O Despertar: Caos Sagrado - Capítulo Dahlia [FINALIZADO]

V - "Aceitação" [ATO III - FINAL]

(Obs.: A tradução do diálogo em esperanto / latim está nos parênteses logo ao lado do texto)

[ATO III - FINAL]

A Mulher se derrama em lágrimas, mas desta vez eu posso ver que não é por tristeza ou perda, são provenientes de uma frivolidade salutar misturada a um sorriso como nunca o fizera antes, algo que seu Eu Real jamais se permitiria.

Em verdade digo a vocês: Aprecio interações humanas de afeto. Eu as compreendo bem apesar de não ter sabedoria plena sobre estas em sua totalidade. Ela o contemplava semelhante a um ser vivo antes cego e, por milagre, começou a ver o mundo pela primeira vez em êxtase.

O preocupado homem estende a mão até o rosto da amada enxugando-o. Ela, por sua vez, pega com suas duas mãos a mão dele e deita a própria face nela. Fechando os olhos, por um instante, segundos após Ela beija a mão de seu parceiro.

Desviando em seguida o olhar para seu cônjuge a mulher faz um gesto batendo bem devagar na cama para que Ele chegue mais perto dela. Ele se ergue e se ajeita no leito junto dela. Com grande emanar de afeto a mulher abraça-o pela cintura colocando a testa em seu ombro e Ele dá um beijo no topo de sua cabeça a fim de confortá-la:

- Não se preocupa com nada... Eu estou aqui, tudo já passou. Aí, não foi uma má ideia continuar pagando aquele Plano Premium que você queria que eu cancelasse né? Heheh! Acabou servindo!

Soluçante, Ela o aperta ainda mais em seus abraços:

- Eu sei... Por favor... Me desculpa por não ser tão boa em ver as coisas sabe? Às vezes pareço que durmo para a vida toda e sou outra pessoa que não quero ser... É complicado e não sei explicar bem... Mas to sendo muito, muito sincera em te pedir perdão por ser quem sou...

- Dahlia! Pelo amor de Deus mel, Esquece isso ta bom? O que importa é que você tá aqui comigo de novo! Se eu te perdesse, Meu Deus, não, só... Não! Nossa... Jesus só to imaginando, mas confesso que achei que ia te perder pra sempre, foi uma loucura! Hahah! Mas Deus foi bom pra gente e permitiu esse primeiro milagre de hoje.

- Deus é amor não é mesmo? Hahah... Eu gosto quando você me chama de "Mel".

- Mas é isso que você é: Você é meu Mel. E Eu amo muito você sabia? E muito mais agora. Eu sempre vou estar aqui pra você, seja você quem você quiser ser.

Enquanto está de olhos fechados, abraçada ao seu Marido, Dahlia inconscientemente entra numa das fases de pré Despertar. Ela sente como se vozes, as mesmas que ecoaram abaixo das nuvens negras, estivessem chegando aos ouvidos dela uma vez mais.

A impressão que a Mulher tinha era de que estas vozes estavam muito perto dela e do Marido. Parecia que falavam de um jeito que todos ouviriam.

"Regina nostra... Veni ad nos, servi sumus..."

(Nossa Rainha... Venha a nós, somos servos...")

Eram muitas vozes. Iniciaram como em tom normal iam falando cada vez mais alto, chamando-a. O que a assustou e fez com que rapidamente abrisse os olhos.

- Eu também Vou sempre estar aqui pra você Natã, Eu Te amo.

Natã fica imensamente feliz ao ouvir tão gentilmente, e pela primeira vez parecendo verossímil, esta frase. Há um poder indescritível que aflora nos humanos ao ouvir essas palavras.

- Então, minha linda dos cabelos de fogo, Eu preciso te contar sobre uma outra coisa legal...

Natã pega uma prancheta de cor vermelha que estava do lado do leito em uma cama. Está escrito no topo da folha a mensagem "Testes Da Paciente DHA-17-2". O Cônjuge de Dahlia ia falando e virando as páginas da prancheta enquanto sua voz parecia sumir na mente da mulher que só ouviu uma frase inteira vinda da boca do Marido, ao fim da última folha.

- Um monte de milagre num dia só: Agora nós somos em quatro! Não é incrível? Eu vou ser pai, que maravilha!

Ela o abraça e novamente a voz dele diminui em seus ouvidos e mente, porém o Homem continua falando normalmente sobre como está contente com a notícia. Dahlia não pode ver e nem consegue sentir, mas, naquele instante, os pontos do ferimento da Bala em sua testa são cobertos vagarosamente pela pele para dar lugar a um pequeno ponto escuro ao centro.

Parte do cabelo da Mulher cobre o rosto dela. Isso é devido a seu Marido balançar Ela devagar, dum lado para o outro em um abraço expressando muita afeição. Dahlia parece novamente hipnotizada enquanto coloração dos olhos dela é modificada para o mesmo tom rubro pertencente aos olhos do Imundo em forma sua humanoide...

- Aaaah Dahlia estou tão feliz, cara, sempre sonhei em ser pai! Vai ser ótimo!

Ao proferir esta frase Natã parece ter conseguido levar Dahlia de volta ao seu Eu que Ele conhecia, que para ele era o real. Ela solta bem devagar seu Cônjuge, tirando os cabelos da face. Os olhos cor de sangue haviam sumido e Ela acaba por concordar com a frase dita pelo Marido, sorrindo e balançando a cabeça em gesto positivo.

- Vai sim amor, Eu vou ser a melhor mãe do mundo, mãe de dois anjinhos!

Ambos colocam as mãos na barriga de Dahlia e acariciam aquele ventre que carregava duas almas distintas... Após um breve silêncio de calorosa contemplação o casal troca olhares afetuosos e há um breve beijo. posteriormente, ao término do gesto, seus olhares se cruzam. Suas almas estão em perfeita sincronia quando juntos dizem um para o outro:

- A gente consegue, Eu acredito em você!

Em seis de julho de mil novecentos e oitenta e seis, as seis horas, sete minutos e trinta e três segundos de domingo nasciam os irmãos Lúcia e Christian. A menina tinha cabelos avermelhados como a mãe e o menino cabelos castanhos como o pai.

O momento de imensurável alegria do casal me recordou da passagem do intrigante livro de gênesis. Assim fora escrito: "...Disse Deus: 'Haja luz', e houve luz. Deus viu que a luz era boa, e separou a luz das trevas. Deus chamou à luz dia, e às trevas chamou noite. Passaram-se a tarde ­e a manhã; esse foi o primeiro dia...".