É nos dias mais nublados
Quando os céus parecem folhas de papel
Que meus neurônios ficam mais inspirados
E sinto-me tão inexplicavelmente feliz
Quanto uma criança no carrossel.
Gláucia Batista de Barros
Apresentação
A arte de escrever poesia é, de fato, muito mais abrangente do que apenas a projeção de reflexões criativas em uma folha de papel. Entretanto, penso que um autor deve ser capaz de externar suas angústias, críticas e sentimentos a qualquer momento, independente de clima ou de tempo.
Principalmente, se a arte da escrita for sua única saída do mundo real, do lugar de ódio, de preconceito e de guerra, onde ninguém é verdadeiramente leal e todos parecem lutar por um ideal, o qual, para azar geral, nunca é a convivência pacífica ou a paz mundial. Porque vivemos em um planeta onde a sociedade julga banal qualquer tentativa de viver o presente como a dádiva que ele realmente é.
Preocupamo-nos em conquistar grandes coisas sem muitos esforços, e trabalhamos pouco para que o futuro seja tão bom quanto os políticos sempre prometem torna-lo. A verdade é que, sem esforço nem trabalho, não haverá muro derrubado, ponte bem construída, mundo pacífico e igualitário, sem mais catástrofes como a de Hiroshima.
Com todos esses pensamentos em minha mente, decidi aos 13 anos começar a escrever poesias, mesmo sem ter serventia às malditas tradições do sistema educacional brasileiro, o qual desvaloriza qualquer esforço dos alunos em produzir algo autêntico, compatível com seus respectivos talentos. Sentia-me reduzida a notas de prova e trabalhos em grupo que sempre acabava fazendo sozinha.
Minha criatividade pulsante e minha inteligência crítica me prejudicaram muito e nunca consegui me adaptar à poda intelectual que o sistema exigia. Portanto, diversas vezes, ou desenhava ou escrevia. Podia ser um poema, uma narrativa ou até uma poesia. Qualquer coisa que me tirasse daquele lugar e me fizesse viajar pelas ruas da minha imaginação.
Infelizmente, eu era tão negativamente influenciada pelas exigências das escolas onde estudei que, diversas vezes, joguei minhas poesias na lixeira, tendo uma falsa convicção de que elas não valeriam nada a minha vida inteira, e que era melhor decorar a fórmula de Báskara e decidir ainda muito jovem a minha carreira, do que desenvolver pensamentos em versos que poderiam julgar ser meros delírios poéticos as mentes alheias. Afinal, de que me serve? O dia em que a arte me ajudar a entrar numa universidade, farei questão de me orgulhar da minha nacionalidade.
Não me servindo de nada as artes, percebia-me só, sentia-me como grafite entre diamantes, sem brilho, sem valor. Minha paixão pela escrita mesmo somente conheciam os meus pais. Ao longo dos anos, notei algo mais: Sentia-me particularmente inspirada em dias nublados, quando os céus ameaçavam chorar chuvas torrenciais. Talvez seja pelo fato de eu olhar para cima nesses dias e ver uma imensa página em branco pintada no teto do planeta, implorando para que eu pegue uma caneta e escreva a primeira coisa que vier a minha cabeça.
Tenho certeza de que, na visão de um pintor, por exemplo, um céu como esse pode ser uma enorme tela, pedindo a quem por ela faça um simples favor: que a preencham com tintura e a transformem em uma obra completa, que seja original e fuja do normal, que faça cair o queixo sem sair do eixo, que faça um ignorante pensar, que seja plena, e que valha a pena admirar.
Por outro lado, reconheço que outro dos meus recursos de inspiração são os pesadelos. Até os sonhos mais tenebrosos, nebulosos e horripilantes, podem trazer luz às ideias mais cativantes. Essas sim são as que valem a pena serem desenvolvidas.
Neste livro, estão reunidas minhas poesias mais recentes, todas produzidas debaixo de um céu nubloso e meio chuvoso, quase chovendo gotas de inspiração em meu consciente. O meu objetivo é externar publicamente minhas reflexões poéticas, das mais comuns às totalmente desconexas.
Em Morrendo de Vontade de Viver, o qual antes eu havia chamado de White & Cloudy - Versos de dias chuvosos, ora as premissas dos poemas e poesias são claras como as águas salgadas das lágrimas, ora são complicadas e nebulosas. Ora são críticas abertas, ora são ideias complexas em descrições estranhamente metafóricas, mas quero que qualquer leitor se delicie com meus julgamentos poéticos do que é viver todo dia a minha história.
Uma vez, Neil Gaiman disse que, para se tornar um escritor é preciso ser capaz de fazer o equivalente a andar nu nas ruas. Bem, francamente, para uma pessoa relativamente tímida como eu, expor minhas obras de forma tão pública será sem dúvidas um grande desafio, mas eu me esqueci de dizer que desafios são uma das minhas inspirações mais recorrentes.
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Morrendo de Vontade de Viver
PoetryDias nublados, para mim, são extremamente inspiradores, e todos os poemas e poesias desse livro foram produzidos em dias chuvosos, onde os céus são tão pálidos que se assemelham a folhas de papel. Essas poesias refletem os pensamentos da minha mente...