5 - Significa Mandar-me Embora Também

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- Mas isso não quer dizer que eu o vá escutar. – Falou sem encarar a amiga.

   Não era fácil fechar a porta na cara de alguém que tinha sido assim tão importante para ela durante tanto tempo e que de certo modo, mesmo que ela não o quisesse ver, ainda fazia parte do seu presente.

   Não tinha sido fácil e nem o tempo que dizem curar tudo tinha ajudado. O silêncio do outro lado apenas aumentou a dor. 

   Uma dor que não via hora de cessar. 

   Uma ferida aberta que não tinha como cicatrizar.

   Não entendia porque ele teve que ir embora e não aceitava que ele tivesse ido e voltado assim em tão pouco e simplesmente quisesse que as coisas voltassem ao normal como se tivessem passado uma borracha no passado.

   E ele tinha esse poder por acaso?

   Manteve-se em silêncio, não sabendo o que mais falar ou fazer, mas procurou desviar sempre que possível o seu rosto dos olhares curiosos que ela lhe mandava.

   Tinha se passado muito tempo e ela tinha colocado um ponto final na história dos dois, pelo menos na sua cabeça. Quanto ao coração isso já era outra história.

   Então nada mais que certo ignorar aquela situação.

   Já era estranho o suficiente ter que deparar-se com ele para onde quer que ela fosse dentro daquele espaço com pouco mais de 10 andares. Mas não era mau de todo o serviço e era paga para fazer aquilo que gostava. Era juntar o útil ao agradável diríamos.

   Além do mais que não tinha sido ela a escolher aquela saída, na verdade nem ela ao menos sabia o que tinha acontecido para que ambos chegassem a este ponto, mas se o destino o quis assim então quem eram eles meros humanos para intervir? Ninguém. Cada um seguiu o seu caminho. Ele primeiro e ela em seguida. Nada mais justo que se tenha resolvido desse jeito não?

- Tens a certeza em relação a isso? – Falou como se ainda esperasse uma resposta da sua parte – Não imaginas o quanto irás arrepender-te dessa decisão.

- Me arrepender? – Abanou a cabeça por um tempo até que finalmente se pronunciou sore o que tinha escutado. – Isso soou como uma ameaça.

- Onde vês uma ameaça existe uma promessa. E eu te prometo que irás te arrepender de agir assim. Não sabes do que se passou e escolhes não saber. Espero que não te enganes no meio disto tudo.. – Falou pausadamente suspirando pela coragem de falar tudo o que lhe passava pela cabeça deste esta manhã. - E peço que não o magoes. Nada mais do que isso. Se não por ele, mas pela nossa amizade. E desculpa.

- Eu me arrependo de muitas outras coisas mas não disso, te garanto. – Falou ainda de costas seguindo em direção á máquina de café. – Ele pode até ter escolhido falar hoje e pode até querer falar amanhã, mas eu não estarei a fim de escutar, e sim, esta é a minha reposta para a tua próxima pergunta.

   Falou desta vez a encarando-a como se soubesse o que ela se preparava para perguntar.

   Mas tinha como não saber o que passava naquela cabeça?

   Demasiados anos de convívio tinham permitido que a mesma a conhecesse como a palma da sua mão. Foram anos de amizade, chorando e rindo juntas, crescendo e amadurecendo, então não tinha como não ser assim.

   Mesmo que em muitos aspetos ainda fosse um livro aberto pronto a ser lido e que nessas míseras paginas algum conteúdo ainda tivesse ficado por ler, era totalmente fora do normal que algo nela despertasse hoje a sua atenção.

   "Curioso " pensou, ela nunca o defendera, então o que teria mudado.

   Tentou ler a amiga e tudo o que pode ver nela foi preocupação estampada em seu rosto, mas preferiu ignorar mesmo que isso fosse igual a ignorar um elefante numa vitrina. Ele ali estava, todos o viam mas ainda assim tinha quem escolhesse não ver. Então desta vez ela faria isso, pois sabia que a preocupação dela tinha cabelos encaracolados e tinha acabado de sair da sua casa.

   Talvez isso fosse algo a pesar no que dizia respeito a o ouvir ou não, mas não era uma decisão que ela queria tomar. Não agora e não tão cedo. E nem mais tarde para ser bem sincera.

- Apenas escuta ele. – Falou olhando para a porta. – Eu te garanto que ele ainda ali está. – Apontando assim que terminou de falar.

- De que me adianta falar sobre isso. Isso o trará de volta? – Falou parando por um bocado- Sei que não então apenas deixa as coisas como estão é melhor assim acredita.

- Porque tocar nesse assunto e usar como arma contra ele? – Falou já a gritar. – Fará diferença?

- Não. – Falou num suspiro. – Não irá mudar nada na verdade. Assim como não irá mudar em nada eu saber o que aconteceu. Ele teve opção, ele foi embora e sem falar comigo. Sem explicação.

- É isso que pensas mesmo? – Falou triste e provavelmente ficaria ainda mais com a resposta que lhe daria a amiga.

- Estou bem com a ideia de apenas ser mais uma funcionária dentro daquela empresa. - Falou colocando as coisas no seu devido lugar e indo preparar duas chávenas de café.

- Sabes bem que não é assim. O meu irmão tem muitos defeitos e posso dizer que o seu maior é sem dúvida o orgulho mas acredita que se ele escolheu falar agora, independentemente do tempo que passou é porque teve um bom motivo e eu acho que precisas saber qual foi. - Falou revirando os olhos.

   A rapariga parou por um bocado para aquilo que pareceu uma longa tomada de ar e se virando lentamente para amiga apenas questionou - Isso irá apagar todas as lágrimas?

   Assim que terminou de falar levantou a cabeça para que a amiga também conseguisse ler o seu no meio de todas as lágrimas que desajeitadas caiam do seu rosto pequeno. O que mudaria e o que ela precisava saber?

   Harry foi embora, sem falar com ela. A deixou naquele momento em que mais precisava dele.

   Sabia como ela se sentia mas sabia mais ainda que ela precisava o escutar urgentemente.

- Perdoa-me pelo que vou fazer ... - falou indo em direção á porta abrindo-a logo em seguida dando de caras com o irmão ainda nas escadas. - mas eu sinto que ambos precisam de conversar, então levanta-te irmão.

   Harry a olhou confuso e com o rosto ainda molhado não tendo dado sequer conta de que ela tinha aberto a porta até que ela tocasse ternamente o seu ombro chamando a sua atenção.

   Fez sinal para que o rapaz entrasse ao qual ele hesitante respondeu caminhando para dentro da moradia. Anne não reagiu a nada e apenas manteve o silêncio que estava antes da tentativa da rapariga de melhorar as coisas entre eles surgir.

- Anne, ele rá entrar. Não precisas de falar nada apenas de escutar. Apenas isso.. Estarei lá em cima no teu quarto arrumando as minhas coisas e irei tomar um banho para vos deixar à vontade e peço que não o mandes embora, porque isso significa me mandar embora também.


  Ninguém se pronunciou e a moça agarrou as coisas que havia trazido e seguiu até as escadas segurando o corrimão. parando por um tempo ela olhou para trás e disse -  Podes ficar com raiva de mim, e irei entender e aceitar, mas ainda assim eu preciso que o escutes.

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⏰ Última atualização: Nov 22, 2020 ⏰

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