Capítulo 1 - A obra maldita

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Em uma larga rua de pedras, uma casa bem grande, e envelhecida, que mesmo iluminada pelo sol escaldante do meio dia, guardava o seu aspecto sombrio, foi cercada pelos trabalhadores de uma empreiteira. — Quem quer ter a honra? — Todos levantaram as suas marretas, sorridentes. — Você, Eduarda Libra! A primeira marretada é sua! — Eduarda se aproximou da porta esburacada e carcomida pelo tempo, que parecia pedir clemência para ela, mas ela não teve pena, e com marretadas, a destruiu. Após ela, todos os trabalhadores da empreiteira, atacaram a velha casa com suas marretas, sob as ordens do engenheiro. E após algumas horas, quando Eduarda quebrava uma parede interna da mansão, ela ouviu alguns ruídos por detrás dela. Era uma bola, com um nome escrito: "Bruninho". Ela pegou a bola, e deu uma pausa no serviço, para procurar o seu dono, que veio correndo ao ver o brinquedo. Era um menino, com 10 anos de idade, que brincava com seus colegas na rua. — Essa bola é minha, moça! — Pode pegar, e sair daqui! É muito perigoso pra você! — Eu digo o mesmo pra você! — Como é? — Você não sabe? — Não sei o quê, menino!? — Essa casa tem um fantasma! É a "Demo"! Meus amigos, e eu, vimos uma velha feia passando pela janela! — Haaaahahahaha! É mesmo?! — Você não acredita, né? — Vem comigo, vou te mostrar que não tem velha nenhuma aqui. E depois, você vaza dessa mansão, antes que caia uma marreta na sua cabecinha.

Eduarda percorreu toda a mansão com o menino, e não havia nenhuma senhora idosa dentro dela. — Viu só? Fantasmas não existem! — Existem sim! — Ah, tá bom. Agora vai. Vai brincar com seus amiguinhos lá fora, vai! — Eduarda olhava o menino retornando para a sua brincadeira, chutando uma bola no meio da rua com os seus colegas, quando o engenheiro se aproximou dela, puxando assunto: — Você não acredita em nada mesmo, né? Um dia, você vai precisar de Deus, e ele estará disposto a te ajudar, se nele você crer. — Não tem como eu acreditar nessas... nessas mitologias. — Não é mitologia! Deus existe, e você vai descobrir isso quando morrer! Só não quero que você descubra isso no andar de baixo! — Puxa, engenheiro Dentaku, já deu a minha hora. A gente se vê amanhã! Tchau! — Vamos para a igreja, um dia desses! Você vai gostar! — Não, obrigada. Tchau, Taiko!

Eduarda voltou para a sua casa humilde, depois de fazer algumas compras no supermercado. — Aquele Taiko, sempre me enchendo com essas bobagens. E nem dá pra discordar dela, que já fica todo irritado. — Falou, Eduarda, para si mesma, jogando seu corpo sobre o sofá da sala. Ela mora sozinha, e apesar de seu ateísmo, gosta muito de assuntos sobrenaturais. Artefatos sinistros, e livros macabros, preenchem o lar de Eduarda, que repousa assistindo aos vídeos de terror de uma influenciadora famosa, com o apelido de "Linda Lúgubre". É uma moça gótica, que tem a voz grave, e conta histórias de terror, mostrando cenas assustadoras.

Por trás do celular, na janela, Eduarda teve a impressão de alguém estar do outro lado dela, a observando. De princípio, ela ficou com medo de abaixar o celular, e o vulto, que estava no canto da janela, se movimenta para o lado, ficando fora do seu campo de visão. Eduarda colocou o celular em seu tórax, e perguntou quem estava lá, sem obter nenhuma resposta. Quando ela pegou o celular para continuar o seu passatempo, apareceu algo escrito nele, que não foi ela que escreveu: "como ousa". Ela apagou essa frase, com muita estranheza, e decidiu se trancar dentro de seu quarto, onde ela permaneceu entretida com seu celular, até pegar no sono.

No dia seguinte, enquanto tomava um banho, a porta da casa de Eduarda se abriu, com duas sombras no chão, que pareciam pés. Em seguida, a porta bateu, com tanta força, que derrubou os cosméticos da prateleira do banheiro, dando um grande susto na pedreira. Vestindo apenas uma toalha, e coberta de medo, Eduarda andou devagar pela casa, na direção da porta, que se abria novamente, rangendo. Ao chegar na porta de entrada, ela não viu ninguém. Deu as costas para ela, que bateu mais uma vez, ainda mais forte, quebrando a sua fechadura. Eduarda tentou abrir a porta, e não conseguiu. E percebeu que, ao redor da porta, na parede, surgiram várias rachaduras. — Mas, o que está acontecendo aqui? Hum... deve ser o vento, pressão do ar, ou algo desse tipo. Nah, já vi que vou ter que sair pela janela, hoje.

Eduarda voltou para o canteiro de obras, e todos estavam prestando uma homenagem, com um semblante triste, em silêncio. — Bom dia. O que aconteceu? — Uma fatalidade, Eduarda. — Respondeu, Taiko, e prosseguiu. — A casa do Douglas desabou enquanto ele dormia. Ele deve estar com Deus agora. — Nossa, que horror! Não acredito! Ele era tão jovem, legal, vai fazer falta! Como isso foi acontecer com ele, coitado? — A casa dele já tinha muitas rachaduras. Ele deveria ter consertado isso com alguns grampos. Bem que eu disse para ele. — Passando aquele momento solene, e infeliz, todos voltaram para o trabalho. E uma rachadura surgiu ao redor da parede, que Eduarda quebrava. — Eduarda! Sai daí! — Um dos seus colegas de trabalho, correu, e tirou a Eduarda a tempo. Eles quase foram esmagados pela parede, que tombou para o lado em que estavam. — Ai, quase fui pra terra dos pés juntos. Obrigada, Wellington! — Ela o abraçou, aliviada. Wellington é um homem magro, de pele negra, cabelos crespos, e muito gentil. — Hehe... de nada, Eduarda. Só fiz o que qualquer um faria no meu lugar. — Acho que nem todo mundo arriscaria morrer esmagado, por outra pessoa. Você é uma pessoa muito legal. — Eduarda deu um beijo no rosto de Wellington, e ele ficou encabulado com isso, sorrindo para ela. — Ei, pombinhos! Toda essa mansão, velha e podre, tem que sumir, e só temos 16 dias, 4 horas, e 32 minutos para fazer isso! — Caramba, Taiko! Só faltou contar os segundos! — E 8 segundos! — Completou, o engenheiro olhando para o seu relógio digital de pulso, daqueles bem baratinhos.

Ao final do expediente, Eduarda passou ao lado daquele mesmo menino, o Bruninho. Ele estava na grade que separa a mansão da calçada, olhando a demolição. — Você por aqui, Bruninho? Lembra do que eu te disse? Não entre aí dentro, é muito perigoso. — Vocês não deveriam quebrar essa casa. Vai irritar a Demo. — Falou, o menino, provocando mais gargalhadas na cética Eduarda, que fez um cafuné nele. — A Demo... vocês inventam cada coisa...

Eduarda levou um chaveiro para a sua casa, que trocou a fechadura da sua porta, e se sentou no sofá, refletindo sobre tudo o que aconteceu nesse dia. Foi quando ela percebeu uma pequena rachadura na parede da sala, que não estava lá. Ela analisou a rachadura, achando ela meio esquisita, contudo, não deu muita importância para isso, entrando em seu quarto, para descansar.

Mansão DemolidaOnde histórias criam vida. Descubra agora