A ilusão de uma memória

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- Estou parado imóvel na sala, a TV está ligada. Minha mãe sai do quarto e segura meu braço com força. Ela diz algumas palavras, mas eu não as entendo... não as escuto, em minha cabeça vejo uma cena em câmera lenta dos lábios dela se mexendo.

- E seu pai? - perguntou ajeitando-se em sua cadeira a frente dele, talvez interessada demais por nunca ter chegado tão longe.

- Eu sei que ele está no quarto, mas não lembro de ter entrado lá e nem de ter visto ele naquele dia.

Ed agora estava mais receoso de compartilhar suas memórias e pensamentos. Amber o deixava nervoso, era uma psicóloga recém formada e ele era um de seus primeiros pacientes. Ela tinha cabelos pretos até a cintura e os olhos eram de um tom verde oliva que pareciam enxergar sua alma. Não gostava desse nível de intimidade, o assustava pensar que alguém o pudesse analizar tão profundamente, talvez coisas que ele escondia de si mesmo.

- Sua mãe me contou que você estava catatônico, em choque. - Disse anotando algo que Edward não conseguiu ler em sua planilha.

- Minha mãe não me fala nada. O que mais ela falou? - Respondeu realmente interessado.
- Eu não lembro, juro doutora. - Justificou-se sentindo sua garganta arder.

- Ela disse que  você falou com seu pai antes de acontecer, ela viu você pela janela do quarto.

Edward a observou atentamente, ela parecia estar medindo as palavras. Seu pai tinha tido um infarto, então se alguma conversa levou a isso, já era muito mais grave do que ele pensara.

- Não entendo, eu fiz algo?

Seu coração parou por alguns instantes.

- Garanto que não, queremos que você lembre para que possa desabafar sobre isso. Se sentir melhor, Edward você já confessou a sua mãe ouvir vozes, não?

Sentia que hoje queria conversar, mas não sobre isso.

- Um garoto me chamou de Edweird hoje. Estou decidido a não me abalar, mas não está sendo fácil.

Amber se levantou de sua cadeira e pareceu genuinamente se importar. Claro que Edward não iria mencionar o incidente com Andrew enfiando um sanduíche a força em sua boca, isso era humilhante demais até para compartilhar. Ela caminhou até ele e colocou a mão em seu ombro, Ed sentiu suas bochechas corarem, mas logo se recuperou.

- Edward, você tem que entender que certas coisas não são sua culpa, deve aprender a se perdoar e a se defender, não com violência é claro, mas você deve se impor frente ao mundo.

- A teoria é fácil, doutora.

Ed levantou-se e de dirigiu até a porta, ao sair pediu rapidamente para Amber não fizer nada a sua mãe, ela assentiu com a cabeça.

"Acho que ela gosta de você, gostosão".

Como era possível que essa voz estivesse tão nítida agora, era como se alguém estivesse sussurrando ao seu ouvido, alguém o espiando e acompanhando cada movimento.

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⏰ Última atualização: Dec 26, 2020 ⏰

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