O Espantalho

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Nos campos da planície, onde só crescia a cana e o trigo, vivia o espantalho. Nos campos do barão, onde só entravam convidados ou escravos, cercados por muros laureados com pedras pontudas como lanças, estava o homem feito de madeira e palha. Somente as formigas lavravam o chão e apenas os ratos comiam do pão, os homens tinham ido embora para outras terras, sobrepujados pela força do destino.

Não que houvessem pássaros, muito pelo contrário; as maritacas já tinham ido embora há muito tempo, todavia, o espantalho já estava posto. Ficava o dia todo dando suas poucas e boas ao trigo, olhando o campo com seu semblante inflamado de orgulho, gabava-se de sua juba de palha feita quando era apenas um remendo de galhos, ia tremendo ao vento até a noite chegar. Quando a lua aparecia, com seu silêncio dominante, o bravo vento noturno batia e ao ar iam aos poucos a palha do espantalho. Enquanto isso, sonhava ele em seu sono sobre talvez um dia poder ser agraciado e descansar sobre a plantação, mesmo sendo o responsável pelos mais vis comentários acerca da mesma.

Lá estava o espantalho, com seu semblante de ouro, único e exemplar ( sem saber dos outros mil), sobre o campo vazio, lutando contra os ventos e tentando ficar de pé, rugindo sua superioridade para ninguém além do vento, com os olhos muito altos para ver o trabalho suado e depravado de descanso das formigas, e com a visão turva demais para enxergar os ratos comendo o pão que seu trigo uma vez produziu.

Coitado do espantalho, talvez algum dia um raio o parta e as chamas levem consigo a velha plantação, para que as formigas descansem debaixo do chão, e para que os ratos finalmente engasguem em seus próprios trajes de luxo. Até lá, ele balança, dançando ao vento conforme o vento manda.

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