Capitulo 9

65 6 0
                                    


07h52 Hora da Costa Leste - 12h52 Hora de Greenwich

Era uma vez, há milhões de anos, quando Lisa era pequena e sua família ainda estava intacta, um fim de tarde de verão como outro qualquer, no qual os três estavam no jardim da frente da casa. Não havia mais luz do sol e vários grilos cantavam ao redor deles. Mamãe e papai estavam sentados nas escadas da varanda, ombros unidos, rindo ao ver Lisa caçar vaga-lumes no canto mais escuro do jardim.

Cada vez que chegava perto, as luzes amarelas desapareciam de novo, então quando finalmente conseguiu pegar um, era quase como um milagre, como uma joia em sua mão. Ela segurou o inseto com cuidado e voltou para a varanda.

— Me dá a casinha de insetos? — pediu, e a mãe pegou um pote de geleia.

Fizeram buracos na tampa do pote, que agora estava cheia de furos tão pequenos quanto as estrelas no céu. O vaga-lume brilhou loucamente dentro do vidro, batendo as asas com força. Lisa colocou o vidro perto do rosto para examinar o bicho.

— Esse é dos bons — disse o pai. A mãe concordou com a cabeça.

— Por que é vaga-lume e não vaga-luz? — perguntou Lisa olhando com atenção.

— Bem — disse o pai com um sorriso —, por que as joaninhas são chamadas de joaninhas se o nome delas não é Joana?

A mãe virou os olhos para cima e Lisa deu uma risada. Ficaram olhando o inseto se debatendo nas paredes do pote.

— Lembra quando fomos pescar no verão passado? — perguntou a mãe mais tarde, quando já estavam entrando para dormir. Pegou a menina pela camiseta com carinho e a puxou de volta até que estivesse sentada em seu colo. — E devolvemos o peixe para a água, lembra?

— Aí o peixinho conseguiu nadar de novo.

— Isso — disse a mãe e apoiou seu queixo sobre o ombro da filha. — Acho que este vaga-lume também ficaria mais feliz se você o soltasse.

Lisa não falou nada, apesar de segurar o jarro com mais força.

— É aquela velha história — disse o pai —, se você ama alguém, deixe que se vá.

— E se não voltar?

— Alguns voltam, outros não — respondeu e apertou o nariz da filha. — Eu sempre vou voltar.

— Mas você não tem luz — explicou. O pai sorriu.

— Quando estou com você, tenho sim.

No final da cerimônia, a chuva já havia quase parado. Mesmo assim, há uma quantidade impressionante de guarda-chuvas pretos lá fora, protegendo da névoa incessante e fazendo com que o quintal da igreja pareça mais o local de um enterro que de um casamento. Os sinos tocam tão alto que Lisa sente as vibrações embaixo dos pés ao descer as escadas.

Assim que foram declarados marido e mulher, Charlotte e o pai de Lisa caminharam de forma triunfante até o fim do corredor central da igreja, onde desapareceram. Até agora, 15 minutos depois de terem selado a cerimônia com um beijo, Lisa não sabe onde estão. Anda sem rumo pela multidão, imaginando como seu pai podia conhecer tanta gente. Ele viveu a vida inteira em Connecticut e tem poucos amigos lá; dois anos na Inglaterra e agora parece ter uma vida social intensa.

Além disso, a maioria dos convidados parece figurante de cinema, parece ter vindo de outra história. Desde quando o pai anda com mulheres que usam chapéus elegantes e homens de colete, vestidos como se fossem tomar chá com a rainha? Aquela cena — e mais o sono, causado pelo fuso horário — faz com que Lisa sinta como se estivesse sonhando, como se estivesse atrasada o tempo todo, tentando acelerar, mas sem sucesso.

A Probabilidade e Estatística do Amor a Primeira Vista - AdaptaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora