DECISION | Daniel Ricciardo

DECISION | Part II

"Não importa quanto tempo ou quantas pessoas passaram por nossas vidas desde o adeus. A partir do momento em que nossas almas se cruzaram, elas nunca esqueceram o caminho de casa."

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Eu tremia. A palma das minhas mãos suavam deliberadamente - uma reação completamente inédita do meu sistema nervoso, até então. Meu corpo chacoalhava como se alguém estivesse com as mãos repousadas em meus ombros, me balançando copiosamente. Nem mesmo a superfície fria do vidro da janela, em que me encontrava apoiada, conseguia me acalmar ou, pelo menos, trazer algum alento. Os braços cruzados na altura do meu torso só entregavam o quanto a ansiedade me corrompia de forma dilacerante. As batidas do meu coração eram semelhantes ao ritmo cardíaco de um maratonista sem qualquer tipo de preparo físico, era possível ouvir na outra ponta do quarto. E era rigorosamente a forma na qual me sentia. Sufocada. Sem amanho.

Do lado de fora da janela, os foguetes coloriam o céu da ilha de Yas. Eram como centenas de estrelas brilhando ao mesmo tempo em diferentes tons. O show visual indicava o fim. E o começo. O recomeço. Eles tornavam-se, a partir daquele momento, a esperança. A centelha de um sentimento que nunca havia sido apagado, apenas coberto pelo costume. Afinal, o amor se aloja em camadas tão profundas do nosso ser, nos fazendo esquecer, muitas vezes, que um dia fomos capazes de senti-lo. De sentir com cada milímetro palpável da alma. De se entregar. Viver. Amar. Mas eu tinha a certeza de que estava ali dentro de mim, pulsando, querendo transbordar e me encontrar novamente em sua forma mais plena: materializada e externada em alguém. Nele.

Os dois minutos que restavam e prendiam nossos caminhos de cruzarem novamente a mesma rota pareciam a eternidade. A cada segundo corrido no relógio eu sentia a presença dele. Eu escutava a risada acalentadora cada vez mais perto e via, da forma mais clara e límpida, o sorriso que trazia incontáveis dentes brancos e perfeitamente alinhados na boca suavemente carnuda do homem que eu amava loucamente. O ponteiro corria como se quisesse prolongar uma espera que se arrastava por quatro anos, como se 1460 dias distante fisicamente não fossem suficientes. A forma como a contagem seria interrompida ainda parecia um presente, cuidadosamente, desenhado pelo destino.

Foi preciso a minha vida ser completamente revirada, pela segunda vez, para que acontecesse. Perder minha mãe de forma tão repentina, para um infarto fulminante e cruel, me fez entender que a vida nos dá oportunidades e cabe a nós, somente a nós, compreender que é preciso vivê-las, arriscar sem medo ou amarras. E foi dessa forma em que pousei nos Emirados Árabes, há seis meses. Livre e pronta para dar um passo importante na minha carreira como arquiteta. Porém, as peças que o destino nos prega de forma sorrateira são sempre a parte mais excitante da vida. Eu sabia que ele estaria aqui para a última corrida do ano e o bilhete escrito à mão, cruzando por baixo da porta do quarto no hotel em que seguia instalada, na noite anterior, sem aviso, sem alarde ou qualquer demonstração de como, indicava que ele também sabia que eu estava ali.

"Eu sei que as palavras não mudam e eu sei que seu coração continua doendo...Eu quero o seu amor e eu quero muito.

Ainda não acabou.
D.R."

E então, a batida rápida com dois toques na porta, antecedeu a epopeia. O curto caminho da janela até a entrada foram suficientes para trazer à tona, em minha memória, o dia em que dizemos adeus. O instante em que ele entrou no avião e, sem olhar para trás, se foi. Porém, nada disso me importava mais, pois foi naquele minuto em que eu o vi. Eu abri. Não só o acesso ao cômodo, mas o meu coração, a entrada que devolvia Daniel Ricciardo para a minha vida. Ele estava ali. Os poucos segundos que pairaram antes dos movimentos seguintes, foram o bastante para que meus olhos encontrassem os dele e mergulhassem na coloração castanha esverdeada de suas íris, brilhantes como uma joia.