Capítulo 04

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LUNA

Olhava para o copo a minha frente, antes cheio d'água, enquanto Penny atendia os viajantes que encostavam a procura de algo qualquer. Ela deixou a televisão ligada para que eu pudesse absorver um pouco de informação, era quase meio dia, minha barriga reclamava com rosnados furioso além dos incômodos musculares, mas mesmo assim, eu estava muito contente com uma água gelada.

Meus olhos, corriam rapidamente pelas letras na tela, era o jornal local, neste momento, eu já sabia de algumas coisas relevantes, uma delas, era que eu estava em Nashville, cidade do Tennessee. E pode ser, não tenho certeza, mas, pode ser que eu tenha encontrado uma ajuda. 

Penso e desvio o olhar ate a balconista do estabelecimento, a verdade, é que Penny acabou ouvindo meu escândalo no banheiro enquanto passava o pano no chão do outro lado da porta.

— Certo. Prossiga com sua história. Quer dizer, que você veio do Texas, uma forasteira...

Ela parece querer soar bem humorada e força o sotaque das pessoas da minha cidade, e sinceramente, nem mesmo eu falava daquele jeito, mas me permiti sorrir a ela de forma que chegasse aos olhos. Minha mãe não era natural do Texas, minha professora do balé comunitário também não, e foram as duas pessoas com quem mais convivi acabei perdendo a identidade da região na trajetória.

— Sim, não era parte dos meus planos atracar por aqui. - Na verdade, eu não havia definido um local como destino, ela não precisava saber. - Mas talvez eu possa ficar...

— Luna, Luna. Luna, certo? Me ouça, vamos por partes.

Calo-me e assinto em concordância, minha mente estava conturbada, meus pensamentos completamente desorganizados e meu corpo implorava por uma cama... Ou qualquer superfície lisa onde pudesse se jogar, bocejei pela décima quinta vez, meus olhos lacrimejaram e qualquer coisa que Penny fosse dizer, parou na garganta e voltou para dentro.

— Como disse que se chama mesmo?

— Luna Ellis D'lacqua.

— Chegou a Nashville e pretende ficar?

— Eu só quero uma chance de recomeçar e voltar para casa com uma nova perspectiva de vida... É só isso.

— Aqui atrás tem um quarto, vá descansar.

— O que? - Indaguei depois de alguns segundos para entender o que ela havia dito.

— Você não é perigosa e está exausta demais para render alguma coisa. Vai dormir, já está me dando sono.

Pisquei desnorteada e confusa, estava tão lesada assim? Ergui a cabeça novamente e Penny abria a porta atrás do balcão, ela apontou uma outra porta a esquerda mais ao fundo e sorriu com amabilidade. Eu não era perigosa, mas e se ela fosse? Por favor Deus, eu não tenho tempo para isso. Desci do banco e dei a volta indo até a porta que me foi aberta.

— Isso é sério? Penny, muito obrigada.

— Tem um pacote de biscoitos dentro da primeira gaveta, pode comer, se me ajudar aqui fora quando acordar, estamos acertadas.

Me segurei para não abraçar aquela mulher, me contive, limitando-me a um sorriso grato, muitíssimo grato a ela, segui para o local indicado, abri a port, perdi alguns minutos tateando a parede atrás de um interruptor, e quando liguei a luz, encontrei um cômodo aconchegante, com uma cama, de iluminação amarelada, uma poltrona antiga, e ao lado, uma cômoda, tinha fome, mas eu não era mais capaz de me sustentar em pé, sem hesitar me lancei sobre os lençóis e profundamente como se precisasse disso para sobreviver, adormeci.

~*~*~

Não sei por quanto tempo dormi, sentia ter apagado instantaneamente assim que deitei a cabeça no travesseiro, e provavelmente dormiria bem mais, entretanto, batidas na porta me despertaram, sentei-me na cama sentindo-me 50kg mais leve, ouvi as dobradiças cantarem e o quarto ganhou uma iluminação adicional de luz branca.

Um SentidoOnde histórias criam vida. Descubra agora