12 | Hadria

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— Isso tudo é culpa sua! — Abaddon segura o antebraço da aluna com extrema força. Tinham acabado de passar pelos portais do salão que voltou a ser interditado. Dessa vez, com uma sereia almadiçoada dentro.

— Ai! Abaddon! — Ariadne se desvencilha de seu mestre e este continua a despejar sua ira em forma verbal contra a sereia.

— Amélia vai morrer por causa de uma estupidez sua e...

— Já deu! Tá legal? Ficar me culpando não vai adiantar.

— Droga... Precisamos encontrar as outras duas grávidas.

Depois de algum tempo se encarando, Abaddon prossegue:

— Prepare uma mochila, vamos sair atrás delas.

— E depois?

— Levar elas para um hospital. Um que está sendo criado somente para essa condição em que estão agora.

Ariadne ia para o seu quarto quando novamente é interceptada pelo seu superior.

— E que isso sirva de lição para tomar cuidado com tudo o que faz.

— Eu juro que não tive a intenção de...

— Que você esteja lá fora, me esperando, em cinco minutos.

Dito isso, Abaddon nada para longe, deixando uma sereia entristecida para trás.

— Que droga... o que foi que eu fiz...?

◇◇◇

No mesmo dia, no período da noite, mestre e aluna nadam rumo ao mar aberto. Abaddon se irrita a cada segundo. Olha para trás por uns instantes e repara como a sua aluna bate a cauda cada vez mais devagar.

— Nada mais rápido ou não vamos chegar a tempo.

— Estou indo.

— Parece que está com a cauda quebrada...

— É de tanto nadar...

— Leu sobre a maldição?

— Sim... É muito grave...

— Talvez vamos precisar evacuar o reino inteiro.

— Ah...

"Esse tritão está determinado a me deixar angustiada."

— Nessa missão, vamos precisar de sua espada.

— A minha...!

"Droga. Como dizer a ele que nunca vamos ver nem o punhal daquela arma?"

— Mas por enquanto — Abaddon prossegue sua fala —, vamos focar apenas na busca pelas sereias.

— É... é melhor.

◇◇◇

Passa da meia noite. O diretor da escola de amazonas encontra uma caverna segura o suficiente para repousar. Enquanto não consegue dormir, Abaddon se põe a ler informações sobre as suas alunas desaparecidas. De tudo o que sabe sobre a maldição sobre elas, a mais importante informação era "e quando concebem, a maioria das vítimas nadam até as águas mais quentes, próximas de onde vivem, as águas provindas das fendas mais profundas", Abaddon acha melhor começar a procurar nas fendas e como o reino tem apenas duas fendas profundas de águas capazes de queimar tritões inteiros, a única mais próxima em que elas poderiam estar e que tem mais chances de ser essa, fica a um quilômetro de onde estão. Foram direto para essa.

De qualquer forma, tudo era vago de mais. Elas poderiam estar em qualquer lugar naquele momento pois são vítimas de uma maldição rara. Há poucas informações confiáveis sobre. Quase nenhuma informação pode ser de grande ajuda.

Abaddon sente dor de cabeça. Coloca as tábuas de pedra na mochila e vira o rosto para o lado. Vê a única companheira ainda acordada. Suspira e lhe diz:

— Trate de ir dormir cedo. Não quero ficar te arrastando para onde for.

— Ah... — Ariadne se vira para o lado, ficando de frente para a parede de rocha que os guarda do perigo escondido nas águas turvas da noite. Viaja em pensamentos...

"Abaddon... eu queria que soubesse... Cada segundo ao seu lado está cada vez mais difícil de suportar."

Quanto ao Abaddon, após tomar remédio para acabar com a sua dor na cabeça, lhe resta viajar em seus pensamentos também. Tenta suprimir os anseios de seu coração. Quer gritar e matar Levi. Quer acionar reforços mas não quer ver sua escola fechada para sempre. Quer sumir... quer morrer...

"Aquele desgraçado do Levi... foi melhor ele ter sumido."

Antes de mergulhar no sono, Ariadne susurra com dor no peito...

— Amélia... me perdoa...

◇◇◇

Pela manhã, mestre e aprendiz voltam ao mar aberto.

— Fique por perto. Aqui tem acontecido muitos ataques de tubarões — o mestre avisa.

"Estou tão mal que até virar comida de tubarão me faria ficar feliz..." Ariadne pensa infeliz com tudo o que está acontecendo.

— Abaddon. — Ariadne para de nadar. — Acho melhor eu voltar.

— Você disse que não ia deixar para lá, o que aconteceu...

— Eu sei... eu tenho uma parcela de culpa nisso tudo. Mas...

— Vamos parar para descansar, se ainda assim você achar melhor dá as costas a Eudora, vai poder ir em paz.

— Você sempre faz tudo ficar dez vezes pior.

— E você é a má influência. Acredite.

— Se eu voltar, vou continuar lutando.

— Como? De baixo de um cobertor? Ariadne, pelo menos uma vez na vida coloque isso na sua cabeça: ninguém vence uma guerra sem nunca batalhar... nenhuma vez.

— E quem disse que preciso ficar no meio de um verdadeiro pandemônio para poder vencer? A guerra de verdade acontece longe dos campos de batalha.

— Você sempre com um parafuso a menos.

◇◇◇

Algumas horas depois, mestre e discípula param novamente para descansar. A mochila de Abaddon reluz e Ariadne percebe do que se trata.

— Abaddon! Sua esfera!

Abaddon tira a esfera mágica da mochila e logo aceita a conexão. É de sua amada.

— Amélia, o que houve?

— As sereias que estão procurando foram vistas em uma vila que fica aqui perto da academia. Mas não foi só por isso que liguei, estou precisando de algas raras que o senhor carrega consigo.

— Estou voltando agora mesmo.

— Muito obrigada, mestre.

Assim que a conexão é encerrada, Abaddon se apressa a desfazer o acampamento para retornar a academia. Afinal, ele e sua aprendiz já haviam procurado bastante naquela fenda, usando trajes especiais para não serem mortos com o calor intenso, agora está na hora de procurar em outro lugar e ajudar a única vítima da maldição que ainda está com eles.

— Ah Amélia... — suspira a jovem sereia, se sentindo a pior criatura subaquática dos oceanos.

"Mas que droga... tudo fica cada vez pior... bem pior..."

— Pegue tudo, precisamos sair nesse instante — ordena o mestre da academia de amazonas.

A Sereia Ariadne ▪ A Guerreira SubmersaOnde histórias criam vida. Descubra agora