Capítulo 3

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"Aqui está uma difícil verdade...
e não tenho medo de dizer,
não somos iguais."
Salem [2014]

Dulce olhou para um ponto fixo em uma das paredes do saguão do aeroporto, ainda tentando assimilar as coisas que aconteceram de maneira drástica nos últimos dias. Depois de tantos anos, lá estava ela novamente rumo à cidade em que havia nascido, que tinha vivido metade de sua vida praticamente e que tinha deixado uma parte de seu coração. Era estranho voltar e, por mais que desejasse como louca ver parte de seu passado, ela sentia o temor instalando-se por todo o seu sistema nervoso. Odiava sentir-se assim, quando só queria ficar feliz por encontrar seus antigos amigos.

A cremação de sua mãe tinha sido no dia anterior mesmo, Fernando acabou decidindo por esse método para evitar grandes gastos com o traslado do corpo de sua esposa e não querendo estender o sofrimento dele e das filhas ao sepultarem-na em outro estado.

Tudo foi muito corrido, como se quisessem esquecer de todo aquele sofrimento com a correria. Algumas coisas ainda ficariam na capital, mas o que eles queriam era somente fugir de toda aquela atmosfera de sofrimento que estavam inseridos desde que descobriram a doença de Blanca.

– Filha, sei que é difícil mais uma mudança na sua vida e foi tudo tão rápido, mas pelo menos vai voltar a conviver com seus amigos. – Fernando sussurrou sentando-se ao lado dela e segurando em suas mãos.

– É, conviver com eles... – Murmurou dando de ombros.

– Não está animada com isso? – Era nítido o descontentamento na voz de Dulce. Não tinha como estar explodindo de felicidade depois da morte de sua mãe, mas encontrar seus amigos deveria ser um acalento para ela. Bem, era isso o que Fernando pensava.

– Estou, claro que estou! Muito... feliz... – Forçou um sorriso, mas era transparente demais para conseguir disfarçar perfeitamente o seu desânimo.

Esperaram mais alguns minutos até que o vôo deles foi anunciado na sala de embarque, em seguida se dirigiram para o acesso ao avião e Dulce apenas olhou para trás.

As coisas mudariam uma vez mais e ela estava exausta de mudanças.

Durante toda a viagem, olhava as nuvens pela janela e ficava observando o cristal que estava pendurado em seu pescoço junto com o pingente de meia lua. Se distraía facilmente, principalmente quando perdia alguns segundos observando seu pai dormir profundamente ao seu lado. Foi inevitável sentir o coração apertar, era óbvio que ele estava se segurando pelo bem dela e de suas irmãs, nem mesmo podendo viver o luto de perder a esposa tão precocemente.

Sorriu quando olhou para a frente e uma garotinha a observava pelo vão do assento. Ela estava segurando um copo com chocolate quente e brincava mentalmente com a colher, a fazendo se mexer sozinha. A garotinha arregalou os olhos assustada, mas não era tão fácil descobrir se de medo ou de fascínio. Talvez fosse um misto dos dois.

Passou alguns minutos "brincando" com a garotinha, até que a viu desistir e virar-se para a frente, se distraindo com qualquer outra coisa.

Sentia falta de sua infância e principalmente dele. Gostaria de ter mantido o contato, mas era um poço de atitudes equivocadas. Por sorte aquela aeronave tinta Wi-fi e, não se contendo, abriu o Instagram de Christian a procura de seu perfil. Ela sempre o observava por ali, mas ainda tinha receio de segui-lo. Era patético, obviamente, mas conforme dito anteriormente: era um poço de atitudes equivocadas.

– Como cresceu e ficou tão... sexy. – Sussurrou para si mesma, enquanto dedilhava a tela do celular. – Bem, talvez podemos nos divertir um pouquinho. – Mesmo sem saber se ele tinha alguma namorada. Era óbvio que tinha, mas não estava pensando nisso no momento.

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⏰ Última atualização: Nov 09, 2020 ⏰

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Em uma noite de Halloween 𖤐 [Vondy]Onde histórias criam vida. Descubra agora