Bispos
Ele suspirou cansado. Mais uma ideia frustrada. Ela não estava indiferente a isso. Sentou-se ao seu lado e pousou a cabeça em seu ombro como da primeira vez que teve coragem para chegar perto dele enquanto ainda estavam no colegial.
-Listas não vão funcionar. Temos que pensar em outra coisa. – Sua voz saiu cansada e ele apenas assentiu com a cabeça.
Novamente o silêncio os perturbava. Era sempre assim: hora ou outra o ritmo deles diminuíam e o silêncio tedioso os rondava.
- Vou pegar um vinho. Talvez precisemos mesmo de álcool. – Ele não esperou por uma resposta e se dirigiu a cozinha. Não demorou muito para ele regressar trazendo as taças cheias.
–Que se dane a etiqueta, precisamos de muito álcool.
Ela riu com o comentário, para ele agir de maneira “inapropriada” era porque sua paciência já estava em seu limite final. Como ela gosta, em tempos antigos, de o ver assim: agindo tão diferente do seu habitual 100% certinho.
Percebendo a garrafa já na metade ela levantou rápido do sofá, no gesto estapafúrdio acabou por derrubar vinho no tapete. Um pânico sem sentido a tomou e ela correu à cozinha a procura de matérias de limpeza.
-O que está fazendo? – Perguntou ele correndo ao seu encontro. Ele não entendia o pavor que viu no rosto dela.
- Preciso limpar, serio me desculpe por isso. – Enquanto tentava limpar o tapete ele apenas ficou escorado na parede da sala a observar. –Você não vai dizer nada? Eu acabei de manchar seu tapete.
-É apenas um tapete. Deixe isso pra lá. –Ele deu de ombros e tirou os materiais de limpeza de sua mão.
Ela o olhou torto por um tempo tentando analisar quem era aquele em sua frente. Certamente não era o cara neurótico com quem fora casada.-Certo, o que você fez com o verdadeiro Marcos? –Perguntou em tom de brincadeira, mas a verdade que ela realmente estava curiosa sobre essa versão dele. Há, no mínimo, seis meses atrás ele estaria surtando pela mancha escura no tapete claro e ela teria que ir a loja mais próxima para substituir o item.
- Ele se deu conta que era um neurótico chato e irritante. – Ele estava sério, aquilo soava verdadeiro. – Acho que isso era um ponto contra não é? Todos os meus surtos de mau humor por besteira?
- Com toda certeza sim, mas fico feliz que você se deu conta. – Ela não poderia mentir para ele, nunca o fizera antes e não iria começar agora. – Acho que uma versão sua menos neurótico é melhor para humanidade. – Terminou tentando descontrair a situação.
- Bem, obrigado? Eu acho. – Deu-lhe um riso amarelo e passou as mãos nos cabelos. – Isso foi um avanço certo? Agora sabemos que tenho um ponto contra.
- Podemos considerar um avanço. Vamos continuar assim. Você fala o que acha que é um ponto negativo seu e eu um meu.
- Ok, “é mais fácil vermos defeito em nós que em terceiros”.
- Frases feitas funcionam hem?! –Disse rindo e ele a acompanhou.
-Bem, as damas primeiro.
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XADREZ
Storie breviSobre um tabuleiro de mármore escuro as peças estavam dispostas. Cada movimento, calculado ou não, despertava certa angustia no par que ali jogava. Grandes guerras podem ser travadas em pequenos passos. Suas mentes, já confusas pelo tempo ali gasto...