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BARÃO

A vida é foda mermo. Marina voltou. Quando ela saiu daqui, saiu da nossa casa, eu jurei que aqui ela não pisava mais, foi escolha dela meter o pé daqui e me largar, largar a família. Qual foi, eu errei? Errei pra caralho. Mas precisava disso? Claro que não. Depois vem metendo o papo de amor, amor, amor, amor o caralho. Não acredito em amor, não acredito mais nisso, nas purezas das pessoas a troco de nada.
Marina é foda. Age como se ainda tivesse alguma moral em cima de mim, em cima de algo e por ela tudo bem.

— Sabendo que o patrão tomou esculacho da patroa. — Neguinho gastou sentado na cadeira enquanto olhava pro telão. Dia de jogo só Flamengo, aquelas coisas, tô como? De lazer hoje.
— Que patroa? - perguntei encarando ele.
— Marina voltou né? Tá agindo ali já? — Pedrinho perguntou. Olhei serinho pra ele, pau no cu do caralho.
— Falar uma vez só e espero que vocês entendam. — falei calmo. — Não quero saber de porra de nome dessa vagabunda. Não quero saber de ninguém de graça pro lado dela, próxima piadinha eu passo fogo sem dó.

O assunto morreu ali. Desce gelo. GK me olhava em negação com a cabeça, fiz um gesto com a mão pra ele pro mesmo esquecer isso e continuei bebendo enquanto assistia ao jogo. Meu celular em cima da mesa vibrou, era a Brenda, rolo antigo, uma das primeiras que eu trai a Marina na época do meu casamento e tamo aí até hoje, fazer o que.

Brenda: tô sabendo que a piranha voltou.
Tô de olho Barão, não vem querendo me passar pra trás não.
Barão: sou algo teu, Brenda?
Sou porra nenhuma!
Enche meu saco hoje não!

Sai fora! Hora dessas querendo me mandar, tô nem entendendo.
Vacilei com a Marina, eu não nego isso e não nego que me arrependi todos os dias ao longo desses dois anos que se passaram, mas, se engana que acha que eu não tenha ressentimento por ela simplesmente ter virado as costas e irmão, eu não entendo, não entendo em como um dia alguém fala que tá com você pra tudo e no outro some da tua vista sem mais nem menos.

Passava das duas da manhã. Eu havia tirado o dia pra lazer e não me importei em afundar o pé hoje em bebida e droga, era a segunda carreira de pó que eu cheirava, olhei pro lado e o GK olhava em volta, era meu segurança, meu irmão da vida e eu confiava cegamente no filho da puta.
— Bora Barão. - ele disse dando dois tapas nas minhas costas. — Postura porra. Tá cheirando na frente de morador, bebendo pra caralho, falando alto, tem nem porque disso, bora.
— O caralho! Vou sozinho porra, não preciso de babá não. — resmunguei. Levantei cambaleando e caminhei direção a moto preta que me esperava.
— Sem problemas, vou atrás de tu. — ele disse indo na moto que era dele.
— Uma porra. Não quero ninguém atrás de mim. — falei me virando pra todos ali que me encaravam. — Se tu vier, eu mato você. - apontei o dedo na cara dele.

Sai dali em segundos, ia pelas calçadas, cortava pelos becos e então parei em frente a casa dela. Vê só, tem nem doze horas que a filha da puta voltou e eu tô no portão dela berrando e buzinando, foda-se se tô acordando a rua toda.

— Porra é essa, William. - ela saiu no portão. Usava uma camisola preta de alça, devia ser seda aquela merda. Os peitos firmes e redondos me chamaram atenção, as coxas grossas a mostra, a boca vermelha e carnuda. Filha da puta gostosa!
— Quero tu fora do meu morro. — falei descendo da moto e indo em direção a ela.
— De novo? - falou me encarando. — São duas e pouco da manhã, minha avó amanhã tem quimioterapia, eu preciso descansar. — falou baixo, firme.
— Foda-se Marina. - falei num sussurro. — Abre essa merda. - me referi ao portão.
— Óbvio que não.
— Abre porra. — alterei o tom de voz. Vi ela respirar fundo e então destrancou o portão. Entrei rápido e agarrei a mesma pelo pescoço apertando os dedos ali. No susto ela perdeu o ar de imediato.
— Me solta. - disse rouca. Apertei então mais meus dedos.
— Tu acabou comigo, filha da puta. Me largou e nem olhou pra trás. Por mim, eu matava tu agora mesmo. — desci o olhar pros peitos dela que no movimento que fiz ficaram pra fora da camisola. Soltei seu pescoço e ela encostou na parede, arfando e arrumando a roupa.
— Me deixa em paz, William. — pediu baixo. - Roupa suja a gente lava em casa e hoje não é dia.
— Que mané casa. — ri debochando. — Eu quero tu fora daqui, Marina.
— Mas eu não vou! — foi firme.

Encarei ela. Marina era foda mermo! Ela não abaixava pra mim, me encarava de igual pra igual e eu sabia que ela tava puta pra caralho por eu ter apertado o pescoço dela.

— Em dez anos de relacionamento, você nunca nem levantou a mão pra mim, o que te faz pensar que agora você tem o direito sequer de avançar em mim e me expulsar daqui? — perguntou baixo. O rosto dela tava próximo do meu, me encarava serinha, sorria como se fosse cravar as unhas no meu rosto.
— Não somos mais nada um do outro. — respondi.
— Exatamente. Não sou essas piranha do caralho que você viveu comendo enquanto tava comigo que você acha que pode me tratar igual elas. Eu sou eu. Sou a mulher que enfrentou presídio por tua causa, que ouviu desaforo, que te ergueu nessa porra aqui William. Esqueceu que fui eu que corri em missão com você? Que fui cobra traiçoeira com parceiro teu pra tu pegar porra de comando? Foi pra mim que apontaram arma na cabeça, fui eu que entrei na frente de fuzil pra salvar você enquanto você escolhia porra de favela ao invés de mim. Escolhia se enfiar em quartinho com piranha e com droga, com parceiro. — falou baixo, mas o tom dela era de raiva e irmão, qualquer um sentia aquilo. — Era eu ali contigo. No mínimo você deveria respeitar minha avó e me respeitar. Fui embora porque eu não aguentava mais ter sido rebaixada de esposa pra nada em segundos. Poder subiu na mente não foi? Tu esqueceu que graças a mim, tu tem poder na favela hoje.
— Graças a você o caralho. - resmunguei. Eu sabia que era verdade, mas tu concordou? Porque u não.
— Vai embora William. — pediu. - Você é perca de tempo. Eu vou me virar, pedir, implorar pros meus avós voltarem comigo pra VK e tu não vê mais a gente.
— Voltar pro cuzão que tá esperando você, Marina? — falei rindo.
— Vai pro inferno William.
— Só se tu for junto, diaba. — debochei.

Ela me encarou e não disse mais nada. Perca de tempo. Dei as costas a ela e montei na moto e sai dali. Marina entrava na mente, a boca, o corpo, a expressão, os peitos que eu sempre amei, vai tomar no cu. Enviada do caralho, mandadona, eu perdia a postura perto dela irmão.

PRIMEIRA DAMA.Onde histórias criam vida. Descubra agora