Capítulo 1 - Chutando o Balde

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Sexta-feira, 06:35PM.

Cebola

Eu sabia que era furada. Percebi no momento que ele me ligou. "Vai careca, se arruma aí que logo 'tô colando".

'Tava na cara que eu não devia ir, mas me enfiei num jeans rasgado mesmo assim e tive que amarrar um cordão na cintura dele, só então percebi que realmente 'tava numa pior.

Quer dizer, quem se importa com uns quilos a menos? Depois eu compensava. O problema mesmo era o fato de não ter ânimo pra comer merda nenhuma depois que ela foi embora. Ok, a culpa é minha, e eu mereço estar nessa fossa, mas porra Mônica, precisa ir 'pro Nordeste?!

Passei o moletom verde pela cabeça em tempo de ouvir a buzina exagerada do Cascão lá na rua. Nem me dei ao trabalho de gritar pra esperar. Só peguei meu celular e a carteira que estavam em cima da escrivaninha e saí chutando toda aquela zona até chegar no corredor.

— Vai sair, filhote? — minha mãe perguntou assim que desci as escadas de dois em dois degraus. Ela concordava com o Cascão no fato de que eu devia sair mais de casa, 'tava deprimido e coisa e tal. Besteira.

— Vou, mãe. O Cascão não me deu escolha — vou até ela e dou um beijo em sua testa. — Não me espera acordada.

A Maria Cebolinha só me olhou e revirou os olhos de onde 'tava sentada no sofá. Lá de casa ela era a única que sabia o que aconteceu entre a Mônica e eu, provavelmente uma das amigas metidinhas dela quem contou. Foda-se, a pirralha está um saco desde que fez 13 anos e voltou a sair com o outro peste do Dudu.

Abri a porta de casa e dei de cara com o celta prata do Cascão mais rebaixado que o normal, graças ao peso das trocentas caixas de cerveja que eu sei que ele enfiou no porta-malas. Ele ainda não tinha carteira nem idade, mas o Seu Antenor deu de presente já que faltavam só quatro meses.

— Pô, até que enfim, mocinha! — Gritou Titi do banco do carona assim que que eu entrei no carro, fazendo com que Cascão, Xaveco e Jeremias rissem tão alto quanto ele. — 'Tava fazendo a brasileira?

— Vai se foder. — Resmunguei enquanto dava um soquinho de cumprimento com os meninos. — 'Tavam aonde que chegaram em 3 minutos, mano?

— Véi, 'tava na Cascuda, nem ia dar rolê hoje, mas ela veio com uns papos estranhos sobre casamento e tal... — Cascão coçou a cabeça com a mão que não 'tava no volante. — Liguei pros moleque e corri pra cá.

Geral riu da cara de desespero do Cas.

— Mina louca, ela acabou de fazer 17 e já acha que tem que casar. — Jeremias falou, abrindo uma latinha de cerveja e equilibrando pra não derramar. — Já já só vai liberar pra você depois do matrimônio. — Zoou e todo mundo caiu na risada, inclusive o Cascão, mesmo que a dele fosse forçada.

Quer dizer, é óbvio que ele não ia contar pra turma que a Cascuda realmente não dava pra ele. Eu mesmo só fiquei sabendo num jogo de verdade ou desafio que jogamos com a Magali e a Mônica. E sabe como é, acontece no jogo, fica no jogo.

~*

O baile 'tava lotado.

Era sexta-feira, último fim de semana antes das aulas voltarem, e a galera fechou uma rua toda, tinha gente até do Pitangueiras. As vizinhas vão ficar tudo louca.

Eu não sou muito de vir e baile, mas assim que cheguei, minha carranca já foi logo mudando. Também né, não tem como: Música estourando, bebida liberada e o melhor: muita mina rebolado.

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