Emprego dos sonhos

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Camila mal podia acreditar: ela seria entrevistada pelo dono?

O dono de tudo?

"Puta que pariu, você só se fode, mulher! Deve estar escrito 'problema ambulante' na sua testa!"

Dante Romano era o CEO da Ravenna, ou seja, a pessoa que mandava em tudo e provavelmente faria todas as perguntas possíveis sobre a empresa, os vinhos e outros assuntos que, muito possivelmente, segundo a mente cada vez mais criativa em relação a paranoias de Camila, a própria jamais soubesse.

"Pior: tudo em italiano!"

- Tudo bem... – caminhou até a poltrona, intencionando se sentar, mas Dante foi mais rápido e afastou uma cadeira, de forma cavalheira.

"Sim, italianos são extremamente educados com as mulheres."

- Então, serei sincero, Camila. – começou ele, voltando à postura de empresário. – Geralmente eu não seleciono meus funcionários dessa forma: a Ravenna é uma empresa familiar, todas as pessoas que trabalham aqui fazem parte da minha família de sangue ou família estendida. A recepcionista, signora Camélia, por exemplo, é concunhada de meu papà, Giácomo. Mas... O fato é temos problemas em nossa comunicação. Em como estamos executando nossas atividades.

- Pelo que me foi revelado, a Ravenna faz apenas envios periódicos via e-mail marketing para sua base de clientes, correto?

- Sim. A entrega é boa, a maior parte dos usuários abre o e-mail, mas... Não se converte em vendas. Além disso, temos um perfil no Instagram, mas... Só tem 50 seguidores.

- Eu dei uma olhada no perfil antes da entrevista, Dante... Ele já existia antes de vocês virem ao Brasil?

O empresário sorriu ao ouvir a última informação. A candidata viera preparada.

- Não. O nosso público-alvo não frequenta essa rede social na Itália, mas aqui no Brasil... Parece que as pessoas acordam acessando o feed do Instagram...

- De qualquer rede social, na verdade. O brasileiro é um povo que gosta muito de conversar, contar da vida, reclamar e mostrar absolutamente tudo na internet. É reflexo do jeito brasileiro de lidar com as coisas.

- Venho notando esse jeito desde que nos mudamos, e isso tem muito tempo. Também somos gregários e sociáveis, mas o Brasil é... Singular. – sorriu. Não havia deboche ou crítica, e sim admiração, o que deixou Camila mais tranquila em prosseguir com suas considerações.

Não saberia lidar com um futuro patrão que considerasse seu país uma terra de gente inconveniente.

- Então, o objetivo da Ravenna é construir uma presença digital no Instagram com foco no público brasileiro?

- Sim. O público italiano nós já temos, mas o brasileiro é nosso maior desafio. Creio que através do Instagram, essa conquista se dará com mais facilidade.

Ele bebeu um gole d'água, que estava na mesa, ao lado de uma pilha de papeis, e continuou:

- Como disse anteriormente, não tenho costume de contratar pessoas de fora da família, mas o meu contato na loja de vinhos me passou o seu currículo e fiquei bem impressionado. Tem experiência com produtos de alto padrão, além de ser uma profissional capacitada, com várias habilidades técnicas, além de formação para além do ensino superior, e fala italiano – o que para nós da Ravenna é condição sine qua non para termos um colaborador. Fiquei curioso, por que italiano?

- Porque eu queria fechar todas as línguas românicas possíveis na faculdade. – respondeu, sorrindo. – Fiz espanhol e italiano, mas não deu tempo de iniciar no francês. E aulas de romeno em Salvador... É mais fácil baixar um app de aprendizado de idiomas e tentar por lá.

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