WILD | Juliantina | SHORT FIC

Capítulo 1

Virginia, Verão de 1984

"...I just bought a new car

One where the top goes down

So we can see the stars

I wanna take you so far

Out past the saturn rings

And into my heart..."

Valentina Carvajal adorava dirigir. Em alta velocidade, então, era melhor ainda; a capota recolhida de seu conversível permitia que o vento lambesse seus cabelos, e tudo o que ela precisava era de um pouco de caos e adrenalina para esquecer um pouco do que realmente precisava fazer. Enquanto pisava no acelerador, sem a força que precisamente queria colocar, a música explodia nas caixas de som e ela cantava junto, porque não havia outra opção, é claro.

Havia passado pelo aeroporto de Dulles, em Washington, Virgínia quando batera o nascer do sol, e agora ela sabia que faltava pouco até chegar na Baía de Cheseapeake, se estivesse seguindo o mapa de forma correta, claro. Não era a maior expertise em mapas e direções de forma geral. Um dos motivos pelos quais abandonara algumas matérias na época da formação superior.

Quando chegou à ponte que cruzava a Baía, o sol brilhava no céu azulado, cintilando sobre a água e fazendo resplandecer os navios que estavam preparados para... O que quer que fosse que Valentina desconhecia. Apesar de não ser nada familiarizada com o local, ela sabia que haviam absurdas belezas a serem exploradas. E gostou do fato de estar quase longe o suficiente de Nova Iorque e ainda assim... Ninguém jamais conseguiria encontrá—lá.

Era só isso o que precisava.

Uma semana para tomar sua real decisão quanto ao casamento com Simon. Se fosse para ser totalmente sincera, sua decisão havia sido tomada e nada mudaria suas ideias, então ela poderia dizer que estava tirando uma semana para decidir como contar a seus pais que não iria se casar com o noivo depois de quase seis anos de noivado.

Os motivos eram óbvios em sua cabeça e seu coração. Não era apaixonada pelo homem, tampouco o amava, e menos ainda tinha o que mais prezava em uma relação: fidelidade. Sem esses três pontos principais, qualquer relação estava fadada ao fracasso. E a sua relação com Simon era um fracasso do começo ao... Fim. Ou talvez nunca houvesse tido um começo de fato, ela não saberia mais dizer àquele ponto. Só sabia que precisava se livrar de tudo aquilo.

Sua mãe lhe entenderia, sem pestanejar. Seu pai, por outro lado, Robert Carvajal — o latino—americano que mais fazia questão de esconder as raízes latinas que ela já havia conhecido — jamais conseguiria entender que ela não queria casar por que não conhecia o amor. Afinal, o próprio não amava sua mãe, Francisca, quando se casaram — e Valentina duvidava que o homem realmente amava àquele ponto. Mas não seria injusta em dizer que seus pais não eram felizes; tinham uma relação em que se entendiam.

Ela não queria se entender com Simon.

Deveria amá—lo. E isso era impossível para seu coração.

Por isso, estava fugindo dele, por apenas uma semana. Havia deixado um belo bilhete para seus pais, explicando que estava de férias. Tanto do emprego que tanto lutara para conquistar, na maior agência de modelos de Nova Jersey, quanto da vida.

Seu chefe, como sempre, estava de acordo com suas ideias. Até porque não estava em época de desfiles ou qualquer coisa publicitária do tipo; então, as modelos ainda não precisavam de suas fotografias e ideias geniais, como Beck, seu chefe, chamava. E apesar de todos concordarem que ela deveria estar modelando, esta não era sua vocação. Ela tinha um rosto bonito, e sabia que tinha, mas não queria apenas ser um rosto bonito em uma passarela. Sabia que era muito mais do que isso. E tinha tanto para provar.