Tudo uma farsa!

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Michael 


Entramos as pressas pelo hospital, as pessoas me olham estranho, estou coberto de sangue. Eles correm com a Amber pra um centro cirúrgico e as expressões dos médicos ao vê-la  não me deixaram nada calmo. Ela está inconsciente a minutos, o sangue não para de sair do seu corpo, sua pele se torna a cada segundo mais pálida, até seus belos lábios estão sem vida. Ela está desfalecida e se não fosse pelo seu fraco  pulso que pude sentir, diria que está morta.

Graças a Deus, não!

Seria demais conviver com isso, perde-la assim de maneira tão torpe me machucaria até meus últimos dias. Sento na sala de espera tentando não surtar, saio da cadeira, ando pra lá e pra cá ouvindo os cochichos que eles nem ligam em disfarçar que são de mim. Aperto minhas mãos uma na outra, estalando cada tendão, respiro fundo, olho pro teto, bato meus  pés,  sento outra vez. Quando irão dar uma notícia? Ela acabou de entrar mas o meu desespero está a ponto  de me matar. Encaro os ponteiros cruéis do relógio no meu pulso, ninguém aparece, as horas não passam, esse clima de hospital me deixa claustrofóbico, meus dedos das mãos  e pés estão dormentes, preciso me acalmar.


- O senhor que está acompanhado a jovem baleada ? – Uma das enfermeiras se aproxima segurando uma prancheta.
- Sim, como ela está?

- É bem grave,  não sabemos ao certo a real situação dela, a equipe toda está concentrada em retirar o projétil. Mas não é sobre isso que eu vim, precisamos dos documentos dela pra organizar os trâmites da internação. E acontece que a nossa secretaria checou esses que estavam no bolso dela e eles são falsos.

Falsos  ?



Não, ela deve ter se confundido.

- Acho que está havendo um equívoco aqui, esses são os documentos dela, não tem nada de errado.

- Desculpa senhor, mas é a verdade. Não existe nenhuma Amber. O que é mais estranho é que a única Amber com essa nome e  sobrenome é  uma senhora que morreu há 10 anos. Não sabemos o que está havendo e posso perceber que também é uma surpresa pro senhor, mas se puder adiantar e conseguir os documentos dela, não podemos deixá-la internada sem ao menos o nome de verdade.

Nome de verdade ? como assim ? Estou tonto. Parece que deram uma paulada na minha cabeça. Não consigo raciocinar direito. Ela não é ela ? Quem é  ela ? Espera...  quem é a mulher que eu pus dentro da minha casa cuidando dos meus filhos? Meu Deus!

Tudo começa a girar e me sento, parece que meu mundo caiu, as palavras morrem na minha boca. Eu não consigo me erguer. Eu não conheço a mulher por quem me apaixonei. Agora  nada faz sentido. Será que ela algum dia gostou de mim ou dos meus filhos? Tudo foi uma grande mentira. O que eu estou fazendo aqui ? Eu nem sei quem ela é. Uma assassina, uma santa. Não faço ideia.

- senhor está tudo bem? – Põe à mão sobre meu ombro, me fitando preocupada.


- Sim... eu só preciso respirar um pouco – Saio daquele lugar e vou a procura de ar, ando sem rumo pelo hospital e indo sem parada acabo dando de frente com o tal ex dela, Dean. Sem pensar em nada, tomado pela raiva por tudo que está me consumindo, vou até ele e o ponho contra parede  - Quem é ela ?

- Você ficou doido ? Te aconselho a tirar essas mãos de mim, a não ser que queira perder os dentes.

- Não muda de assunto, você deve fazer parte desse teatro não é  ? Nesse circo patético em que o palhaço sou eu. Se divertiram com o otário aqui ? Riram ? tripudiaram bem em cima de mim? Até que ponto você está metido com aquela falsa ?  Que merda são vocês e por que me escolheram como o cobaia pra esse joguinho ? Acham legal entrar em uma casa com 3 crianças e fazer de lá um playground sádico? 

- Eu não tenho que te dar satisfações, agora se afasta antes que eu perca a cabeça – Tiro minhas mãos dele e ficamos nos encarando.

- Eu nem sei o que ainda estou fazendo aqui  - Digo, esfregando meu nariz nervoso.


- Isso vai embora, ela não precisa de você. Já tem alguém aqui pra cuidar dela. – Respiro fundo e alto. Sentindo o gosto amargo do ciúme  invadir a minha boca. Imaginar ele perto dela me leva ao ápice da fúria. Mesmo que eu quero que ela se foda. Mentirosa, dissimulada, tão filha da puta e tão linda. Me sinto dividido entre o amor e o ódio.

- Vou ficar até ela acordar e me explicar o pôr que ela não se chama Amber. Eu quero ouvir da boca dela.

- Está enganado se acha que ela te contará alguma coisa.

- Por que  ?

- Por que isso custaria a vida dela... mas você não entende – Se afasta e sai andando pelo corredor.  Me sinto tão no escuro, não sei se devo acreditar nesse cara. Eu sei que devo sair daqui e procurar uma maneira de descobrir tudo. Mas é como estar amarrado, sem saída, eu não quero sentir mais nada por ela, mas eu sinto. É uma sinuca de bico sem fim. Minha vida deve estar sendo metralhada por todos e eu ainda preciso voltar pros meus filhos. Tudo só piora.  Até o diabo deve estar com pena de mim. Ando até a recepção e sento. O médico surge e Dean se aproxima, fico de longe mas de onde posso ouvir o que ele tem a dizer. Tira a toca plástica e a máscara, suas luvas ainda estão sujas de sangue, ele parece cansado. 

- Ela perdeu muito sangue - Diz - Não temos estoque de sangue tipo B aqui, ela precisa de uma transfusão. O senhor pode doar ?

- Não eu só tipo O negativo.

- Conhece alguém da família que possa?

- Ela não tem família. Na verdade, só um pai mais ele está preso.

Por que o pai dela está preso ? Oque mais a vida dela esconde ? 



- Precisamos urgente dessa transfusão ou perderemos ela, seus batimentos estão bem fracos, ela está ligada a um respirador e a bala atravessou uma parte do fígado dela que conseguimos retirar.  Ela não precisa de  um transplante por que fomos rápidos, mas precisamos do sangue. 

- Eu posso tentar ir atrás do pai dela e perguntar algum dos meus amigos se são compatíveis. Por favor Doutor, mantenha ela viva, eu vou conseguir um doador. 

- Fazeremos tudo o que estiver ao nosso alcance, mas não demore, não sabemos quanto tempo ela irá aguentar. 

Droga

Eu não posso doar, meu sangue também não é compatível. Eu preciso ajudar de  algum jeito, eu não posso perder ela. Ela não pode morrer. Eu não posso deixá-la morrer. Não a amando tanto assim. 
 

Codinome AmberOnde histórias criam vida. Descubra agora