Capítulo 6

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I wanna drive you

Wild, wild, wild

I wanna love you

For miles and miles

Oh, we can go slow, we don't need to rush

I'll take the wheel, make you feel every touch

I wanna drive you

Wild, wild, wild

Yeah, I wanna drive you

Wild, wild, wild


O abuso e a chantagem emocional aconteciam de formas curiosas, Valentina pensou enquanto cruzava as portas de sua casa. A manipulação emocional é como se envolver em uma teia de aranha, perigosa. Começa muito suave; você sente como se estivesse grudada em seu corpo, mas raramente consegue ver exatamente onde está. É como tatear no escuro para se livrar. Ou então, ela pode grudar em lugares que não se sente.

Não há limites para a dor que o abuso causa, de forma geral. E uma vez envolvida pela teia, é muito difícil conseguir desgrudar. Se a dor vier de quem é mais próximo então... Valentina suspirou. Envolvida em uma rede de frustração e decepção que é como mergulhar em uma piscina de dor. Tudo o que se consegue ver é sangue.

E parece que se afunda mais e mais a cada instante.

Afastando—se da superfície, até ficar tão acostumada com o fundo que desiste de procurar o céu.

Valentina, como toda vitima de abuso, demorou a perceber que seu âmbito familiar era abusivo; arriscava—se a dizer que havia fechado os olhos por tempo demais. Até que simplesmente explodiu, fugindo para Virgínia e começando a viver de verdade. O abuso era tão sutil que tornava—se rotineiro. E agora, diante dele, e de toda a situação com seu pai, era claro como água. Ela reconhecia os sinais.

Então porque não conseguia se libertar de uma vez?

Talvez o medo da mensagem que a chantagem emocional de seu pai transmitia "faça como eu quero, ou sofra as consequências"; Valentina nunca havia percebido a gravidade por trás da sensação que seu pai lhe dava... Até sentir que ele ameaçava Juliana. E como a loira já sabia, era óbvio que o chantagista em questão estava se aproveitando do medo, responsabilidade e até culpa que Valentina sentia para ceder. O pavor do que poderia acontecer com a mulher que amava... Era como estar em um precipício emocional. E Juliana não estava lhe esperando no mar.

Era uma constante ameaça que a deixava imersa em uma instabilidade e medo, fazendo com que Valentina estivesse andando em uma corda bamba. Pensando racionalmente, enquanto encarava o horizonte, ela sempre soube que seu pai era desse jeito. E por consequência, sua mãe tornava—se igual refém.

E assim... O ambiente familiar era horrível.

O chantagista havia colocado um preço alto na dinâmica do relacionamento, e Valentina cedia por ceder; não era como se tivesse a menor noção de que era chantageada por seu pai. Mas fora a vida inteira. E saber disso... Perceber. Era quase libertador.

Mas porque havia demorado tanto para ver?

Talvez por que conhecera uma felicidade absurda com Juliana.

E antes disso, não tinha tanta noção. Afinal, no começo de qualquer relacionamento abusivo, começamos a ceder com as coisas mais irrelevantes, tão irrelevantes que não percebemos; é como descer suavemente uma ladeira, você faz sem esforço... Mas precisa subir em algum momento. E aí a dedicação começa. A grande questão é o que o abusador é levado a crer que tem direito às renuncias e sacrifícios que o outro faz para subir a ladeira. Até o ponto que o abusado não sabe por que está andando. É apenas automático.

WILD | Juliantina | SHORT FICOnde histórias criam vida. Descubra agora