CAPITULO NOVE

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— Christopher? — Chamei por ele enquanto me aproximava. Ele se recompôs no mesmo instante e me olhou, sério demais. A mulher parada de frente para ele também parou de falar, ajeitando sua postura e me olhando.

— Você pode ir, se quiser. Preciso ir a um lugar e vou com meus amigos.

— Tem certeza? Quer dizer, seu pai não vai achar ruim?

— Como eu disse, já estão acostumados lá em casa com isso. Te vejo mais tarde!

Ele apenas assentiu e ficou me olhando afastar. Não quis ficar ali, interrompendo o que quer que estivesse rolando entre os dois, porque, por mais que ele estivesse em horário de trabalho, eu não seria a pessoa a interromper isso. Ele precisava se tocar sozinho que aquela não era a ocasião correta para ficar de conversa com mulheres.

Eu fiquei o trajeto inteiro calada no banco de trás, enquanto meus amigos tagarelavam no banco da frente. Eles pareciam estar tão felizes juntos que me dava certa inveja. Não que eu não estivesse feliz por eles, porque desde o colegial eu tinha servido de cupido para os dois e saber que eles se casariam era motivo de orgulho, mas pensar que minha vida não seria nem de perto feliz como a deles, me machucava.

Quando chegamos no destino, eu saltei para fora do carro e fui direto me vestir. Tínhamos trabalho demais a fazer e já faziam alguns dias que eu não ia ali.

O trabalho do dia seria num alojamento para desabrigados construído recentemente, então precisariam de muita gente para ajudar ali. Ver tanta gente naquela situação me deixava triste.

— Onde estão precisando de mais ajuda hoje?

— Na área de recreação infantil.

— Não sabia que tinham uma parte só para crianças aqui.

— Abrimos no início da semana.

— Entendi.

— Pode levar essa caixa pra lá?

— Claro!

Estava pesada, mas não reclamei, e só fui entender o porque do peso quando eu a abri e vi a quantidade de brinquedos velhos lá dentro. A maioria estava quebrado, mas as crianças ali não pareceram se importar com isso. O modo como elas avançaram na caixa, pegando aquelas coisas velhas para brincar me fez querer chorar. Eu sempre tive tudo que queria, e aquelas crianças não tinham sequer roupas decentes para se vestirem.

— Tia, como você se chama?

Olhei para baixo, vendo um menino puxando a barra do meu vestido. Abaixei-me ficando da sua altura e lhe ofereci um sorriso. — Dulce, e você?

— Pablo. — Ele fez um biquinho. — O papai vai morrer?

— Como assim?

— A mamãe disse que ele está doente, e que não pode mais sair do hospital.

Prendi a respiração por um tempo e fiquei sem saber o que falar, afinal, que resposta eu daria a uma criança que provavelmente não teria nem cinco anos de idade?

— Eu não sei meu amor, mas a gente vai pedir o papai do céu pra cuidar dele, tá? — Ele assentiu. — Vamos lá brincar com os outros?

— Vamos.

Ele me estendeu sua mão minúscula e eu o segui até o meio das outras crianças, que só esperaram eu me soltar para fazerem de mim gato e sapato. Quando dei por mim, eu já estava brincando de pega-pega com eles dentro daquele cômodo não muito grande. Corri até estar cansada demais, então me deixei cair no chão e se não todas, quase todas elas começaram a vir para cima de mim.

Proibido | VONDY (FINALIZADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora