Tenerife Sea || Zayn Malik ff

Prologue

Eu não gostava daquele balanço. Não, nem um pouco. 

Fazia eu me lembrar de Faith, e do quanto eu odeio o fato de que ela não está aqui para rir do quanto pareço uma criança me balançando assim, e como meus cabelos voam. Ela não está aqui para tirar uma foto e colar em seu mural com bordas prateadas de purpurina, e seus olhos azuis nunca mais vão me encarar durante a noite enquanto ela cobre meu corpo com a manta. 

- Morg, você tá atrasada pra aula de reforço... de novo. – Nordin disse pela terceira vez. Eu sabia que na quarta ele sairia puxando minhas orelhas até a sala de Religião, o que me fazia querer rir, mesmo com a lembrança latente de Faith. Ele me encara com um olhar reprovador, então deixo meus pés desacelerarem o balanço lentamente, até eu só estar simplesmente sentada ali, com a batata chips na mão como uma criança que caiu do berço. 

- É... – Ele balança a cabeça em afirmativa e eu desço do balanço, enfiando o pacote de chips na mochila desmazeladamente. Consigo ouvi-las se espalhando assim que começo a me mover. 

- É melhor eu ir, certo? – Ele pergunta retoricamente, vindo até mim e me dando um beijo na testa. – Não se atrase.

- Tudo bem. – Digo, sorrindo para ele e acenando enquanto o vejo sumir pelas árvores que haviam entre o estacionamento e o parque. Suspiro pesadamente ao ver que estava sozinha mais uma vez. 

Caminho pelo campo de areia até a entrada da escola. Ajeito minha mochila no ombro e subo as escadas, indo até a última sala do último corredor. Na porta está uma placa vermelha escrito "Don't disturb". Dou três batidinhas rítmicas na porta, entrando em seguida. Todos os meus colegas de classe da aula de reforço já estavam lá com seus livros em mãos e seus egos na manga, prontos para conseguir uma notinha extra com as perguntas do professor. E, claro, com os elogios que eles com certeza fariam. 

- Tudo bem, Srta. Le Fay? – O Sr. Winkler me pergunta, desinteressado. – Parece um pouco pálida. 

- Ela está sempre assim. – Escuto uma das garotas murmurar para a outra, que ri discretamente. Solto a respiração devagar, contando até dez para não esbofeteá-la até o nariz sangrar. Isso me geraria uma detenção de pelo menos dois sábados e eu não quero ter que acordar cedo mais uma vez na semana. Não quando posso evitar. 

- Estou bem. – Sento na última cadeira, como sempre. Todos os alunos sentam na frente porque, por algum motivo, eles têm um motivo para passar em Religião. Eu só estou aqui porque não parece certo faltar nas aulas de reforço. Ouço a voz rouca de Sr. Winkler antes de deixar minha mente vagar.

- Então, voltamos a falar daquele tal menino Jesus...

[...]

- É isso, pessoal, vejo vocês quinta que vem. – Sr. Winkler diz, entregando uma apostila para cada aluno que sai pela porta. – Srta. Le Fay, eu sei que não gosta da minha aula, mas poderia parecer pelo menos um pouco mais interessada, afinal, já estamos no fim do semestre. – Ele não altera a voz e nem parece grosseiro, então engulo qualquer argumento grosseiro que poderia formar em cinco segundos. 

- Desculpe, Sr. Winkler. – Digo, com a cabeça baixa, pegando a apostila. Ele dá um tapinha amigável no meu ombro antes que eu saia pela porta, removendo a plaqueta da maçaneta. Decido não pegar carona com Scarlett hoje, e sim ir a pé para casa. O caminho é tranquilo; dou uma olhada na apostila, mas nada me interessa. 

A trilha até em casa é totalmente uniforme, de modo que não me canso de andar. Assim que avisto o portão, me deparo com o velho Ford azul escuro de tio Michael; abro um sorriso no mesmo segundo, correndo para entrar e deixando a mochila ao lado da porta que escancaro, encarando os mesmos olhos castanhos em que eu me deixava vagar há tanto tempo. Ele abre os braços enquanto sorri e eu corro até ele, o abraçando de uma forma tão sufocadoramente insana que fico ofegante.