Capitulo 5: Embate

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DAVID SANTIAGO

Desço os últimos degraus da escada sentindo o cheiro de massa pairando no ar, a televisão está ligada em algum programa infantil e sapatos lilás estão jogados no tapete. Maria Alicia já está acordada, estranho na mesma hora pois ela demorou pra dormir ontem a noite e não tem costume de acordar sozinha pra ir a escola.

— Maria? — Chamo por ela após analisar o cômodo da sala e não a encontrar, sigo até a cozinha ao ouvir um ruído suspeito.

— Aí meu Deus. — Ouço ela murmura de dentro do cômodo antes que eu entre, franzo o cenho e sigo naquela direção no mesmo momento que ela grita — Não entra!! — Seu pedido não é ouvido, não quando eu a conheço o suficiente para saber que estava fazendo algo que não devia.

Tanto que assim que atravesso a porta da cozinha e a encontro coberta de mel e cobertura de morango não consigo disfarçar o meu aborrecimento.

— Maria Alicia..— murmuro pasmo enquanto me aproximo, ela tem as mãos sujas de mel e a boca coberta de morango, sabendo que está errada abaixa a cabeça e começa a limpar as mãos na blusa do pijama.

— É uma história engraçada papai, você vai rir muito. — Ela tenta amansar o seu lado e abre um sorriso nervoso.

Nada que ela fale vai servir para a livrar de um esporro, a ilha da cozinha está coberta da cobertura vermelha gosmenta e o chão com poças de mel que pinga lentamente no armário de madeira.

— Eu posso explicar, pai.

— Eu estou esperando por uma explicação que não me faça ficar bravo com você, Maria Alicia. — Ela estremece com meu tom de voz mas não faz cara de choro, pelo menos ela não é de correr dos seus problemas.

— Como a Lisa não tinha chegado ainda eu não vi problemas em pegar o resto das panquecas de ontem e comer, estão no micro e eu só tive um probleminha com a cobertura mas nada muito grave papai. — Ela torce os dedos — Aí eu fui pegar o mel ali na prateleira só que você pode ver que é muito alto, então eu peguei um banquinho e subi. — Meu peito se aperta só de pensar na possibilidade dela caindo do banco e se ferindo — Só que não deu muito certo porquê caiu na minha cabeça, e nossa,  machucou. — Perco todo o resto da minha paciência quando vejo ela tocar a cabeça com a mão suja de mel!— Então...

— Chega.. — Peço sem cabeça pra ouvir mais nada.

— Mas eu não terminei...não fica bravo antes de eu contar tudo papai. — seu tom de voz muda ficando mais fanho e manhoso, inspiro fundo e esfrego a testa me questionando se vale a pena ficar puto com ela pra mais tarde estarmos bem, mas ao mesmo tempo me lembro que sou seu pai e se ela não receber uma bronca vai fazer novamente só por saber que pode se safar.

— Não quero que venha fazer qualquer coisa na cozinha sozinha, é perigoso e você pode se machucar, da próxima vez procura um adulto, estamos entendidos? — Ela maneia a cabeça pra cima e para baixo exageradamente.

— Tudo bem.

Meia hora mais tarde ela já está limpa, estou descendo com ela já vestida com o uniforme da escola e os cabelos recém secos pelo secador, me rendeu um bom tempo e iria chegar atrasado na Delegacia.

— Tchauzinho Lucy! — Ela acena para o ursinho que ela é obrigada a deixar em casa, foi um inferno total fazer ela desapegar desse urso pra ir a escola sem ele, foi o primeiro presente que ela ganhou assim que descobri a gravidez e desde então ela não larga por nada nesse mundo.

Delegado Santiago: A última missão Onde histórias criam vida. Descubra agora