600 THz (ciano)

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1984

Taehyung estava aproveitando o sol da meia estação beijando sua pele. Estava com os olhos fechados para se concentrar na sensação da pele quentinha. As costas encostadas no banco da praça e as mãos apoiadas nos joelhos. Era bom sentir a brisa da tarde no rosto. Gostava do tempo assim, o sol quentinho mas com vento suficiente para que ninguém derretesse de calor. Dava uma sensação de vivacidade e, talvez, até liberdade. Não a mesma liberdade que ele encontrou na fotografia e no abraço de Jeongguk, era diferente.

Provavelmente porque dessa vez era uma liberdade física. Não que ele estivesse preso ou amarrado antes, nada disso. Porém, depois do pequeno incidente com o carro dos Jeon meses antes, ele estava sob constante vigia. O tempo todo. Era de casa para escola, da escola para a sorveteria e da sorveteria para casa. Ai dele se chegasse cinco minutinhos atrasado em casa... Era sua avó tagarelando em seu ouvido sem parar. Sim, o menino tinha completado 18 anos há pouco mais de três meses, mas isso não significava nada para ela. Enquanto estivesse morando sob o teto dos seus pais, sabia que tinha que respeitar as regras deles. Inclusive os castigos.

Nem Jeongguk, que era quem estava dirigindo mesmo sendo menor de idade e quem tinha pego o carro dos pais sem autorização, recebeu um castigo tão longo. O mais novo só ouviu um longo sermão e ficou de castigo por um mês. Tudo bem que a culpa que ele sentiu quando viu o Kim no hospital e o fato de precisar ficar duas semanas afastado dos treinos por causa dos pontos que tinha levado já eram punição mais que suficiente. Ele tinha ficado miserável nesse período. Pelo menos, continuavam se vendo todos os dias na escola e, quando o castigo do mais novo acabou, ele ia visitar o mais velho na sua prisão domiciliar.

— Você é o mais velho, Taehyung, deveria ter agido com responsabilidade — foi o que sua avó disse. E ele sabia que ela não estava errada. Especialmente porque ele ainda se sentia culpado por ter assustado Jeongguk e feito com que ele pisasse no freio rápido demais.

A pior parte de tudo é que toda essa situação o impedia de ir ao estúdio do senhor Jung. Estava há meses sem pegar numa câmera fotográfica. Estava se sentindo tão triste. A cada cena bonita que via na rua, ele ficava desanimado. Queria tanto poder tirar fotos. Mesmo que fosse as fotos sem graça 3x4 que tirava no estúdio. Só queria usar uma câmera de novo.

Sacudiu a cabeça tentando não pensar nisso. Durante todo o tempo de castigo tentou se concentrar em outras coisas. Como, por exemplo, o fato de que faltavam apenas poucos meses para se formar na escola. Nem conseguia acreditar que estava tão perto. Mas ele tentava evitar pensar longe demais porque seu futuro era preenchido por mais incertezas do que certezas.

E agora fazia quase uma semana que tinha recuperado sua liberdade finalmente. Quase uma semana em que não precisava informar sua avó de cada passo que dava, nem ficar preso dentro de casa durante o fim de semana. Então, estava determinado a aproveitar cada momento por mais simples que pudesse parecer, inclusive aproveitar o solzinho de sábado sentado sozinho na pracinha.

Ajeitou a aba do seu boné para trás. Seu cabelo, pela primeira vez na vida, estava mais comprido. Considerava um pequeno ato de rebeldia. Não estava gigantesco, mas o suficiente para as pontas ondularem de leve e chegarem ao seu pescoço. Abriu os olhos quando sentiu algo gelado encostar em sua mão.

— Olá, neném! — cumprimentou o cachorrinho que estava com o focinho repousando em sua mão.

Era um vira-lata de pelagem escura. Tão fofinho e dengoso. Taehyung já o conhecia porque o animal sempre rondava pelo bairro. Não tinha um dono oficial mas era cuidado pela maioria dos moradores. Ele esfregou a lateral do rostinho com a ponta de seus dedos, o carinho aceito de muito bom grado. O cão se aconchegou mais ainda, recostando-se contra a cicatriz que o Kim tinha ganhado do acidente. Uma linha fina e quase imperceptível na lateral do pulso.

O prisma em meu olhar | taekookOnde histórias criam vida. Descubra agora