Máscara

194 24 10
                                    

Após o cirurgião ter arrumado devidamente suas coisas, desceu novamente para a sala de estar, encontrando os outros membros da família. No caso, apenas quem pudera comparecer, fora Garp.

- Hm? – Garp virou-se calmamente – Law?! – Arregalou os olhos, gritando animadamente. Levantou-se prontamente do sofá em que estava sentado, correndo para dar ao outro um forte abraço – Quanto tempo, pirralho!

- Uuhhhh – O cirurgião tentou falar alguma coisa, porém estava colado demais no peito do velho, coisa que o impedia de se comunicar corretamente.

- Ei, Velhote, solta ele! – Ace se prontificou para ajudá-lo, porém, com o braço ainda fraco, não pudera fazer muito. Por isso, quem foi tirá-lo daquele abraço sufocante, foi Luffy.

- Vovô, larga ele! – Pulou nas costas largas de Garp, puxando-o para trás. O velho acabou soltando Law, mas deu vários punhos do amor no neto, para ele aprender que nunca deve impedi-lo  de abraçar as pessoas.

- A ceia está... – Sabo, que vinha da cozinha, parou ao ver a confusão que acontecia – Posso saber o que vocês idiotas estão fazendo?!?! – Gritou alto, fazendo sua voz ecoar por todos os cômodos da casa. Os três envolvidos pararam imediatamente com o grito do loiro – Obrigado. A ceia está pronta, vamos comer.

Ace, Luffy e Garp sentaram-se cabisbaixos na mesa de jantar, ainda com medo. Law, por outro lado, estava extremamente irritado com tudo e todos, querendo ir embora daquele lugar infernal. Todos ali eram loucos; como suportaria ficar na presença deles até o final do dia seguinte?!

Ao menos, acalmou-se com o cheiro verdadeiramente divino que emanava da comida feita por Sabo; ele era talentoso na cozinha.

Deixou um breve sorriso brotar em seus lábios. Aquela refeição iria ser melhor do que qualquer outra que fizesse.

Luffy, até então completamente focado em pensar qual comida atacaria e devoraria primeiro, ficou hipnotizado com algo novo. Um sorriso de canto extremamente lindo, com dentes brilhantes que completavam a perfeita curva dos lábios. “Então esse é o sorriso dele...”

***

A refeição ocorreu normalmente – levando em consideração o “normal” dos Monkey. Uma completa falta de educação ao ingerir os alimentos, falar de boca cheia, sujar tudo, ajudar a comer com as mãos, ou molhar as próprias roupas com alguma bebida. Law só pensava em como fora passar a Véspera de Natal com aqueles animais.

Porém, apesar de estar desconfortável com a total falta de maneiras dos outros, ficou feliz em descobrir mais sobre o garoto do chapéu de palha. Ele tinha vinte e um anos, estava cursando enfermagem pois amava ajudar os outros, tinha vários amigos, entre outras coisas. Era estranho aquilo. Law nunca foi de se importar com a vida dos outros, mas aquele caso definitivamente era uma exceção. Aquele garoto era uma exceção.

Após o término da ceia, todos se reuniram na sala de estar novamente, para conversar um pouco mais. Contudo, Luffy subiu as escadas mais cedo, já cumprimentando todos com um “boa noite”. Law ficou triste com aquilo. A melhor parte desde que chegara naquela mansão, era tudo o que aquele garoto fazia – já não tão garoto assim, mas o cirurgião sempre o retrataria dessa forma.

Então, sem motivos para continuar com os outros, se despediu também, voltando para seu quarto. Entretanto, no corredor em que seu cômodo ficava, havia uma porta – antes fechada – levemente aberta.

Não resistindo a curiosidade que lhe consumia, olhou pela pequena fresta da porta.

Dentro, as paredes eram pintadas com um tom claro de amarelo, dando um ar infantil ao lugar. Haviam alguns quadros sobre piratas, algumas fotos cheias de jovens posando com um sorriso. Porém, o mais inusitado era, com certeza, a máscara fofa de um palhaço. Por que ela estaria ali? Ele já havia a visto em algum lugar, só não se lembrava qual.

Law realmente achava estranho sentir essas coisas inexplicáveis. Desde quando se interessava por algo do gênero?

Rodou com o olhar amarelo desde a esquerda até a direita, parando ao ver o garoto divertido sentado em uma cadeira, estudando ou lendo algo.

Pelo pouco que conhecia dele, já sabia que aquilo era algo estranho.

Suspirou. O que estava fazendo? Devia ser apenas o excesso de café que bebera na última semana, somado com a quantidade absurda de plantões.

Meneou a cabeça. Sim, os pensamentos excêntricos que passavam por sua mente se deviam totalmente e somente ao estresse causado no hospital. Tudo o que precisava era um bom banho gelado para esfriar o corpo e a cabeça.

Porém, quando virou-se para continuar o caminho até seu quarto, deu sem querer um leve chute na porta, coisa que gerou um grande ruído no corredor silencioso.

