Capítulo 1 - Ravena

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- Carlos Dias, 37 anos, FAB no hipocôndrio esquerdo. FC 145, FR 40, saturando 94% e PA 80x30.

Ravena mal colocara o avental descartável sobre o pijama cirúrgico e a paramédica já adentrara as portas da emergência falando.

- Trauma 2, você sabe onde é. Eu já estou indo. - Falou ela terminando de amarrar a máscara cirúrgica. - ALGUÉM CHAMA A SOFIA!

Ela calçou as luvas e se moveu a passos rápidos até onde o paciente já fora posicionado. Em questão de segundos Ravena avalia um paciente ainda consciente, porém visivelmente confuso, pálido, recebendo oxigênio por máscara não-reinalante, ainda sobre a prancha e com colar cervical e recebendo fluido por acesso venoso. Sofia chega e para ao lado da médica.

- Podem transferir ele. - Ela pede aos paramédicos. - Sofia, eu preciso de hemograma completo, plaquetas, gasometria, tipagem, toxicológico, uréia, creatinina, TGO e TGP e faz um ECG também. Ah, e avisa o bloco que estamos subindo também. E três bolsas de O-. Raio x não vai dar tempo, eu faço uma ultrassom rápida no bloco.

- É pra já, Ravena.

Enquanto a amiga se afasta, Ravena se aproximava do rosto do paciente recém transferido. Os paramédicos acenaram brevemente para eles e partiram. Os olhos de Carlos pareciam olhar para todos os lados, assustados. Ele balbuciava qualquer coisa inintendível e tentava mexer as mãos e os pés para qualquer lado.

- Carlos, eu sou a Drª Ravena. Eu vou cuidar de você, ok? Eu só preciso que você fique parado um pouquinho.

Ela afastou a camisa de botões já aberta e começou a ausculta pulmonar. Enquanto se concentrava nos sons, seus olhos observaram o técnico que começava a ecocardiografia. Depois de alguns segundos, auscultou o abdome do homem. Observou o curativo já encharcado que fazia pressão sobre a ferida e a extensão abdominal do mesmo. Percebeu que, a palpação, Carlos se contraiu quando chegou perto do ferimento e entendeu a resposta a dor. Após avaliar tudo, incluindo o resultado do exame, Ravena vira-se para a bancada atrás de si e prepara uma seringa. Quando vira-se novamente para o paciente, percebe do outro lado da maca Sofia coletando o sangue, o técnico preparando uma solução de Ringer Lactato aquecida (provavelmente a mando de Sofia) e um rosto novo para ela.

- Precisa de ajuda, drª?

- Quem é você? - Ravena usa os dedos para contar os intercostais do paciente.

- Eu sou Gabriel, o novo enfermeiro. Hoje é meu primeiro dia. - Ele falou aquela última frase com orgulho, deixando um grande sorriso desenhar seus lábios. Ravena observou-o por cima da máscara e franziu o cenho.

- Bom, Gabriel, esse é o Carlos. Ele levou uma facada e agora está quase chocando. Está vendo o abdome distendido? Ele precisa de uma punção de alívio. Eu pediria pra você preparar ela para mim, mas a julgar pela sua falta de EPI próximo ao paciente vou chutar que você não tem experiência alguma com paciente de trauma e dizer pra você só observar e aprender.

Pelo canto do olho ela viu o sorriso desaparecer. Não tinha a intenção de estragar a alegria do novo colega, mas zelava demais por seus pacientes para deixar um erro como esse passar. Então, ela cuidadosamente aplicou a injeção de lidocaína e mais gentilmente ainda retirou a agulha.

Virou-se novamente para a bandeja e segundos depois voltou-se para o enfermeiro com um cateter intravenoso em uma mão e uma seringa na outra. Acoplou os dois e novamente firmou os dedos no lugar da punção.

- Traz essa cuba rim que tá atrás de você. Eu vou fazer uma aspiração negativa agora e quando tirar a agulha vou precisar de um lugar pro líquido sair.

Quando o coração paraOnde histórias criam vida. Descubra agora