Convite

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Enfim de volta, parecia mesmo um sonho. Pelo menos eu não tive tempo de magoa-lo, não vai nem se lembrar amanhã. Assim que saí da cabine, voltei correndo para o meu quarto e tranquei a porta. Precisava conversar com Bia agora. Eu precisava de ajuda, eu tinha que voltar, eu precisava. Eu queria.
_ Oi Bella, por que tá me ligando agora? - Mia disse ao telefone.
_ Só liguei pra avisar que tô indo aí. Preciso conversar. AGORA.
_ Ok.
Eu demorava 15 minutos pra chegar lá na maioria das vezes, mas estava tão nervosa que fui praticamente correndo. Quando cheguei na casa dela, contei o que aconteceu.
_ Você não o beijou? Francamente, Isabella. Achei que tivesse te ensinado modos.
_ A época era diferente, eu não podia sair beijando as pessoas, e nem falar com elas. E ele não gosta que as meninas deem em cima dele.
_ Mas olha a oportunidade que você perdeu!
_ Eu vou ter outra.
_ O quê? Você não está pensando em ir de novo, está?
_ Mas é claro!
_ Graças a Deu... espera, o que????
_ Pensei que você quisesse me ver feliz – chantagem é sempre uma boa opção.
_ Isso é perigoso, e se seu pai te pegar?
_ Ele não vai. Eu preciso disso Bia.
_ Tudo bem, eu vou te apoiar.
Conversamos por mais um tempo e então voltei pra casa, refletindo, conversando comigo mesma, vale a pena? E se eu estragar a vida dele? E se algo der errado e eu não voltar? Eu estava disposta a arriscar as coisas dessa forma? Sim. Eu estava. Deixaria toda minha vida pra trás. Minha melhor amiga, meu pai, meu irmão. Mas se fosse arriscar a vida dele, eu nunca iria. Tudo bem. Vou deixar isso pra lá, tomar um banho, comer e dormir. Amanhã seria um longo dia.
Entrei no banheiro, abri o chuveiro e esperei a água esquentar. Só fiquei deixando a água cair durante um tempo, tentando me acalmar, mas minha cabeça girava, eu só conseguia pensar em tudo que aconteceu hoje. Será que não foi tudo coisa da minha cabeça? Eu realmente o vi? Falei com ele? EU O ABRACEI. Meu coração podia pular pra fora. Na verdade, eu pensei que ele fosse pular.
Depois de ter terminado o banho, fui secar o cabelo, geralmente eu sempre pulava essa parte, mas eu queria me ocupar, já que sei que não dormiria tão cedo. Enfim, após ter terminado de fazer tudo, deitei na cama e continuei pensando no dia seguinte até que adormeci.
Quando acordei, pulei para fora da cama, troquei de roupa e fui encontrar Mia para irmos para a escola juntas.
_ Como está se sentindo? - perguntou ela.
_ Ansiosa. Você acha que eu devo me arrumar mais? Sei lá, passar uma maquiagem.
_ Você é perfeita assim, e acho que você deve ir como você foi ontem.
Não consegui prestar muita atenção na aula, estava ansiosa por minha aventura e o dia se recusava a passar rápido, na hora do intervalo, encontrei com meu melhor amigo, não queria contar pra ele, então agi normalmente.
_ Oi Oli.
_ Oi Bella.
_ Tô sentindo sua falta lá na sala, você me abandonou.
_ Eu também sinto a sua, mas conta aí, qual foi a merda dessa vez? - puts.
_ O que?
_ Você nunca ia vir falar comigo e só dizer que sente a minha falta. Alguma coisa tu fez – como é que ele me conhecia tão bem?
_ Eu viajei na máquina do tempo – soltei as palavras de uma vez.
_ Não.
_ Sim.
_ Seu pai deixou?
_ Ele não sabe.
_ ELE NÃO SABE? - ele deu um grito.
_ Fala mais baixo, por favor.
_ Você tá dizendo que viajou na máquina do tempo do seu pai sem ele saber?
_ Sim.
_ Eu sabia que era merda. Pelo menos você não falou com ninguém lá... né? - Merda. Eu com certeza vou levar um lindo sermão agora. Que ótimo. - Né????
_ Ent... - Ele nem me deixou terminar.
_ Mano, eu não posso ficar uma semana sem falar com você e tu faz merda????? Tá de brincadeira né???? Você sabe que a regra principal é NÃO FALAR COM NINGUÉM - ele pegou o celular e parou de falar.
