Epílogo

31 6 25
                                    

Não sei por qual motivo, mas eu me vejo em um lugar perfeito e ideal. Mas eu sei que não é assim. Mas por alguma razão, eu gosto demais daqui.

Eu posso dizer que detesto roça, que eu sinto falta do conforto da cidade. Mas nunca vou achar na cidade grande frutas tão gostosas. Panhar a fruta direto do pé é tão mais gostoso do que pegar no mercado! A pitanga da casa de meu vô, todas as vezes que abaixei pra pegar jabuticaba porque as galhas eram baixas, a vara que usei pra pegar manga, a cicatriz que ganhei pra pegar goiaba, a primeira vez que subi numa árvore pra panhar amora... são lembranças lindas, e uma ou outra vez no mês se tornam presente e depois voltam para a mente como passado.

Me lembro de andar a cavalo com meu vô para tocar as vacas no pasto. Desde pequeno meu padrão de natureza e floresta era o Cerrado, seja em Araçaí ou em Pirapama. Sempre vi essa bela paisagem ao viajar nessas cidades. E sempre me acostumei a ver as claras águas do Rio Cipó e ver as cachoeiras da Serra do Cipó.

Também sempre vi as belezas da cidade grande. Pode parecer estranho, mas prédio altíssimos com várias árvores ao redor e todos muito próximos me parecem bem legais. Belo Horizonte é um nome tão bonito, não acham? E os outdoors que tinham ao monte em Itaúna me faziam sentir-me em um filme americano. Ah, foi em Itaúna que vi o melhor circo de todos. Não me lembro o nome dele, mas a apresentação está gravada na memória. Panhar amora escondido na casa da vizinha com o Raphael depois da aula era tão bom!

Também vejo com tanta naturalidade as esculturas barrocas, as igrejas, casas antigas, casarões coloniais... acho que peguei o costume ao morar em Congonhas. O primeiro teatro que vi foi lá. A encenação da Paixão de Cristo. Eu não conseguia entender o que se passava. Afinal só tinha 5 anos de idade, não é? Mas era tão bonito. A igreja puro ouro por dentro era linda. As feiras de artesanato, as comidas... foi um ano bem aproveitado.

Ir em Ouro Preto com a escola é uma emoção que só quem é daqui entende. É como a excursão mais esperada da nossa vida. Tenho meu símbolo do Cruzeiro esculpido em pedra sabão até hoje.

E minha literatura se desenvolveu aqui também. Com tudo o que ouço dos meus parentes mais velhos em Araçaí. Os causos de pescador e de caçador. As histórias de molecagem. A vida que vejo com tanta calma em Araçaí. É com isso que eu tiro a inspiração dos meus contos. É assim que nasceu Rosa dos Ventos. E algo interessante.

Quando meu avô ia numa cidade vizinha fazer compras, ir na cooperativa, ou coisa do tipo, eu ia junto. Eu brincava e passava a mão em cavaleiros de pedra na praça da cidade e via um senhorzinho de pedra atrás deles. Eram estátuas muito bem feitas e legais. E um dia fiquei em uma comprida pracinha em frente a uma estação de trem antiga. E tinha uma casa muito bonita na minha frente. Olhei ela por muito tempo. Naquele dia, as janelas estavam enfeitadas com coisas coloridas, pareciam fitas... Essa casa é o museu e antigo lar de um grande escritor; essa cidade é Cordisburgo; esses cavaleiros são os Jagunços do Portal Grande Sertão Veredas; esse senhorzinho atrás deles é Guimarães Rosa. E hoje me inspiro nele, pois foi ao ler "Manuelzão e Miguilim" e "Sagarana" que de algum modo vi me devidamente representado na literatura brasileira.

Esse livro é minha homenagem a esse autor. Com inspiração em Rosa, mas escrito do meu jeito e meu próprio jeito de litaraturar.

Obrigado

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Obrigado

.

Rosa dos VentosOnde histórias criam vida. Descubra agora