3. Eu só quero um amor... 🎼

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Artur


A mão de Vida parece um veludo deslizando suave sobre a minha, o que me desperta pensamentos tão obscenos que os sufoco em algum lugar de mim mesmo.


Estou tenso e ansioso; por ela ser uma mulher linda e pelo coronel Sampaio ter autorizado essa dança, como se fosse o dono dela e arbitrasse sobre as suas vontades. Isso me parece assustador, afinal, sou filho único de uma viúva e sempre tive um olhar de respeito ao papel da mulher no mundo.


Por me recordar da minha mãe, não faço ideia de que assunto o coronel tem para conversar com ela. Sei que ele era amigo de Manuel Araújo, o grileiro que emboscou e matou o meu pai e nunca foi punido por esse crime. Minha mãe tem ressentimentos profundos em relação a isso. Mas o crime aconteceu há 23 anos e tampouco faço ideia se esse é o motivo que causou aquela apreensão estampada no rosto dela.


Contudo, não consigo pensar muito nesse momento. Meu senso de análise evaporou e só consigo compreender o bater descompassado no peito.


Imagino que muitos nos observem, atentos onde ponho a mão na mulher do patrão. Ainda assim, meu corpo reage como se ela fosse a garota especial e estivéssemos no primeiro encontro.


Procuro um lugar na pista que esteja à vista dos homens de confiança do coronel, para não dar margens a conversas.

Encaro Vida e sua beleza impactante que insiste em querer roubar o meu chão e cabeça, além outras coisas a mais.


Ponho uma mão em sua cintura, seguro a sua mão direita e a trago para próximo do meu corpo, embora mantenha uma distância segura, de uns quatro dedos, o suficiente para uma dança respeitosa.


— A senhora só tem que me acompanhar... — asseguro. — É bem fácil, não se preocupe.


Então, eu a conduzo num balanço lento, ao som do clássico, Eu só quero um xodó, de Domiguinhos.


Vida está meio tensa, mas segue os meus movimentos simples. Um constrangimento paira sobre nós devido a esse contato físico. A canção avança e vamos deslizando de forma discreta, entre outros casais animados, na pista de dança improvisada.


O forró é uma dança sexy e promove um contato físico gostoso. Mas evito esses movimentos quentes ou bruscos, tampouco executo passos da dança que possam aumentar o contato entre nossos corpos. Não quero constrangê-la.


Mas é impossível não me sentir atraído.


Sei que estou sendo seduzido a percorrer um caminho proibido e não consigo controlar o entusiasmo pela mulher do coronel. Preciso de muito autocontrole para ignorar o clamor do meu corpo.


A canção avança na voz do sanfoneiro:

Mas como eu não tenho ninguém, eu levo a vida assim tão só.

Eu só quero um amor, que acabe o meu sofrer...


Nossos olhos se cruzam. Observo sua boca carnuda e desejo seu sabor na ponta da minha língua, o que é algo impossível. Desvio o rosto e respiro fundo, controlando-me. Sorvo o perfume doce que exala da pele de Vida, o que me inebria.

MEU ÚNICO PECADO - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora