1. Artur Correa

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Ano de 1993

Zona rural de Brejo Negro

Fazenda Desassossego


Artur


Arranco um talo de capim e levo aos lábios, após deixar a picape no posto de lavagem da fazenda, em que trabalho como médico veterinário há três meses. Escolho o percurso mais longo de volta à casa onde moro durante a semana, só para passar diante do casarão e avistar dona Vida, a jovem esposa do coronel Sampaio.


Sei que estou errado em fazer isso, mas a mulher é um encanto. Linda, simples e com ar sofrido, que adora ler romances no fim de tarde e cavalgar pelas pastagens. Eu me identifiquei com o seu riso ingênuo e seu rosto de maçãs salientes e lindos olhos claros.


Assim que me aproximo da sacada da varanda alta, vejo os seus cabelos escuros e lisos balançarem ao sabor do vento. Ajeito o meu chapéu e jogo o talo fora.


— Boa tarde, dona Vida! — cumprimento e paro diante da treliça de madeira. Tiro meu chapéu e olho para o alto para avistá-la melhor.

— Olá, doutor Artur! — Vida responde singelamente enquanto balança a sua bebê, Camilinha, e também direciona seus belos olhos verdes na minha direção.


Enrubesço. Pequenos arrepios se dissipam ao redor da boca e não a consigo mantê-la fechada e só um sorriso amplo me deixa confortável.


— Como vai Camilinha? — Tento puxar um assunto corriqueiro só como justificativa para ficar ali admirando essa moça proibida.

— Está bem. Ela só anda um pouco abusada porque os dentinhos estão nascendo.


Acho que dona Vida nem se dá conta de sua beleza e nem de que a admiro, o que, nesse último ponto, dou graças a Deus.


Sinto-me péssimo por apreciar a esposa do coronel, até pareço o lobo mal me passando de vovozinha, só que um lobo que só observa com olhos comilões e sabe que nunca vai passar disso.


Balanço a cabeça para afugentar esses pensamentos idiotas.


— Bom, não entendo nada de bebês, mas, com certeza, essa é uma situação que vai passar — digo um pouco tenso.


Ela gargalha de um jeito tímido.


— Sim, vai sim... — Vida interrompe a resposta quando coronel Sampaio se aproxima por trás e pousa uma mão em seu ombro.

— Como vai, Coronel?

— Olá, doutor Artur! — ele cumprimenta e se coloca ao lado da esposa.


Coronel Sampaio é mais baixo que eu, tem uma compleição corporal magra e rosto afilado e cheio de vincos. Ele tem 55 anos e mais parece pai ou avô de Vida do que marido.


Então, ele puxa conversa sobre o meu trabalho e conversamos sobre a introdução de uma nova raça de bovino no rebanho da fazenda e acerca da vacinação dos animais. Coronel Sampaio costuma acompanhar de perto as atividades da fazenda e discutir as decisões com os seus gerentes.

MEU ÚNICO PECADO - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora