Quando será que acaba a tortura?
Penso, minha mão cobre minha boca, meu estômago estava se contraído, a ansiedade que eu sentia me consumir me provocava dor, ela surgia assim que eu ouvia o barulho da botina de Edward pisando no lenho do celeiro. Seus pés eram meticulosos, pisando em locais onde o ranger seria abafado por uma madeira de espessura mais jovial que o restante.
Edward sabia que eu estava no celeiro, ele tinha me visto entrar quando eu e Jaspen nos separamos, um pouco depois das luzes da residência serem acessas. E eu sabia que ele desfrutava da adrenalina que sentíamos naquele instante, para ele, era um êxtase provocar o medo em alguém, se deleitava com a feição de espanto e temor estampada na cara das pessoas como se nada fosse melhor.
Edward pressionou seus sapatos pela terceira vez em direção a um amontoado de bugigangas velhas atrás de um trator, trator o qual era cobrido por um imenso lençol que tinha folhas e amadeirado em pó sobre si. Os cupins estavam fazendo um belo trabalho em destruir o teto do celeiro. Permaneço atrás da porta do palheiro, estou pressionada contra ela e o gigantesco amontoado de palha que sapeca meus finos braços. Há um odor com forte presença no local, o cheiro é tão pungente que, ao invadir meu nariz, sinto uma súbita tontura, era consideravelmente desagradável, mas qual parte naquele lugar não fedia carniça?
- Juliet! - Edward grita retirando o lençol do trator com esperança que eu estivesse abaixo dele, seus pés se debatem contra o solo, ecoando junto a sua voz. Sinto meu ombro enrigecer assim que ele vezeira e, junto ao meu estomago que estava prestes a regurgitar, meu corpo se contrai.
Ele bate com as espingarda contra a janela, o abalo não é forte o suficiente para estraçalhar as vidraças, mas faz com que um dos jornais que a cobre se descole e caia como pena ao chão. Me afundo alguns centímetros na palha quando ele novamente resmunga meu nome, retirando meu olhar da fresta que eu usava para analisar seus passos.
- Querida... - Sua voz muda de tom, provavelmente agora Edward está se encaminhando para outro local. Me procurando entre as partes escuras do celeiro. - Não iremos te fazer mal algum, apenas saia de onde você está.
Os passos são lentos, como uma presa que não subestima sua caça, e isso anunciava que ele esperava que eu pudesse contra-atacar a qualquer momento, eu desejei que fosse verdade. A prancha de ferro abaixo dos meus pés se estremece, ele estava caminhando em cima de uma das madeiras retas que levava para o apertado e escuro cômodo que me encontrava. DROGA!
Ele bate com suas mãos contra um objeto de ferro que caí no chão e fica rodopiando até finalmente se estabilizar. Só podia ser a lata de tinta que estava na prateleira lateral do percurso em direção a porta do palheiro, me afundo mais um pouco entre as palhas.
- Juliet... - Edward começa a gargalhar. Eu consigo imaginar seu rosto desarmônico com os lábios tortos, esticados até o fim da linha da lateral de sua mandíbula, consigo ver o osso da maçã de seu rosto exposta indicando felicidade por saber que eu só poderia estar dentro desta maldita porta se afundando entre o sapé. - Saia e seja uma boa menina para o papai.
Engulo seco. Sinto a saliva parar no meio da minha garganta, forço minha traquéia para que ela auxilie o líquido a terminar o percurso antes que eu me engasgue e comece uma sessão interminável de tosse. Não podia acreditar que seria morta em um local tão estreito que mal caberia três adultos pesando 20 quilos, que minha última visão seria as paredes coberta por feltro em um celeiro com o interior corroído por cupins e camadas gordurosas de mofo percorrendo a parede. Ouço os passos de Edward na frente da porta, movimento meu quadril e insiro pela terceira vez meu corpo por dentre a palha.
Sinto algo esfolar meu cotovelo, é diferente da palha felpuda que arranha minha pele, é um conteúdo consideravelmente mais compacto e redigido do que as ridículas palhas poderiam ser. Abro minha pálpebra assim que o sinto mais uma vez, minha mão em declive na lateral do meu corpo é a primeira a procurar pelo objeto no meio do palheiro negrume. Constasto um elemento viçoso grudado entre as paredes rígidas do objeto, é molhado e úmido, como uma gosma grudenta.
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We Are Family, Right?
TerrorApós perder sua memória em um acidente grave, Flora acorda em uma floresta deserta sem se recordar do seu passado. Ela então é recebida por uma família de caipiras que residem naquele local, os quais afirmam que são seus parentes. Entretanto, Flora...