Don't touch me.

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Notas: Postada na ZoSan Week que organizei em julho desse ano. C: Já está toda escrita, tem 20 capítulos.

Há alguns meses estava vendo o filme de Violet Evergarden e surgiu a ideia do Sanji tutor, mas não tem nada a ver com o enredo do filme ou coisa do tipo.

A história se passa numa ambientação fictícia similar ao Japão pós-segunda guerra mundial, mas isso não é o foco.

Sobre a ZoSan Week: https://www.spiritfanfiction.com/jornais/zosan-week-19609708

Capa: https://www.pixiv.net/en/artworks/16443989

Não se esqueçam de comentar.

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Em passos largos e extremamente elegantes, o novo tutor da família adentrava a mansão, com o único objetivo de colocar o jovem mestre herdeiro dos Roronoa na linha. Havia escutado dezenas de boatos sobre aquele garoto, até mesmo diretamente de antigos tutores que sofreram nas mãos do jovem. Honestamente, Sanji duvidava que um moleque abusado fosse conseguir fazê-lo sair correndo da mansão ou sequer amedrontá-lo. A verdade é que, seria bem mais fácil o oposto acontecer.

Fora guiado pela bela governanta da mansão até o dormitório do jovem e a ouviu sussurrar uma boa sorte antes de se retirar, deixando-o à sós com seu novo aluno. Assim que o viu, notou que seria mais difícil do que imaginava. O garoto estava dormindo todo jogado de qualquer forma na cama, com o corpo enroscado em cobertas e a camiseta estava levantada, deixando o abdômen moreno à mostra. Talvez o pior fosse a boca aberta derramando baba no travesseiro e emitindo os ruídos mais grotescos que um dia ouvira. Estava completamente enojado. E como se tudo isso já não fosse péssimo o suficiente, o pirralho ainda tinha o cabelo tingido de verde, o que era a coisa mais absurda de todas.

Sanji pigarreou para chamar a atenção de seu mais novo mestre e não recebeu em resposta nenhuma reação, quase como se o garoto estivesse morto. Repetiu o ato, sendo ignorado mais uma vez e parecia que o ronco aumentava mais e mais. Franziu as sobrancelhas encaracoladas e ajeitou o monóculo em frente ao olho azulado, sentindo sua paciência se esgotar. Por impulso, Sanji deu um forte chute ao lado da cabeça adormecida de seu pupilo, finalmente recebendo a atenção que merecia.

- Bom dia, Senhor Roronoa. Está na hora de iniciar as tarefas do dia. - O professor disse de forma elegante e pomposa enquanto se curvava levemente, sempre muito cortês, por mais que aquela criatura desprezível não merecesse tal tratamento. - Meu nome é Sanji e a partir de hoje até o dia de seu casamento estarei aqui para instruí-lo de seus deveres e obrigações como herdeiro da família.

Zoro, por sua vez, havia voltado a dormir quando fora chamado de senhor, era só mais um professor metido e irritante que ele não tinha paciência para lidar, ignorar era sempre mais simples. No entanto, o homem com cabelo amarelo esquisito que antes já havia o surpreendido ao quase chutar seu rosto, acabava de puxá-lo agressivamente pela gola da camiseta e o obrigado a se levantar. Ele bocejou, fingindo indiferença, mas os pelos arrepiados em seus braços indicavam o quanto estava surpreso por aquela atitude. O pinto amarelo era forte e Zoro gostava de pessoas fortes.

- Quer lutar? - Ele disse com uma estranha empolgação, mais como um convite, mesmo parecendo ser uma ameaça quando dita por sua voz preguiçosa e tipicamente agressiva. Aos olhos do outro ele provavelmente pareceu uma criança empolgada por agir de forma que não condizia muito bem com alguém que em poucos meses já faria 20 anos.

- Sinto informá-lo que treinamento físico não é uma prioridade. - Sanji respondeu da mesma forma irritante e pomposa que Zoro odiava. Aquele homem estava de parabéns, em questão de segundos já havia feito com que o odiasse e o sentimento era mútuo. Apenas sua presença já o deixava irritado. - De acordo com o cronograma de hoje, devo começar a ensiná-lo a portar-se à mesa, como tratar uma dama e a valsar para que não passe vergonha no dia de seu casamento.

- Não toque em mim! - Ignorando completamente o professor falando aquelas coisas irritantes que Zoro com certeza não tinha nenhum interesse, ele aumentou o tom de voz e bateu nas mãos do outro para retirá-las de seu corpo, assim se levantando da cama, andando preguiçosamente até o banheiro, enfiando a mão por dentro da camiseta e coçando a barriga, demonstrando completo desinteresse em toda a ladainha inútil que aquele estrangeiro queria forçar em sua garganta.

