We Are Family, Right?

A Ovelha E O Vinho

Eu definitivamente não tinha conhecimento sobre todas as coisas que regem o mundo, isso não é algo tão distante da realidade de qualquer humano e, claro, eu poderia ser questionada sobre a certeza do meu nome, certo? Devido ao acidente as coisas poderiam ter surgido de forma complexa na minha mente, mas não isso, não em relação a ser Flora River. Eu poderia não lembrar da minha real família, poderia não lembrar de fórmulas e regras gramaticais aplicadas no colegial, poderia não me lembrar até mesmo do que fiz há uma semana, mas eu tinha  plena convicção de que Juliet não era meu nome!

Estou sentada próximo a pequena ovelha que havia ganhado de presente, minha única companhia normal no meio desse lar. E, enquanto isso, penso em relação a todas mentiras contadas. Eu encontrei "Flora" escrito com risco de pequenas pedras no revestimento de madeira abaixo da cama,  como se fosse um aviso, como se alguém precisasse recordar, como se estivesse naquele local para que eu não me esquecesse, para que toda minhas lembranças não fossem embora e, por me encontrar tanto tempo em cativeiro, acabasse enterrando a minha verdadeira história para dar espaço para esses fazendeiros sádicos. Mas o que eu faria após isso? O que eu preciso fazer depois de saber que mentiram sobre meu nome?

Levanto com meu coração batendo a mil por segundos, minhas mãos suadas pelo nervosismo incontrolável deslizam pelo vestido xadrez sem vida. Naquele momento, Olivia, a ovelha, se esfrega com sua penugem extremamente macia, suplicando por mais carinho. Meus olhos a encaram por um segundo e sussurro uma promessa, como se ela estivesse correndo o mesmo perigo, eu digo: 'voltarei para te buscar'. Ela era um animal fofo e gentil e eu poderia parecer idiota, mas eu faria de tudo para as autoridades voltarem e tirar ela desta casa.

Deixo que Olivia continue roçando a lateral do seu corpo em minha panturrilha e volto a encarar a floresta. Era densa e escura, perturbadora no mínimo, e o sol já se escondia atrás de seus altos galhos repletos de folhas de todas as tonalidades possíveis. Fugir naquele horário poderia ser uma péssima ideia, penso ao olhar para trás para confirmar se não estava sendo vigiada, a noite estava próxima de chegar, eu poderia cair em armadilhas por só ter a luz do luar como auxiliar de fuga. Eu poderia ser picada ou devorada dependendo do animal que encontraria na mata, poderia estar tão distante da civilização que morreria de fome andando em círculos na floresta antes que qualquer pessoa me encontrasse. Mas, em contra partida, eu não sabia o que a família caipira tinha como plano para mim, se eles me manteriam presa em meu quarto no dia seguinte, se eles investiriam nessa farsa ou se eles me matariam antes que eu pudesse estar sem nenhum ferimento e, também, ficar perdida na floresta a noite poderia ser mais difícil deles me encontrarem do que ao raiar do dis. Eu queria ser impulsiva, apertar meus pés descalços no gramado seco e correr sem olhar para trás, mas antes mesmo que eu pudesse me posicionar de forma adequada, sinto uma mão gelada apalpar meu ombro. Meu corpo salta com a adrenalina e solto um curto berro, o que faz Olivia se afastar dos meus pés de maneira receosa, se assustando junto a mim.

- você está o dia todo aqui! - Edward, o senhor, pede com uma voz autoritária. Meu susto havia me entregado? - entre!

- Eu gosto de... - Forço um sorriso tentando parecer natural (sem alcançar o objetivo), mas sou interrompida antes de terminar minha fala.

- Entre! - O tom autoritário se repete. Olho para Olivia que já está distraída brincando o graveto fora de sua cerca. Penso em pedir para ficar mais um pouco, mas acredito não ser a melhor opção, portanto apenas me agacho e me despeço da pequena ovelha, dizendo estrategicamente que voltaria amanhã para vê-la novamente. Com a esperança que aquela fala para Edward soaria como se eu ainda estivesse aqui amanhã, que eu não teria planos de ir para nenhum lugar. Fiz isso não porque eu acreditava que ele podia ler minha mente, mas eu sabia que não era boa em disfarçar nervosismo, surpresa ou qualquer outra reação volátil.