Uma chance

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Assim que passei pela porta, senti as lágrimas descerem. Sempre chorei por coisas bobas. Me sentei em um banco pra tentar me acalmar antes de voltar. Eu estava chateada, eu queria conhecer esse Liam. O garoto normal que trabalha na padaria, que tem sonhos. Eu não quero perder essa oportunidade. Eu podia dar uma desculpa pra voltar lá e conversar mais um pouco com ele, depois eu voltaria para a minha época e ele nunca mais me veria. Como se fosse simples assim.
_ Isabella - ele se aproximou do nada - você esqueceu o troco.
_ Ah, obrigada – eu me virei pra ele, mas me arrependi no mesmo momento.
_ Você tá chorando?
_ Não, por quê?
_ Seus olhos estão vermelhos. Tá tudo bem?
_ Não.
_ Posso te fazer companhia?
Fiz que sim com a cabeça e bati no banco para que ele se sentasse ao meu lado.
_ Você quer conversar? - ele nem me conhecia. Porque estava se dando o trabalho?
_ Não sei se quero falar sobre. Se eu pensar mais minha cabeça vai explodir – ele estava me olhando, me encarando. Como se tivesse algo de errado no meu rosto – que foi?
_ Seus olhos são lindos – ele ainda me encarava, então também olhei no fundo de seus olhos castanhos. Me lembrei que uma vez, em uma entrevista, ele disse que pra ele, a coisa que mais chamava atenção em uma garota eram os olhos.
_ Os seus também são - eu nunca fui boa em flertar, talvez porque nunca tivesse flertado.
_ Quer ir no parque? - ele mudou de assunto.
_ Claro. - Se em algum momento tive dúvidas se devia aproveitar o resto de meu tempo com ele, elas desapareceram. Enquanto atravessava a rua, todo distraído, foi quando eu percebi o tamanho do buraco que isso deixaria em mim. Mas mesmo assim tentei absorver o máximo do momento, então comecei a prestar atenção em todos os detalhes. Ele vestia uma camisa preta e calças jeans. Um anjo esculpido por Michelangelo, talvez. Parece tão clichê que esteja acontecendo assim. Nunca passou pela minha cabeça isso. Sempre pensei que nunca aconteceria, ou que talvez, talvez se eu tivesse sorte em minha carreira como modelo, eu pudesse conhece-lo.
_ Eu posso te chamar de Bella?- ele me arrancou de meus pensamentos.

_ Claro.

_ Então, Bella...

_ Sim?
_ Qual sua cor preferida?
_ Preto. E a sua? - claro que eu já sabia, mas se pudesse deletaria de minha mente só para escutar isso dele.
_ Também - ele sorriu e então lembrei da primeira vez que vi ele. A primeira coisa que me atraiu. O sorriso.
_ O que mais gosta de comer?
_ Não sei, eu gosto de muitas coisas...
_ Então o que você mais come?
_ Pão com presunto – eu ri.
_ Uau... - ele riu junto.
_ Que foi? - perguntei, para disfarçar.
_ Eu também - ele abriu mais um sorriso estonteante. Tão doce. Tão sincero.
_ O que você quer ser, Liam?
_ Cantor. Já fui ao X Factor, mas não passei. Se caso as coisas não derem certo, acho que vou ser bombeiro – as coisas vão dar um pouco mais que certo querido.
_ Isso é incrível - eu disse – posso ouvir você cantar?
_ Não sei não...
_ Por favor, só uma vez – já devo ter escutado mais de mil.
_ Vou pensar no seu caso... Ei, o que é isso no seu pulso?
_ Ah... Isso? - olhei para minha tatuagem, que eu tinha feito porque ele tem uma parecida - é uma pena.
_ Uma pena? Por que?
_ Em homenagem a uma pessoa – ele não precisava saber muito.
_ Tudo bem. Chegamos.
A grama estava verde, assim como pensei, já que é primavera. Consegui sentir o cheiro da terra molhada. E de repente eu caí. Não vi o degrau e tropecei. Liam me olhou e eu comecei a rir.
_ Você tá bem? - ele estava de olhos arregalados, mas eu não conseguia parar de rir, então ele se sentou ao meu lado e começou a rir comigo.
_ Meu pai diz que quando Deus foi me criar, exagerou no desastre.
Nem vi a hora passar enquanto conversávamos. Compartilhamos coisas bobas como do que mais sentiríamos falta se virássemos pessoas famosas, falei sobre minha família e ele me contou sobre a dele, escutei coisas que mal imaginava, mas agora precisava voltar, não podia arriscar tanto.
_ Acho que preciso ir – eu não quero, mas preciso.
_ Ah...
_ Desculpa – eu nem senti, mas meu olho encheu de lágrimas, de novo.
_ O que foi? Por que está chorando? - agora sim, era como se eu tivesse levado um tiro. Bem no meio do peito.
_ Não é nada, foi só um cisco – claro que ele não ia acreditar, mas o que mais eu poderia dizer? Ah, é que eu sou uma viajante no tempo e vim do futuro, lá você é o meu cantor preferido, e eu queria muito passar mais tempo com você.
_ Ei, não precisa chorar, vai ficar tudo bem - percebi que agora as lágrimas estavam caindo, mas que merda, porque eu tenho que ser tão sentimental? De repente, ele limpou minhas lágrimas com o dedo e me abraçou. Ah Liam.
_ Obrigada, eu preciso mesmo ir. Foi bom te conhecer, você é incrível.
_ Foi bom te conhecer também - dei as costas pra ele e saí andando - Isabella?
_ Sim? - me virei.
_ Se quiser me escutar cantar, apareça na padaria amanhã.
_ Claro – sorri – tchau Liam.
_ Tchau, Bella.

Como se fosse a última vezOnde histórias criam vida. Descubra agora