Marco Antônio

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CAPÍTULO DIMINUÍDO - EM REVISÃO PARA PUBLICAÇÃO  




Quantas pessoas têm fotos do dia que seus pais se conheceram, se apaixonaram e acabaram fazendo amor bêbados a ponto de esquecer a camisinha? Não faço ideia, mas eu tenho. Entendo meu pai ter ficado de quatro pela minha mãe. Era aniversário do tio Dinho e eles foram comemorar em um barzinho no centro do Rio de Janeiro. Tio Dinho é fotógrafo, na época ele era só estudante de fotografia, mas graças a isso eu tenho milhões de fotos da minha mãe e do meu pai. É engraçado isso, tem um pôster no meu quarto com a foto do primeiro beijo dos meus pais. Minha mãe estava linda, ela tinha a minha idade quando eles se conheceram e pelo que eles contam, ela era um terror. Eles estavam parados no meio da pista de dança e o olhar deles é de puro encantamento. Isso, puxei meu pai, sou o idiota romântico da família.

Sempre soube que meus pais não eram casados, que tinham um relacionamento não tradicional, o que não é nada demais. Mas eles sempre foram amigos, e até meus nove, dez anos eu fiz de tudo para juntar aqueles dois. Sonhava ver meus pais juntos, casados, felizes. Aí minha mãe naquele jeitão prático dela me explicou que eles eram muito felizes e que isso não mudaria estando eles juntos ou não. Que eles se amavam muito, mas que isso não queria dizer que eles precisavam se casar. Não entendi nada, mas resolvi parar de aporrinhar. Até porque eu fui suspenso do colégio dois dias depois. Eu e o Júlio.

Todo mundo já sabe que meu pai é irlandês. Típico irlandês. Ele é ruivo. Minha mãe é morena, ela tem cor de caramelo, daí um dos motivos de meu pai chama-la de Docinho. E eu não tenho nada da minha mãe. Sou branco feito uma folha de papel, meus pelos, cílios, cabelos, tudo é vermelho alaranjado. Meus olhos são mais verdes do os do meu pai. Três segundos de sol e estou parecendo um sinal de trânsito. Mas eu amo praia, sol e mar aberto.

Minha mãe sempre fez todo o possível para me proteger da zoação das outras crianças, acho que ela sofreu quando era criança e não queria que eu passasse pelo mesmo. E vamos combinar que ser ruivo no Brasil e ter um sotaque estranho; juro, não fazia por mal, mas falava tanto em gaélico (nem imagina o que é, né? É o que falam na Irlanda, tá bom, menos de 10% da população fala isso, mas minha família inteira se comunica em gaélico) com meus primos, que meu português tem um sotaque muito estranho se você prestar atenção.

Eu e o Júlio estudávamos em um colégio longe para caramba de casa, mas era um colégio com muitos filhos de estrangeiros, mesmo assim éramos apenas dois ruivos, eu e um outro moleque, filho do cônsul da Inglaterra. Um dia um moleque mais velho que a gente viu minha mãe nos deixando no colégio e começou a implicar. As primeira piadas eram sobre o fato da minha mãe ser na verdade minha babá. Ela já tinha conversado comigo e eu não liguei, não muito pelo menos. Mas o menino foi ficando mais ofensivo, falando coisas muito feias sobre minha mãe. Até o dia que ele disse que minha mãe me sequestrou, que ela era uma ladra de crianças e que eu devia ter uma família branca muito triste em algum lugar chorando sangue (porque é vermelho como meu cabelo) porque eu fui roubado. É que se eu fosse esperto já teria percebido que ela era má e que eu deveria voltar para a ruivolândia e ficar com todos os outros ruivos do mundo.


Um dia de solOnde histórias criam vida. Descubra agora