_ O que tá fazendo? - perguntei.
_ Olhando as notícias pra ver se você não causou uma catástrofe universal.
_ Idiota. Eu sei o que eu tô fazendo.
_ Espera... Por que sua frase está no presente contínuo?
_ Acho que é óbvio.
_ Caramba, você fez uma merda ontem e vai fazer outra?
_ Você pode pelo menos me escutar? Isso é importante pra mim.
_ Fala – ele revirou os olhos.
_ Eu estava em Londres no dia 13 de maio de 2009 e entrei em uma padaria...
_ Espera, padaria? Londres? 2009?
_ Sim - já esperava que ele reconhecesse tão fácil, O Oli não aguenta mais me ouvir falar sobre o Liam, e é de domínio público que ele trabalhou em uma padaria um ano antes de virar cantor.
_ Você o conheceu.
_ Sim.
_ Mas isso não é motivo pra você voltar.
_ Mas não sou só eu quem quer que eu volte.
_ Tudo bem, me conta essa história - mas então o sinal bateu.
_ Ops.
_ Eu vou almoçar na sua casa hoje.
_ Tá - revirei os olhos.
O pior já passou, pelo menos. Eu sabia que ele ia me dar bronca por isso, e era esse o motivo de eu não querer contar. Caminhei lentamente até a sala, pensativa. Eu não sei se essa é a escolha certa a se fazer. Mas me deixa feliz. Eu nunca me apaixonei por ninguém e não acho que esteja me apaixonando agora, deve ser um amor de fã. Quem não daria tudo pra poder conhecê-lo? Pra passar um tempo junto com ele?
_ Está atrasada – minha professora de inglês esperava na porta.
_ Me desculpe.
Me sentei rápido em meu lugar, ela não pegava muito no meu pé. Sempre tive notas boas. Voltei a prestar atenção na aula, mas Mia sempre me interrompia tentando puxar assunto no meio da aula.
_ Posso almoçar na sua casa hoje? - ela perguntou.
_ O Oli vai pra lá depois da escola, se você quiser ir, pode ir também.
_ O que ele vai fazer lá?
_ Ele descobriu sobre a viagem, quer que eu conte tudo.
_ Ele te xingou né?
_ Eu sabia que isso ia acontecer, então já contei logo de cara.
_ Bom, agora você tem dois cumplices.
_ Não sei se o Oliver vai me apoiar.
Ela finalmente ficou em silêncio, e eu me perdi em pensamentos. Eu nunca pensei no Liam com 16 anos, sentado ao meu lado tocando violão, porque na realidade ele é 10 anos mais velho que eu. É tudo tão estanho porque eu o vejo agora, com uma vida realizada, até com um filho. Mas quando eu o vi ontem, foi como se eu pertencesse realmente a aquela realidade, apesar de saber tudo sobre o futuro dele, eu conseguia enxergar facilmente o garoto de 16 e me esquecer completamente do homem que se tornou. Eu realizei o meu sonho mais improvável de realizar e de uma forma tão inesperada. Dessa forma, fiquei em meu mundo dos contos de fadas até que a aula acabou, e pelo visto ainda teria muitos dias assim.
Saí da escola junto com Mia e Oli, durante a aula eu avisei a minha madrasta que eles iam pra minha casa, primeiro, caminhamos em silêncio, mas eu realmente não queria perder tempo sentada no meu quarto tendo que contar tudo que aconteceu ontem e o que vai acontecer hoje, então comecei a contar tudo pro Oli. Quando terminei ele disse:
_ E você pretende voltar lá e correr o risco d... - Mia o interrompeu
_ De ser feliz – nossa.
_ Gente, pera lá, eu só tô realizando um sonho. Vai ser só mais hoje, provavelmente não vou voltar de novo.
_ Tudo bem, mas se você cometer qualquer erro, pode mudar o futuro dele – Oliver me alertou.
_ Você fala como se eu não soubesse – agora já estávamos na porta da minha casa – vamos entrar.
Entramos e deixamos as mochilas no meu quarto, depois fomos almoçar.
_ Oi tia – Oliver sempre a chamava assim.
_ Oi Li - Mia disse.
_ Oi pessoal, como foi a aula?
_ Normal – falamos os três juntos e começamos a rir.
Depois do almoço, fomos para o meu quarto, Mia escolheu minha roupa, mas eu não gostei e peguei outra. Resolvi colocar uma parecida com a de ontem: uma camiseta preta, uma calça jeans rasgada, e o coturno, também peguei minha jaqueta de couro.
