CAPÍTULO 4

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                           Bispos

Ele suspirou cansado. Mais uma ideia frustrada. Ela não estava indiferente a isso. Sentou-se ao seu lado e pousou a cabeça em seu ombro como da primeira vez que teve coragem para chegar perto dele enquanto ainda estavam no colegial.

-Listas não vão funcionar. Temos que pensar em outra coisa. – Sua voz saiu cansada e ele apenas assentiu com a cabeça. 

Novamente o silêncio os perturbava. Era sempre assim: hora ou outra o ritmo deles diminuíam e o silêncio tedioso os rondava.

- Vou pegar um vinho. Talvez precisemos mesmo de álcool. – Ele não esperou por uma resposta e se dirigiu a cozinha. Não demorou muito para ele regressar trazendo as taças cheias.

–Que se dane a etiqueta, precisamos de muito álcool.

Ela riu com o comentário, para ele agir de maneira “inapropriada” era porque sua paciência já estava em seu limite final. Como ela gosta, em tempos antigos, de o ver assim: agindo tão diferente do seu habitual 100% certinho.

Percebendo a garrafa já na metade ela levantou rápido do sofá, no gesto estapafúrdio acabou por derrubar vinho no tapete. Um pânico sem sentido a tomou e ela correu à cozinha a procura de matérias de limpeza.

-O que está fazendo? – Perguntou ele correndo ao seu encontro. Ele não entendia o pavor que viu no rosto dela.

- Preciso limpar, serio me desculpe por isso. – Enquanto tentava limpar o tapete ele apenas ficou escorado na parede da sala a observar. –Você não vai dizer nada? Eu acabei de manchar seu tapete.

-É apenas um tapete. Deixe isso pra lá. –Ele deu de ombros e tirou os materiais de limpeza de sua mão.
Ela o olhou torto por um tempo tentando analisar quem era aquele em sua frente. Certamente não era o cara neurótico com quem fora casada.

-Certo, o que você fez com o verdadeiro Marcos? –Perguntou em tom de brincadeira, mas a verdade que ela realmente estava curiosa sobre essa versão dele. Há, no mínimo, seis meses atrás ele estaria surtando pela mancha escura no tapete claro e ela teria que ir a loja mais próxima para substituir o item.

- Ele se deu conta que era um neurótico chato e irritante. – Ele estava sério, aquilo soava verdadeiro. – Acho que isso era um ponto contra não é? Todos os meus surtos de mau humor por besteira?

- Com toda certeza sim, mas fico feliz que você se deu conta. – Ela não poderia mentir para ele, nunca o fizera antes e não iria começar agora. – Acho que uma versão sua menos neurótico é melhor para humanidade. – Terminou tentando descontrair a situação.

- Bem, obrigado? Eu acho. – Deu-lhe um riso amarelo e passou as mãos nos cabelos. – Isso foi um avanço certo? Agora sabemos que tenho um ponto contra.

- Podemos considerar um avanço. Vamos continuar assim. Você fala o que acha que é um ponto negativo seu e eu um meu.

- Ok, “é mais fácil vermos defeito em nós que em terceiros”.

- Frases feitas funcionam hem?! –Disse rindo e ele a acompanhou.

-Bem, as damas primeiro.

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