Por um segundo achou que com aquele professor teria algum tipo de diversão, mas fora tudo uma ilusão de sua mente que ainda estava dormente. O amarelo era tão entediante quanto todos os outros, provavelmente até pior. Não havia nada pior do que acordar de madrugada, pouco depois de meio dia, e já ser lembrado que seria forçado a se casar com uma mulher chata só porque era costume da família e ele já havia passado muitos anos da idade normal de um homem se casar. Odiava as tradições estúpidas daquela família que nunca pediu para pertencer, apenas estava ali ainda por causa de Kuina. Morar naquela mansão não era muito diferente de estar em uma prisão.

Zoro se trancou no banheiro, encheu a banheira com água quente e se deitou lá, pouco se importando em ter deixado o homem que deveria ser seu tutor do lado de fora falando sozinho. Em instantes ele adormeceu outra vez, voltando a roncar alto e desrespeitoso. Segundos depois, fora acordado com um forte barulho e quando olhou, a pesada porta de madeira estava caída no chão e o professor sorria de um jeito macabro... Que o deixou muito empolgado, fazendo os olhos verdes brilharem e um sorriso um tanto doentio surgir nos próprios lábios morenos. Aquele homem era diferente.

- Se acha mesmo que irei aceitar tal comportamento, está bastante enganado. - Sanji avançou para cima dele e assim que tocou nos ombros do garoto, viu o sorriso dele e percebeu que estava sendo provocado. Irritante. Pirralho insuportável. - Ficarei aqui até ter concluído com êxito meu trabalho, Senhor Roronoa.

- Zoro.

- Perdão?

- Se quer que eu responda, ao menos me chame pelo nome, não tem nenhum senhor aqui. - Zoro disse confiante, afastando as mãos do outro e se levantando completamente nu e molhado da banheira. Notou o olhar confuso do outro em si e acabou coçando a nuca, em um gesto infantil e estúpido que repetia sempre que ficava sem jeito. - Se lutar comigo, eu aceito fazer suas aulas idiotas.

O mais novo estava constrangido em demonstrar tamanho interesse na força de alguém, não era comum dele, a última vez que isso aconteceu ele era ainda um garotinho minúsculo que saiu atrás de uma garota mais velha unicamente por ela ter socado bem forte sua cara e o rendido com extrema facilidade. Da última vez as coisas não deram muito certo e ele acabou virando irmão dessa garota ao ser adotado pela família dela. Kuina já não estava mais com eles e havia deixado todas as responsabilidades em suas costas, só pedia a algum ser divino em que não acreditava que isso não se repetisse outra vez e que o tal professor que ele nem havia prestado atenção no nome não o colocasse em uma situação ainda pior do que um casamento arranjado.

Por sua vez, Sanji estava com a expressão mais surpresa e idiota que um dia demonstrou, não achou que seria tão fácil, muito menos que o fácil fosse derrubar a porta do banheiro, para convencer o garoto a obedecê-lo... Detalhes. Ainda não sabia muito sobre seu mestre, apenas que ele era difícil e problemático, nenhum outro tutor conseguiu ensinar modos a ele e torná-lo um cavalheiro, mas a principal característica era que ele gostava de treinar. Passava horas diariamente treinando o corpo, fortalecendo sua habilidade com a espada e era algo admirável em um cavalheiro. Polindo sua atitude poderia transformá-lo em alguém educado e elegante, Sanji sabia que era capaz de realizar esse milagre. Porém, não era essa a característica de seu aluno odiável que mais chamou sua atenção e sim a cor de seus olhos, tão verdes e brilhantes que se assemelhavam a mais bela esmeralda, lembrando os olhos de alguém realmente muito importante para Sanji.

- De acordo, Senhor... - Ele pigarreou no meio da frase, corrigindo-se. - Zoro. Apenas Zoro.

Eles estenderam as mãos e apertaram para selar o acordo. Logo em seguida o corpo moreno fora coberto por trás com um roupão colocado por Sanji, que não só teria que ensiná-lo como falar educadamente, como também precisaria ajudar o garoto a se comportar como um ser humano, pois desde que o viu notou que seu comportamento chegava a ser pior do que o de um animal selvagem. Zoro não deveria ficar expondo dessa forma o corpo a qualquer um que não fosse sua esposa, precisava se guardar e respeitar o futuro que teria com uma bela dama. Os dois teriam um longo e trabalhoso caminho pela frente assim que iniciassem as aulas de etiqueta.

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