III- Anxieté

8 4 0
                                    

Antes eu costumava observar a beleza e a paz em situações turbulentas¹.

Tinha o velho e doce hábito de admirar os feitos da natureza.

As grandes árvores que almejavam tocar os céus, os diferentes tipos de cogumelos de várias cores nos seus pés, os pequenos insetos que nela achavam abrigo e se protegiam da chuva que caía do céu azul estrelado, a chuva fazendo música para nós, esfriando o dia e confortando nosso sonho.

Ah, como eu sinto falta das barulhas cigarras escondidas na grama verde de verão, de acordar com o canto agudo e melodioso dos pássaros e levantar com o sol quente em tons de amarelo, ser iluminado por sua luz.

Queria novamente ir de encontro a minha moradia, no caminho sentir o cheiro da grama cortada, da terra molhada e da doce fragrância² das flores, ouvir o zumbido das abelhas e desviar das grandes e exuberantes borboletas de cores vívidas.

― Mas e agora, o que há para olhar?

A mulher que eu tanto admirava teve seus braços cortados, seu longo cabelo ressecado e ela já não pode mais vida abrigar, brutalmente tiraram toda a sua beleza e do seu perfume já não posso mais me embriagar, no seus braços e seios não posso mais descansar e nem suas raízes estão mais lá.

― Como irei admirar uma cena tão triste?



― Na tristeza de um dia frio, a única chuva que me molha vem dos meus olhos.



– Nicole Marques de Araújo Costa (autora)

¹ na versão original a palavra usada foi "turbolosas", acredito que eu tinha conhecimento de não está correta, mas substituí.

² na versão original a palavra usada foi "odor", mas substituí pois em alguns lugares usam essa palavra no sentido negativo. Fora esse, também foram feitos outros pequenos ajustes.

Arte: The Black Forest by BJORN. JANUARY 17, 2017

link: https://www.bjornek.se/2017/01/17/the-black-forest/

Música que me inspirou: Pomme - Anxieté

link: https://www.youtube.com/watch?v=WphQffikt-Q

A caixa de Pandora | Nicole MarquesOnde histórias criam vida. Descubra agora