Capítulo 1- Sophie

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          -  Sophie Tomás O'Brien?

          - Aqui. - digo enquanto a professora faz a chamada.

           A escola é um saco. Aqui estou eu, fazendo pela terceira vez o primeiro ano e estudando com a minha irmã que é dois anos mais nova. Um pouco triste, já que esse ano faço 18 e ainda nem cheguei na metade do ensino médio, mas eu não ligo.

           - Sophie? - minha irmã me chama. Ela senta atrás de mim.

            - Diga, Jo. - reviro os olhos.

            Josephine é insuportável. Ela é o tipo de garota perfeita, e isso me irrita, não porque eu não sou igual ela, mas porque ela é muito sem sal e nunca ajuda quando quero fazer alguma coisa como colocar ovos na cadeira da professora de literatura. Fiz isso duas vezes.

               Obviamente a Josephine é a preferida de nossos pais. Notas boas, melhor aluna do curso de inglês que fazemos, e ainda dá aula de violão para os amigos. De graça. Eles vivem indo em casa e eu tenho que suportar o som do violão tocando toda terça e quinta.

              Já eu... Pior aluna da escola, tenho um namorado bem pior que eu e odeio quase todo mundo. Menos minha tia de consideração, Nice, mas ela tá morando na Alemanha agora. Ela sempre me traz chocolate de todo lugar que vai e algum enfeite. Para a Jo geralmente dá coisas como livros ou produtos de beleza. Ah, e tem a minha outra tia de sangue, Eloisa, que literalmente ficou pra titia. Ela e minha mãe são bem próximas, mas provavelmente minha mãe também prefere a Nice.

            - A mãe disse hoje pra mim que vamos ao melhor restaurante da cidade. - ela disse sorrindo.

            - Tá bom. O que eu tenho a ver com isso? - dei de ombros.

             - Você não vai? - ela ficou triste.

             - Por que iria? - ri.

             - Hoje é meu aniversário. - ela sorriu de novo.

             - Parabéns pelos dezesseis aninhos, mas eu não vou. - continuei escrevendo músicas no caderno.

              Tá, eu não toco violão nem nenhum outro instrumento, mas gosto de cantar e compor. Alan diz que minha voz é bonita. Ele deve gostar de mim, mesmo sabendo que só namoro com ele por tédio.

             - Você só é amargurada porque perdeu o Caleb.

             Dei um tapa na cara dela. Como ela ousa falar dele assim?

             Caleb foi meu primeiro namorado. Eu namorei com ele por dois anos, mas ele morreu por causa de um tumor no cérebro. Eu fiquei muito mal e repeti o primeiro ano.

             Talvez ela tenha razão. Talvez eu seja assim porque nunca me recuperei totalmente do que aconteceu. Ainda dói. Cada palavra me acerta em cheio.

             - Senhoritas Tomás? - a professora nos olhou - Vá para a diretoria agora, Sophie.

             - Não, professora. Tudo bem, ela é minha irmã. Ela só tava brincando. - Jo começou enquanto eu me levantava.

              - Agressão física é agressão física. Eu vi Sophie batendo em você sem você ter encostado um dedo nela. - meu Deus. Os professores são muito legais com ela, parece até que ela é uma celebridade.

               - Professora, eu agredi ela verbalmente. Então tenho que ir junto. - ela se levantou também.

               - Sentem-se. Mas se eu ouvir mais um "piu" as duas vão pra diretoria. - a professora ajeitou o óculos - E Sophie, você sabe que já está bem perto da expulsão, não sabe?

               - É. - respondi, sem olhar pra ela.

               - Se eu fosse sua mãe já teria te colocado em um internato. - ela falou baixo.

               Todo mundo espera que, como minha mãe é advogada e meu pai um atleta olímpico quase aposentado eu seja uma pessoa normal e boa, ou pelo menos mimada. Não esperam que eu seja tão rebelde, e isso me alegra, estar acima das expectativas.

               - Por sorte sua filha é só uma drogada do segundo ano. - ri, e ela ignorou.

              Como eu odeio a professora de literatura. E literatura.

                

   

Fire (Water-vol 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora