Prologo

245 13 0
                                    

Tanta coisa podia ter sido diferente.

Imagine se ela não tenha esquecido o livro. Não teria que voltar correndo para casa enquanto a mãe esperava no carro, com o motor soltando fumaça no ar quente da tarde. Ou mesmo antes: imagine se ela não tivesse experimentado o vestido. Não teria percebido que as alças estavam muito compridas, e sua mãe não precisaria pegar o antigo kit de costura, nem transformar a mesa da cozinha numa mesa cirúrgica para tentar salvar o pobre pedaço de seda lilás no último minuto. Ou mais tarde: se ela não tinha cortado o dedo com o papel na hora de imprimir uma passagem, se não tinha perdido o carregador do celular, se não desejamos enfrentar o trânsito até o aeroporto. Se não tivessem errado o caminho e se ela não tivesse demorado a achar o dinheiro do pedágio - as moedas caíram embaixo do assento e os passageiros nos carros atrás delas buzinaram sem perdão.

Se a rodinha da mala não tinha emperrado. Se ela tiver corrido mais rápido até o portão de embarque. Talvez os atrasos no decorrer do dia sejam apenas detalhes, mas, se não fosse por eles, teria sido por causa de alguma outra coisa: como as condições do tempo no Atlântico, a chuva em Londres, as nuvens pesadas que ficaram muito tempo no ar, antes de se dissiparem. Lisa não acredita em coisas como acaso ou destino, mas também jamais acreditou na pontualidade das companhias aéreas.

Quando é que um avião consegue sair na hora?

Ela nunca havia perdido um voo na vida. Nem uma vez. No entanto, quando chegou ao portal à noite, encontrou os atendentes fechando a entrada e desligando os computadores. O relógio marcava 18h48, e lá fora o avião parecia uma fortaleza de metal. Ficou claro na expressão dos funcionários que ninguém mais entraria naquela coisa.

Ela estava quatro minutos atrasada, o que não parece ser muito. É o tempo de um comercial, de um intervalo entre aulas, de descongelar um prato no microondas. Quatro minutos não é nada. Todo santo dia, em qualquer aeroporto, há pessoas que estão atrasadas para o seu voo. Chegam respirando de forma ofegante e se jogam no assento, aliviadas por estarem ali.

Mas não Lalisa Manoban, que, de pé diante da janela, deixa a mala cair no chão e observação o avião se distanciando da rampa semelhante a um acordeão, com as asas girando enquanto a parte da frente se direciona para a pista de decolagem sem ela.

No outro lado do oceano, seu pai brinda uma última vez, e a equipe do hotel - todas de luvas brancas - cuida dos talheres de prata para um serviço da noite seguinte. Atrás dela, a garota com a passagem para o assento 18C no voo seguinte para Londres come rosquinha, sem notar os pedacinhos na camiseta azul. Lisa fecha os olhos só por um momento. Ao abri-los novamente, o avião não está mais lá.

Quem diria que quatro minutos pode mudar tudo?

A Probabilidade e Estatística do Amor a Primeira Vista - AdaptaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora