Por que tinha que ser a Carol ?

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Abro a porta do meu quarto e avisto duas garotas dentro. Ambas estão desfazendo suas malas e se viram rapidamente para minha direção. A única diferença que percebi nelas, é o cabelo. O de uma é loiro e o da outra é castanho. Acho que são gêmeas.

- Olá! - as duas dizem ao mesmo tempo voltando rapidamente para suas malas.

- Oi. - digo indo em direção a cama que está desocupada.

- Ah, se você quiser escolher outra cama, tudo bem, não temos problemas com isso. - diz a de cabelos castanhos.

- Não, tudo bem. Essa cama está ótima.- respondo com um sorriso.

Começo a desfazer minha mala e encontro no fundo da mala uma pacote esquisito. Abro e encontro meu celular e um bilhete da minha mãe que diz:

Filha, coloquei seu celular escondido de seu pai porque sei que você não vai conseguir ficar sem suas músicas. Mas, nada de ligar para Tiago, ok? O fone de ouvido está misturado com suas roupas.
P.s: Desculpe pelo tempo que você vai levar para desenrolar.
Bjs. Te amo.

Viro minha mala de cabeça para baixo fazendo tudo que está dentro dela cair em cima da cama. Depois de alguns segundos procurando o fone, finalmente encontro.

- Porra, vou levar um século para desenrolar isso aqui. - falo pensando alto.

Elas olham pra mim.

- Não, estava falando sozinha. - digo - Pensando alto. - me corrijo. - Quer dizer, não quero que pensem que falo sozinha.

Elas começam a rir.

- Calma, tipo, quer dizer, isso é normal né? Eu também faço isso. - diz a de cabelos loiros.

- Obrigada por dividir seu segredo mais obscuro comigo. - digo rindo.

Elas riem também.

- Gostei de você. Qual é o seu nome? - a de cabelos castanhos pergunta.

- Fernanda. E o de vocês? - pergunto.

- Bianca. - a loira diz.

- Isabela. - a de cabelo castanho diz.

- Legal. Sempre quis ter colegas de quarto com o nome Bianca e Isabela.

- Mentirosa. - diz Bianca rindo.

- Ops. Você me pegou! - digo rindo. - Vem cá, vocês sabem onde fica a cantina? Minha barriga tá quase grudando nas costas.

- Sim, eu te levo lá se você quiser. - diz Isabela.

- Claro. Obrigada.

Ela vai em direção a porta e eu vou atrás. Ainda no corredor ela me pergunta:

- Você é a primeira pessoa que nos conhece e não pergunta se somos gêmeas. Por que?

- Porque é óbvio né. Vocês são iguais. - digo rindo.

- Verdade. - diz ela sorrindo.

Quando chegamos na cantina, percebo que ela está meio vazia, e pergunto:

- As pessoas não comem aqui ?

- Claro, mas você sabe que horas são?

- Na verdade não.

Ela pega seu celular e diz:

- São 16:00. Devem estar todos assistindo ao primeiro jogo de futebol do ano. É meio que obrigatório, sabe. Tipo, quase a escola inteira está lá, perfeito para conhecer novas pessoas.

- E porque você não está lá ? - digo pegando meu lanche.

- Não gosto muito de futebol, nem minha irmã. Você deveria ir, já que é nova aqui. Eu te levo lá, se você quiser.

- Ok. Eu agradeço, mas não sei se é uma boa idéia. Além do mais, vou pegar o jogo pela metade não?

- Não, na verdade nem começou ainda. Só começa as 16:30, mas é que as pessoas normalmente vão bem antes pro campo.

- Ok, mas eu recuso mesmo assim.

Eu não quero conhecer gente nova, não ligo pra isso. Prefiro ligar pra Tiago e contar as novidades. Minha mãe não vai saber mesmo. Tenho que aproveitar enquanto meu pai não percebe o sumiço do meu celular que ele provavelmente deve ter colocado no seu cofre, como minha mãe é a única que sabe a senha além dele, logo ele vai saber que foi ela é daí eles vão brigar e por fim vão acabar vindo confiscar meu celular, me deixando com um ipod. Fim da história. Isso deve acontecer daqui a uma semana, no domingo, que é o dia que ele abre o cofre pra pegar o dinheiro pra pagar as contas na segunda-feira. Hoje ele já abriu, então não há riscos.

Voltamos para nosso quarto e ligo pra Tiago depois de arrumar minhas coisas no guarda-roupa.

- Como você conseguiu recuperar seu celular? - pergunta ele com uma voz de assustado.

- Não mereço nem um "Oi, amiga minha que mora no meu coração, como você está?" - digo rindo.

- Oi amiga minha que mora no meu coração, tudo bem? - pergunta ele. - Como você conseguiu recuperar seu celular? - continua ele.

- Era pra ter dito " Como você está?" e não "tudo bem?", soa mais verdadeiro.- eu o interrompo rindo e continuo - Estou bem, obrigada. Foi minha mãe que me deu escondido, mas meu pai deve descobrir isso em uma semana.

- Cara, sua mãe é maravilhosa. Por que eu não tenho uma dessas?

- Tão maravilhosa que concordou em me colocar nesse colégio interno.

- Mas, você mereceu. Você usou drogas, ué.

- Claro, porque fui eu que me ameacei o ano inteiro de contar pra todo mundo meu segredo se eu não usasse drogas como eu tinha prometido. Fiz tudo sozinha. - eu falo sussurrando.

- Eu tava só brincando. Você falando assim, eu pareço o pior amigo do mundo. Eu me arrependo tá.

- Pelo menos isso né.

- Eu só queria que você experimentasse um pouco mais da vida. Eu nunca contaria seu segredo de verdade. Você sabe.

- Ok, eu já esqueci isso, já te desculpei, ta tudo bem, vamos esquecer. Mas, como está o envolvido?

- An?

- Luan, Idiota.

- Ah, sim. Eu o vi hoje aqui na praça.

- Sozinho ?

- Sim.

- Tiago, diga a verdade.

- Ele tava beijando aquela Carol. Pronto, satisfeita?

- Ah, você acha que eu ligo? Claro que não.

- Eu sei que você ainda liga, mas não deveria. Segue a vida, você sabe que ele nunca vai te perdoar. Aproveita o colégio novo e tenta conhecer novas pessoas.

- Ok. - digo sem saber mais o que dizer.

- Fê, não fica assim. Ele não gosta mais de você, segue a vida.

- Quer saber? Você está certo. Eu preciso desligar, tchau. Beijo, fica bem.

- O que você vai fazer? FERNANDA! Não ouse desligar sem me dizer o que você vai aprontar! FERNANDA!

Desligo a ligação e peço a Isabela pra me levar até o campo. Tiago tem razão. É hora de desapegar do passado.

Como fazer alguém não se apaixonar por vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora