/2/ Não é sempre que se engana a Fiona

255 18 2
                                    

Capítulo 2

Ele tinha aquela sede por sangue nos olhos que sempre me amedrontara. Eu sempre tive vontade de sair correndo de perto dele quando ele me olhava daquela maneira. E daquela vez não estava sendo diferente; lutei contra o instinto de abaixar a cabeça e sair apressadamente de seu caminho. Eu precisava ser forte – ou então, pelo menos, parecer forte.

Podia parecer mais um momento de pura diversão para ele, simplesmente por vontade de causar medo nas pessoas, mas algo em seus olhos diziam que não era só isso. Porque eu sabia que ele não me reconhecera. Sabia, porque caso tivesse, não seria uma expressão de raiva que apareceria em seu rosto e sim, um sorriso presunçoso, como ele sempre fazia. Um sorriso de superioridade, como se eu fosse um cachorrinho coitado que caíra da mudança.

Só que não, ele não me olhava assim. Eu tinha, com certeza, feito algo que o deixara bravo. Aquilo, por mais que eu estivesse fazendo de tudo para esconder dele, tinha me deixado um tanto feliz. Tão feliz que eu ficara com vontade de sorrir.

“Você que é a novata?” Ele perguntou de repente.

Assenti e cruzei os braços, tentando parecer intimidadora. Obviamente não deu certo; ele nem percebera.

“Tire seu carro de lá.” Ele falou ameaçadoramente e apontou para a vaga que eu havia estacionado.

Meus olhos pousaram onde ele estava apontando. Não deixaria que ele falasse daquele jeito comigo; não daquela vez, pelo menos. “Não.”

Ele elevou uma sobrancelha para mim. “Não?”

“É, não. Eu cheguei primeiro, então a vaga é minha.” Eu disse, calma. “Lide com isso.”

Com o passar dos segundos, um grupo grande de pessoas foi se juntando ao nosso redor, como se a nossa briga fosse a notícia da semana. Não que a gente estivesse brigando, estávamos só deixando claro que ele não manda em todo mundo. Eu não ia deixar ele me tratar como uma pessoa inferior.

Sebastian cruzou os braços desafiadoramente. “Sabe, você tem sorte de ser gata, porque eu tenho medo de fazer alguma coisa que possa me arrepender depois.”

“Se eu fosse você, teria mesmo.” Comentei, ajeitando minha bolsa no ombro.

E então o sorriso malicioso que eu tanto estava acostumada apareceu em seu rosto. “Cuidado gracinha.”

E então ele se virou para ir embora, mas no meio do segundo passo, ele parou e voltou a me olhar. “Eu espero que amanhã você não estacione na minha vaga.”

Cruzei os braços de novo. “É uma ameaça?”

Ele revirou os olhos para cima, como se estivesse pensando nas palavras que diria. “É um conselho.”

Antes que ele se virasse e fosse embora, eu me apressei a dizer: “Boa sorte.” E então saí andando, deixando ele, sem a chance de alguma resposta espertinha.

***

Saí da sala de álgebra e estava me sentindo como se tivesse tido um estupro mental. Não entendia como era tão boa em geometria e burra como uma porta em álgebra. Meu sonho era estudar na Columbia, mas com tamanha burrice, não passaria para nenhuma da Ivy League. Guardei meu livro de mil quilos no armário e me senti aliviada quando olhei no horário e li que minha próxima aula seria artes. Eu era boa em artes e me relaxava muito.

A sala não era usual; os alunos sentavam numa pequena arquibancada de três níveis e no fundo da sala havia vários bancos com telas em branco em uns suportes para telas. Olhei em volta examinando os rostos novos e sorri internamente de alívio quando vi um que era conhecido. Me levantei sutilmente enquanto a professora olhava numa pilha de papéis o nosso trabalho do dia e desci um nível da pequena arquibancada para me sentar ao seu lado. Agradeci por ele estar sozinho, caso contrário, me sentiria muito desconfortável em ir até lá.

Ele pediu por isso EM PAUSAOnde histórias criam vida. Descubra agora