I- A Fênix

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Uma intensa conexão

quando me encontrei no vazio dos seus olhos,

na simples amargura de tuas palavras,

verdades ditas a seco, sem qualquer hesitação.

Quando me vi no teu silêncio e

quando mergulhei em tuas palavras.


Uma súbita reflexão

a poesia na ponta da língua, o meu doce é degustar a amargura.


Em simples versos    ofereço um pouco de mim.

Em teus versos           encontro um pouco de ti, que sou eu, que é qualquer desgraçado por aí.


Alimento-me dessa verdade crua, dura e seca.

Sou como um pássaro

se de fogo me incendeio, extravaso em folhas queimadas

e de cinzas vou me fazendo, ansiando profundamente um dia poder renascer,

poder queimar com vigor e então escrever meu mundo,

conectar-me com o meu eu.


Faísca se encontra no solo infértil do que um dia já foi como um floresta vigorosa ou como um reino de fogo.

Preguiçosamente e persistente ela queima, até que um dia se faça chama.


Eu adio o quanto posso meu renascimento, minha vida é curta.

Correndo entre os rabiscos para minha morte.

Qual seria o meu propósito, se não escrever?

Do que seriam os meus poemas se tristeza não houvesse neles?

que vida mais insossa seria sem a melancolia.

Como é bela natureza, como é vicioso esse ciclo,

como é aconchegante a morte.

Deitado com minhas asas abertas nesse lençol escuro e molhado pela chuva.

com minhas rêmiges chamuscadas, sob o sol e as nuvens.

minha carne amarga docemente devorada até que de mim não sobre quase nada.


E ainda sim, renasço.


(Fênix, Nicole M. 07 de fevereiro de 2020)

A caixa de Pandora | Nicole MarquesOnde histórias criam vida. Descubra agora