odeia ter muito trabalho na cozinha, então ela geralmente faz algo de quinze minutos. Mas esse prato demora umas duas horas, o que levou ela a fazê-lo hoje. Uma coisa que eu descobri assim que todos se sentaram a mesa.

Comemos. Eu, como sempre, comi rápido para levar comida para Justin. Ele devia estar morrendo de fome. Mas antes de eu me levantar, mamãe disse:

— Spencer, querida. Acho melhor te contarmos agora, tentamos adiar. Mas não temos mais tempo. — O suspense me deixa com um leve medo.

Eu me arrepio. Será que ela sabe de Justin? E papai? Vovó? Meus irmãos?

— Mamãe, o que é? Está me deixando com medo.
— O seu pai... — Ela começou a dizer. Ela sempre apela para o papai. — Ele recebeu uma proposta. Uma melhora no cargo dele no emprego.
— Nossa! Eu fico muito feliz! Parabéns papai. — Eu sorrio para ele e ele sorri de volta. — Mas porque você falou como se fosse uma coisa ruim?
— Por que, querida. Para ele receber a proposta ele precisa assinar os papéis, e o chefe dele... nos chamou para fazermos todos isso em um jantar, na casa dele.

Eu paralisei. Eu sabia quem era o chefe dele. E melhor, eu sabia quem era a filha dele. Serena, uma vaca. Era minha melhor amiga, mas com os tempos nos distanciamos. Ela virou uma vaca. Já discutimos várias vezes. Eu não posso ir até a casa dela e pedir que ela convença o pai a dar mais dinheiro para o meu. Mas eu não poderia dizer isso para meus pais.

— Sei que tem problemas com a filha dele. — Continua mamãe. — Mas, por favor, pelo bem da nossa família. Poderia controlar a sua... suas brigas com ela. Seu pai precisa desse cargo. — Ela me pede. Eu hesito, mas acabo cedendo.
— É claro mãe, afinal, nossos problemas já foram resolvidos. — Ela sorri para mim, e eu tento fazer a mesma coisa. Mas não consigo dar um sorriso falso.

Naquela noite, subi logo com o jantar de Justin. Bati a porta, de tanta raiva.

— Nossa, o que aconteceu com você? — Ele me pergunta preocupado.
— Tome. Coma. — Eu começo chorar.

Estou derrubando lágrimas de raiva, ele começa a comer. Mas ao mesmo tempo, me olha preocupado.

— Spencer. Você é minha melhor amiga. Quero saber, porque está chorando?
— Esquece. Amanhã vou ter que encarar aquela garota de qualquer jeito. Depois de tudo que eu fiz pela nossa amizade, ela estragou tudo.
— Quem? — Ele pergunta.
— Alyssa Albuquerque. Ela é o meu problema.

Deitei minha cabeça no colo de Justin, e ele acariciava meus cabelos. Até eu adormecer.

Acordei no dia seguinte. Estava deitada em minha cama, coberta. E Justin estava no chão, dormindo ainda. A porta estava trancada.
O dia todo foi entediante. Exceto quando estava com Justin. Ele era meu amigo, me fazia rir. Eu o amava. Mas nunca disse para ele, ele vive me irritando e eu não poderia dar esse gostinho para ele.
Ficamos deitados na cama, conversando, até que deu a hora de eu me arrumar para o jantar. Coloquei um vestido vermelho, simples. Passei uma maquiagem básica. E um batom. Batom vermelho, vermelhinho claro. Arrumei meus cabelos, e Justin colocou um colar em mim. Estava frio, então peguei um casaco (não que eu fosse usar) mas peguei. Coloquei um salto alto, preto.

— E aí traste, como estou? — Eu amava irritar ele (de brincadeira) mas ele fazia o mesmo.
— Horrível. Está parecendo uma ogra.
— Você não estaria melhor em um vestido desses.
— Ah! Eu estaria sim.
— Quando eu voltar você veste então, agora preciso ir para a guerra. Como eu queria que você estivesse lá, para me dar apoio.
— Ainda bem que eu não preciso ir. — Ele ri de mim. Dou um soco no ombro dele.
— Qual é?

Rimos juntos. Eu me despeço dele, e desço as escadas. Minha família toda está pronta. Todos vão.
Alyssa tem seu pai, Heitor Albuquerque. Sua mãe, Petúnia Albuquerque. E seu irmão mais velho, Henry Albuquerque: o gótico. Ele não iria jantar conosco, ele não se dá bem com...sabe, pessoas. Fica o tempo todo no quarto, não aparece para dar um "olá". Para mim não faz diferença, um a menos.

— Todos prontos? — Papai pergunta.
— Pronta para a guerra. — Respondo.
— Spencer! — Parece que mamãe não gostou da piada.
— É brincadeira, mãe. Não farei nada.
— Obrigada. — Ela diz e saímos.

Eu não previa isso, mas aqui fora está muito frio! Tipo muito mesmo, aqui geralmente começa a fazer frio em junho, e ainda estamos em maio. Mas a sensação térmica é de 2 graus abaixo de zero. Estou congelando, então coloco meu casaco, e entro no carro. Partimos para a guerra em meio as sombras das árvores e a luz da lua.

Não toque! Onde histórias criam vida. Descubra agora