_ Pronto. Esperem aqui, eu volto daqui um minuto.
_ Um minuto? Isso não dá tempo nem de você chegar lá - tinha que ser a Mia.
_ Oli...
_ Vou explicar.
Então fui de encontro a minha aventura. Meu coração estava acelerado, meu estômago parecia estar cheio de borboletas. Coloquei o relógio e entrei dentro da cabine, dessa vez ajustei a data para 14 de maio de 2009. De repente eu já conseguia vê-lo, debruçado sobre o balcão, totalmente entediado. Será que ficaria feliz em me ver? Assim como eu ficaria ao vê-lo? Ele podia simplesmente agir como se não me conhecesse, seria melhor pra ele. Sem perder tempo, entrei na padaria, e assim que seu olhar me encontrou, ele se endireitou e abriu o meu sorriso preferido.
_ Olá - disse ele ainda sorrindo.
_ Oi, como está sendo seu dia? - acrescentei a pergunta pra não parecer seca e também abri um sorrisinho.
_ O mesmo de sempre. Que bom que você veio.
_ Gostaria de um café e um pão com presunto, por favor.
_ Tudo bem – assim como ontem fiquei olhando enquanto ele preparava que nem percebi quando ficou pronto – e então? - ele colocou o cotovelo no balcão e apoiou o rosto na mão.
_ O que? - eu dei uma mordida no pão.
_ Vamos passear no parque depois? 
_ Claro, prometo que não vou cair dessa vez – ele riu e começou a me observar. Observar não, encarar.
Enquanto o olhava, me perguntei o que estaria passando na sua cabeça. Me chateia tanto que tudo seja assim, será que eu devia dizer a verdade a ele? Acho que não, ele ia achar que eu sou louca. Mas e então? Eu simplesmente sumiria? Isso é errado.
_ Acabou?
_ Sim, aqui o dinheiro...
_ É por conta da casa hoje.
_ Não! Tá doido?
_ Vamos.
_ Eu quero pagar, Liam.
_ Você pode pagar depois, vamos agora.
Assim como ontem, fomos andando ao parque. E assim como ontem, eu senti aquela sensação. A sensação de felicidade.
_ E então, me conte de você - ele pediu.
_ O que quer saber?
_ Me fale sobre sua família.
_ Tudo bem... O nome do meu pai é Steven, ele é o melhor pai do mundo. Eu tenho duas irmãs, Ella e Evelyn, elas são difíceis as vezes, e tenho um irmãozinho, Henry. E a minha madrasta, Olívia.
_ E sua mãe?
_ Eu não me lembro, ela morreu quando eu era pequena.
_ Você sente falta dela?
_ Na verdade não...
_ E sua madrasta?
_ Eu a considero minha mãe, nós nos damos bem. Me conte de você agora.
_ Hmm, que tal eu fazer as perguntas hoje?
_ Ok. É que...
_ O que?
_ Você não vai cantar pra mim?
_ Você está mudando de assunto.
_ Não estou não, você que está - e então começamos a brincar e rir, ele me perguntou mais algumas coisas e eu respondi de boa vontade.
_ Vamos tirar uma foto?
_ Claro - então tirei meu celular do bolso – celular legal.
_ Sim... - tinha me esquecido desse detalhe, tecnologia moderna. - Meu pai que criou pra mim.
_ Ah, entendi.
_ Sabe, ainda estou esperando você cantar pra mim.
_ Tudo bem, prometo que canto amanhã, só preciso lembrar de trazer o violão.
_ Eu tenho um na minha casa, ainda tô aprendendo a tocar.
_ Sério? - Os olhos dele brilharam
Tiramos várias fotos, gravamos um vídeo. Passamos grande parte do nosso tempo conversando e rindo. Agora posso morrer em paz. Pensei.
_ Você vai fazer algo amanhã à noite? - ele perguntou, será que? Não, não. Ele não vai fazer isso.
_ Não.
_ Você quer sair comigo? - MEU DEUS, MEU DEUS, MEU DEUS.
_ Claro, por que não? - C A R A M B A.
_ Tudo bem. Vou te levar para um lugar especial.
_ Onde?
_ É segredo.
_ Me conte vai, por favor.
_ Hmmm, não posso. Te vejo aqui, amanhã, as 19:00 – ele se aproximou e me deu um beijo na testa, depois saiu andando.

Como se fosse a última vezOnde histórias criam vida. Descubra agora