No fundo das gavetas guardamos o que já não nos serve, o velho, o esquecido e até memórias.
Algumas destas coisas são lá depositadas propositadamente para as esquecermos. Outras caem no esquecimento porque nunca mais sentimos falta delas.
E depois acontece, inadvertidamente e sem aviso um dia voltarmos a abrir essa ou essas gavetas e qual não é o espanto quando, percebemos que o que lá temos dentro é apenas lixo. Não tem qualquer interesse nada do que ali está e já nem nos recordamos ao certo porque guardamos tudo aquilo. E ficamos a pensar, quem era eu nesta altura? Na altura em que enfiei toda esta tralha na gaveta para nunca mais olhar para ela? O tempo a fazer a sua magia, a comprovar-nos aquilo que teimamos em não aceitar, tudo passa. E viramos a gaveta de pernas para o ar, agora que já não tem sentido o seu conteúdo temos de reservar o espaço para as tralhas do presente. Como podemos deixar entrar o novo se insistimos em guardar o velho? No meio do caos um envelope fechado e uma ténue recordação do que contem. Os postais que se compram para guardar com mensagens que cristalizam o momento. Ficaram intactos! Preservados como se tivessem acabado de chegar. Tão direitos e imaculados como no dia em que chegaram e no dia em que foram parar ao fundo da gaveta, o tempo parece não ter passado por eles. Contudo, o tempo passou e a prova é que a mensagem que se lê, só agora faz sentido. Mesmo quando olhos veem e leem com precisão o que está escrito, se não se sentir por dentro é porque ainda não se descobriu o verdadeiro sentido das palavras. Nas entrelinhas a mensagem parece querer relembrar que mesmo quando as palavras parecem fazer sentido, temos de deixá-las ir e reservá-las para reaparecerem no momento certo. Para que o sentido tenha o seu verdadeiro sentido, são precisas as circunstâncias certas e o momento exato, nunca antes ou depois.