- Hm? Quem está aí? – O garoto perguntou animadamente. Law, vendo que não poderia simplesmente fugir, adentrou o quarto cabisbaixo, com as bochechas ligeiramente coradas. Ele não lidava bem com momentos embaraçosos – Ah, é você, Tralf... Taraulf... Tarao... Torao! O que faz aqui, Torao?!

Law olhou para o Monkey desacreditado. Ele realmente havia errado um nome tão simples e aderido a um apelido assim?!

- Uuhh... eu... – Pretendia inventar uma desculpa qualquer, porém o livro que antes o Monkey lia, chamou sua atenção – Você está estudando?

- Ah, isso. Sim, eu fiquei de recuperação... – Inclinou a cabeça, fazendo uma expressão de puro tédio – Só tenho uma folga até dia dois de Janeiro... Ninguém merece.

O cirurgião sorriu de leve ao ver as páginas abertas do livro do Luffy. Era bom lembrar de quando estudou, em sua época de universitário. Não conseguiu evitar que a curiosidade lhe dominasse. Andou até a escrivaninha onde o livro estava, pegando-o para si e lendo as frases ali escritas. Só teve uma coisa que o deixou incomodado...

- A resposta da questão vinte e três está errada. E da vinte e cinco. E da vint-

- Já entendi! – O menor bufou, se jogando desleixado na cama arrumada – Eu não sou bom nessa matéria, ok?! – Sua voz estava abafada por conta do rosto enterrado no travesseiro – Toda essa parte teórica é... Um saco!

- Então por que escolheu fazer enfermagem? Sabia que teria de lidar com coisas do gênero.

- Porque eu quero ajudar as pessoas! Esse é o meu sonho! – Virou-se na cama de barriga para cima, encarando o teto cheio de adesivos de estrelas e planetas – Só que eu já repeti no ano passado, e provavelmente vou repetir nesse também...

Law ainda tentava entender a linha de raciocínio do garoto. Como o sonho de alguém poderia ser ajudar o outro?

- Eu ainda não entendi. Por que você escolheu fazer enfermagem?! – O cirurgião já estava irritado. Não gostava de não entender as coisas.

- Torao, você é médico, não é? – O maior afirmou com a cabeça – Então, você não se sente bem quando um paciente te dá um sorriso sincero? Ou então, quando um paciente te agradece com lágrimas nos olhos, tudo porque você fez a diferença na vida daquela pessoa?

O sorriso esperançoso e sincero de Luffy marcou e impactou por completo Law. Duas simples perguntas, onde a resposta definia bastante coisa, apesar de ser óbvia. Claro que ele se sente bem quando isso acontece! Existe algum monstro sem coração que poderia não sentir?! E, de certa forma, Law ficou levemente triste com o que o Monkey dissera. Tudo o que ele queria era ajudar os outros, mas tinha que enfrentar um obstáculo difícil.

Novamente, olhou para a máscara de palhaço pendurada na parede do quarto. Mas é claro! Aquela era a marca registrada dos animadores em hospitais infantis. Então, apesar daquele garoto ter diversas dificuldade, ainda fazia o que ama, sem deixar que nada o pusesse para baixo. Alguém realmente incrível.

Suspirou. Mal podia acreditar que estava mesmo pensando naquilo.

- Venha aqui, Mugiwara-ya. Eu te ensino essa matéria.

Os olhos do Monkey se iluminaram mais do que qualquer luz ligada no ambiente. O sorriso dado fez com que o coração de Law aquecesse e palpitasse. Não importava se estava louco; estava feliz, e isso era importante.

- Shishishi, valeu, Torao! – Luffy pulou da cama em um segundo, abraçando com força o corpo do mais velho no instante seguinte – Mas qual é a do apelido? – Perguntou assim que se sentou na cadeira ao lado do cirurgião.

- Se você me deu um, por que eu não posso te dar um também? – O Monkey deu de ombros, concordando.

E assim as horas se passaram rapidamente. Luffy adorou as aulas porque o mais velho era um ótimo professor e o Trafalgar adorou porque pôde passar bastante tempo na companhia do mais novo.

Law gostou principalmente porque conheceu mais do garoto do chapéu de palha; seus gostos, suas manias, seu jeito de ser.

Luffy era alguém simples. Gostava de seus amigos, de comida – principalmente carne – e da sua família. Tinha a mania de franzir de leve o nariz quando não entendia algo, ou batucar algo quando começava a entender as coisas. Law olhou cada detalhe com atenção, tendo cada vez mais curiosidade e interesse pelo Monkey. E, em especial, achava cada mísera coisa fofa nele. Seu rosto angelical, seu nariz levemente arrebitado, ou seu sorriso largo.

Tendo isso ocupando sua mente, nem percebeu quando a exaustão de diversos plantões seguidos chegara. Era por volta de três e meia da manhã quando começara a bocejar. Vendo isso, Luffy o obrigou a deitar e dormir em sua cama, com a desculpa que estudaria um pouco mais.

E de uma coisa Law tinha certeza: nunca dormira tão bem quanto naquela noite. O cheiro do garoto que estava impregnado no lençol o deixou extremamente confortável. Definitivamente, sua noite de sono foi ótima.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Nov 24, 2020 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Obrigado pelo Presente!Onde histórias criam vida. Descubra agora