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Clara não era boba, sabia que algo não estava certo; conhecia sua filha o suficiente para ver sua expressão triste e confusa. A mulher retirou seu casaco e o pendurou, caminhando até o sofá e se sentando ao lado da garota.

-- O que houve, querida? - Perguntou com doçura, pois não queria de maneira nenhuma assustar sua filha. Savannah entortou o canto dos lábios e negou com a cabeça.

-- Eu não sei, mamãe. - Ela disse, tentando discernir o que estava acontecendo.

-- Por que essa carinha triste?

-- Eu... - Seus olhos azuis encontraram o de sua mãe e por um momento ela corou, desviando o olhar para qualquer outro ponto. - Eu não sei o que está havendo comigo.

-- Tente explicar para mim, hm? Quem sabe eu possa te ajudar. - Clara disse, vendo Savannah se virar de frente para ela e assentir com a cabeça.

-- Está bem. - Disse, deixando seus ombros caírem. - Desde que eu acordei no hospital eu gosto da presença da Any, mãe. - Ela confessou. - Mas não é igual antes, com as minhas amiguinhas da escolinha, ela é uma amiga diferente.

-- Diferente como? - Clara perguntou, já tendo uma leve noção do que se tratava, mas mesmo assim querendo ouvir de sua filha.

-- Eu não sei. - Disse em um suspiro frustrado. - Eu gosto de colorir, mas aí de repente não estou mais prestando atenção no desenho, estou lembrando de como ela sorri quando me conta uma estória. Eu estou confusa; eu... - Sua voz se perdeu quando ela começou a chacoalhar a cabeça e seus olhos começaram a tremer, seus cílios piscarem e ela bufar irritada.

-- Calma, filha. - Clara pediu, pegando uma das mãos de Savannah e acariciando.

-- Não. Eu... Eu não gosto disso. A Any ficou brava comigo por isso. - Disse piscando ainda mais, seu rosto levemente corado pela fúria de si mesma.

-- Ela ficou brava? - Clara indagou.

-- Eu acho que sim. - Savannah disse, suspirando pesadamente. - Eu vi alguns filmes onde duas pessoas se beijavam. - Explicou, começando a brincar com os dedos de sua mãe, que não se importou com aquilo. - E eu entendi o que eu sentia quando estava perto dela. Era isso que eu queria fazer, mas eu não sabia antes.

-- E você disse isso a ela?

-- Não. Eu mostrei. - Falou, olhando para sua mãe com a expressão repleta de culpa. - Liga para ela e pede desculpas por mim? Eu prometo de dedinho que não vou fazer mais isso. - Falou levemente afobada. - Mamãe, eu juro que guardo a vontade na caixinha de segredos do coração e não faço mais, mas pede para a Any não ficar brava comigo, por favor...

-- Querida, você a beijou? - Clara ainda estava presa naquela informação, boquiaberta e surpresa demais para dizer qualquer outra coisa.

-- Eu... Não sei o que está acontecendo comigo. - Ela disse tristemente. - Meu cérebro quebrou em alguma das cirurgias e não voltou mais ao normal, mamãe.

-- Querida, o que está acontecendo com você é absolutamente normal. - Explicou brandamente. - E aposto que Any não ficou brava, talvez surpresa.

-- Ela me disse no hospital que também sente as florzinhas. - Confessou cabisbaixa. - Eu pensei que ela... Eu pensei... - Bufou. - Eu não sei o que eu pensei. Eu não gosto de ter o cérebro quebrado. - Clara riu e acariciou os cabelos de Savannah.

-- Seu cérebro não está quebrado. Deixa a mamãe te contar algo. - Clara começou, pacientemente. - Quando eu conheci o seu pai, eu me sentia exatamente igual a você: Confusa. Eu só pensava nele o dia todo e de como ela reagiria a algo que eu lhe contasse.

Em um piscar de olhos (Savany)Onde histórias criam vida. Descubra agora