Capítulo 2: Final de um ciclo vicioso.

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JÚLIA PENNA

Tento me concentrar nas palavras que são ditas durante a reunião com a rede de câmaras de bronzeamento, a filial aqui em São Paulo foi aberta recentemente e o fluxo de clientes está cada vez maior e com isso não hesitei em fazer o investimento em novas máquinas para o salão.

No entanto, tudo que estava sendo repetido eu já li duas vezes no contrato a caminho daqui, aguardo em silêncio que a minha advogada e a Andreia do financeiro acerte os pingos nos is para poder assinar com a compra e retornar para o Rio de Janeiro, a minha vinda até aqui foi apenas para assinar um contrato com três folhas e ver como anda o funcionamento do estúdio.

— Te achei um pouco desligada na reunião, está preocupada com algo? — Paula, minha advogada, diz assim que deixamos a sala.

— Problemas com o Erick e a sua fase com drogas.

Não tenho problema em falar sobre qualquer coisa com Paula, a conheço a anos e ela praticamente me viu criar o Erick.

— Se quiser eu levo ele pra dar uma volta de viatura, Anderson vai amar meter apavoro nele. — Ela cita o seu namorado que atua como policial na civil, acabo rindo só de imaginar Anderson abordando um Erick com os bolsos cheios de drogas.

— Deveria fazer isso, mas isso vai levar a perguntas como "Onde você comprou isso?" "Você é usuário ou traficante?" e Erick mente muito mal.

— Você sabe com quem ele anda comprando?

— Gostaria de não saber. — Entro dentro do elevador, aperto o botão do térreo e solto a respiração — É na favela, descobri ontem que ele ligou pra o conhecido daquela região pra comprar drogas. — Não menciono o parentesco com o Águia, Paula não sabe desse lado da minha vida.

— Eu pensei que depois que eu fui atrás daquele mauricinho que vendia pra ele, ele tivesse parado.

— Eu também pensei, mas dessa vez ele arrumou uma nova fonte.

— Se você precisar de qualquer ajuda Ju, você sabe que é só falar comigo

— Obrigada, Paula. Vou ver o que eu faço a respeito disso, se eu proibir o Erick de não ir na favela não duvido nada que ele encontre alguém que venda, se eu tirar o dinheiro eu não gosto nem de pensar no que ele pode fazer pra conseguir a grana.

As coisas eram tão fáceis quando ele não conhecia essas coisas, nunca pensei que fosse sentir falta do Erick de dez anos que só jogava bola e passava o dia inteiro jogando videogame, agora além de fazer tudo isso ele adicionou fumar maconha e chegar tarde nos finais de semana a lista, e se tem algo que eu não sei é até quando eu vou conseguir segurar esse garoto. 

Me despedi de Paula e a Andreia assim que cheguei ao térreo, Paula tinha uma agenda cheia em São Paulo hoje e Andreia voltaria pra o Rio em breve. Eu fui direto pra a Dourado's Bronze, e por ser em uma zona afastada de São Paulo o caminho feito foi longo e eu preenchi o silêncio com uma sequência inteira de Gamadinho enquanto dirijo.

Fui chegar no estúdio por volta das três, a única que sabia da minha vinda aqui hoje é a gerente do estabelecimento mas pedi que o funcionamento continuasse o mesmo, nada de cerimônias.

— Mulher, você já foi mais bronzeada. — Melânia brinca assim que põe os olhos em mim, sorrio enquanto caminho em sua direção.

— Gostaria de ter tempo pra passar alguns minutinhos na máquina. — a cumprimento com dois beijos no rosto — É dois beijinhos, deixa de ser fresca. — Ela gargalha assim como as meninas que estão próximas.

Delegado Santiago: A última missão Onde histórias criam vida. Descubra agora